tumblr_mhi0baoNjG1r1csg3o1_500_largePois bem, resolvi voltar à academia. Não porque eu quero, obviamente. Mas a sociedade me oprime, e sou forçada. Já havia me dado conta há alguns anos que das poucas certezas que eu tenho na vida (preciso respirar, vou engordar e vou morrer) a única mais difícil de se esquivar do que a morte é a vida fitness. Primeiro porque virou uma epidemia, começou com alguns dos meus amigos malhando por saúde, e de repente, se tornou uma geração inteira abandonando empregos, faculdades, cidades, cônjuges e filas de drive thru do McDonalds, falando sobre superação, força e foco e se autointitulando adeptos a um novo estilo de vida. Para todos esses, só tenho uma coisa a dizer: NÃO ESTOU DISPOSTA.

Então, não adianta, eu malho por estética – ou na humilde esperança de não piorar o que a genética me condenou. Ok, eu também malho por saúde, o sedentarismo estava me matando aos poucos. Não gosto e, principalmente, não vejo mérito algum nessa filosofia de vida. E admito sem o menor pesar na consciência. Aliás, devo acrescentar que eu DETESTO quando me deparo com um cara que só fala sobre treino, músculos e batata doce. Honestamente, pra mim, ele é como aquelas pessoas que “pregam a palavra de deus” em qualquer lugar, a qualquer hora e aos berros. Em outras palavras, inconveniente. Você só deve falar pra quem quer ouvir, quem procura ouvir. Não é meu caso. Perdoe. Prefiro um cara que malha só pra não ter o condicionamento físico de um velho de 70 anos (contanto que não tenha problemas de obesidade e afins) e exercita a mente com a curiosidade de uma criança de 12. Uma ficha de academia não tem o mesmo peso de um diploma, queria só dizer isso.

Inclusive, já saí com um indivíduo bem característico desse meio (big mistake!) que me perguntou assim:

-Aí, cê tá afim de comer carboidrato ou proteína?
– Não sei. Talvez sushi. Mas pizzazinha também me cairia bem. – tentei ignorá-lo pra ver se passa.
– Ó, se for sushi a gente pode ir depois do filme, mas se for pizza tem que ser agora porque depois das 20h não como mais carbo. Sabe, ne? – passou a mão no próprio abdômen – Manter a forma. – deu uma piscadela.

Fiquei tão chocada que passei um minuto em silêncio por minha alma que morreu de desgosto. ATÉ QUE PONTO CHEGAMOS, BRASIL!!!

Prefiro morrer, mas obrigada pela sua companhia, fofo.
Prefiro morrer, mas obrigada pela sua companhia, fofo.

Acredito que eu não seja a única que me sentir chicoteada no mármore do inferno quando tem que fazer agachamentos guiados, já que minhas próprias amigas admitem que isso não é vida. São satisfeitas com o corpo, mas não com o que fazer pra tê-lo. Mas é aquela coisa, pra ter resultados precisam haver sacrifícios. Cada qual com suas prioridades, não é mesmo? E você se acostuma, isso é um fato.

O que me lembra aquela Bella Falconi que, por acaso, eu achei no instagram um dia (quando estava tentando me motivar a malhar) e decidi segui-la por causa de seus textos, e não por suas fotos, a propósito, horríveis. O corpo dela, ao meu ver, era medonho. Mas cada um com seus cada qual, enfim. Daí um dia ela publicou um textão falando que às vezes era chamada de louca porque não bebia (até aí, tudo bem) e LEVAVA CARBOIDRATO EM GEL PRA BALADA. Car-boi-dra-to-em-gel. Sério. QUE BOSTA É ESSA?!

Eu, particularmente, tenho um defeito que me acarreta vários inimigos: não me interesso por gente muito conservadora. Gente que não bebe, não fode e não fica muito doido, eu já olho torto. Como confiar em alguém assim? (Tenho uma teoria de que pessoas que não experimentam essa vulnerabilidade em relação as suas atitudes causada pelo álcool temem a si mesmas e até onde podem chegar). Mas, contanto que seu conservadorismo não me recrimine, nem tente justificar qualquer infelicidade da vida alheia com a frase “mas é porque ele não é como eu”, ficaremos bem. Aliás, podemos até ser grandes amigos, afinal, o nome disso é respeito mútuo. Ou cada um no seu quadrado.

