Estou SOL-teira. E não há erro algum de separação silábica. O sol que havia quando ainda estava acompanhada e podia desfrutar de todas as coisas namorídicas existentes entre casais apaixonados, perdurou. Dias de tempestades, manhãs nubladas e tardes cinzentas, a gente passa de qualquer forma.
Acontece que vivemos no mundo do Contos de Fadas LTDA. Ouvimos repetidamente que é impossível ser feliz sozinho. De fato, é bem mais gostoso desfrutar de bons momentos ao lado de uma boa companhia. Mas essa companhia não precisa ser necessariamente um príncipe-encantado-projetado. Parece que ter um final feliz hoje em dia, é destino obrigatório do todo ser humano. E aí nos colocamos em uma busca incessante do par perfeito, do amor perfeito. Esquecemos quão falhos somos, e por estarmos tão preocupados em preencher a lacuna emocional que todos carregamos, acabamos por responsabilizar até a pessoa que sentou à mesa de um bar na noite anterior conosco. Queremos a todo curto ser aceito, ser amado. Ter alguém para dormir juntos, fazer cafuné, ligar três vezes por dia, tirar fotos na ilha de Caras e principalmente mostrar para o mundo: “Não estou sozinha, lero lero lero!”
Volta aqui amiga Carlota Joaquina. Vou-me embora contigo e ainda bato os pés para não levar comigo a poeira da carência carimbada e rotulada.
Precisamos tanto de solidão, quanto de companhia. Em doses precisas. Receitadas por nós mesmo. Solitário é alguém que ainda não aprendeu a amar, nem a si, nem ao próximo. O amor não é um bem finito. Não há necessidade de transformar tudo em desamor por estar só, até porque esse