Então, eu achei a tal da Bella o cúmulo da alienação em prol da estética. Porque, JAMAIS NA GALÁXIA, o estilo de vida que ela tinha envolvia saúde. Tem um nome pra isso, sabiam? Vigorexia. Ela chegava a levar batata-doce para restaurantes, não colocava molhos nas saladas para não engordar e enxugava o frango no guardanapo mesmo que ele fosse apenas grelhado. Mas quem sou eu pra falar, afinal de contas? Também sou obcecada por emagrecer e já usei métodos completamente errados para isso, porém esse é um assunto pra outro texto. “Disciplina é algo que você odeia, mas mesmo assim o faz como se estivesse adorando”, já disse Mike Tyson. (Ou talvez Clarice Lispector. Não dá pra confiar no Google).

Vamos em frente…eis que um dia ela simplesmente LARGOU esses hábitos. Segundo a Bella, estava escrava do seu corpo. Sabia! Até porque se meus regimes também funcionassem, eu não precisaria usar táticas cada vez mais drásticas a cada tentativa. Contudo, insanamente eu não desisto. Mas essa é vida é muito longa pra não se ter prazer algum, e muito curta para aproveitar todos. Uma hora, você surta. Fato. Principalmente,  no mundo virtual que vivemos: somos o que curtimos, o que aparentamos, o que seguimos. Honestamente, quando olho o instagram de algumas pessoas – aquelas que fotografam TUDO e fingem que tem feeling pra coisa – eu imagino o quanto ela deve ser infeliz por dentro, e solitária. Não tem como alguém que vive com o celular na mão aproveitar uma interação olho no olho cem por cento. Basta olhar a sua volta, pessoas deixam de conversar cara à cara pra ficar de piadinhas em grupos de whatsapp. Sabe o que é isso? Um gordo nerd viciado em vídeo game (me desculpem pela comparação pejorativa, aliás). Sério, falo sério. É o mesmo comportamento! Ele se abstém da realidade pra viver a sua própria fantasia, afinal, nas redes sociais (ou em jogos online) todo mundo é bonito, rico, amado e feliz. (Quem já deu cheat motherlode no The Sims me entende)

Circulando pela internet já vi vários textos que condenam os frangos de academia – o que, pelo o que eu entendi, trata-se de pessoas que buscam mais o status da treino do que os benefícios em si. Eu entendo, e traduziria isso em: benefícios desvirtuados pela aparência. Nada que, como já citei acima, as redes sociais não façam também. Fazer o que, né? É a vida. Mas o que mais me chocou foi uma espécie de manifesto “Diga NÃO aos turistas de academia” (aqui). Claro que expressa a opinião de uma pessoa só (que francamente não merece sequer ser posta em pauta), mas me fez pensar se esse não é o tipo de conversa tida entre uma série e outra, sei lá.

Ou seja, essa galera alienada e narcisista com mania de perseguição (já que acha que todo mundo tem inveja do seu corpitcho ou da sua disposição regada a uma série de comprimidos) taca o pau em quem resolve malhar porque o carnaval está chegando, porque vai casar, porque precisar caber no vestido de formatura. Quero dizer, pra eles, se você não leva a coisa a sério ou tem um objetivo a curto prazo, NÃO MERECE estar entre eles. pffff

NÃÃÃOOOO ESTOOOOOUUU DISPOSTAAAAAAAA!

Claro que eu estou generalizando, logo, antes que ponham palavras nos meus textos: eu não estou dizendo que todo mundo que malha com essa determinação tem o mesmo preconceito cujo qual estou me referindo, ok? Obrigada. De nada.

O que eu quero dizer é que malhe pelas SUAS razões. Saúde, estética, sei lá o que for! Se você trabalha com isso, compete ou se a academia é tua heroína, tudo bem, entende? Mas não encha o saco das pessoas, nem se ache melhor do que os outros por conta disso. Músculos não ditam capacidade. Você não é especial porque levanta peso e, principalmente, porque adotou isso como foco. E parem com os sermões do Facebook que, ao meu ver, fazem chacota com os profissionais (educadores físicos, nutricionistas etc) sobre o assunto e dão a falsa ideia que qualquer um pode entender tanto quanto eles. A humanidade agradece.

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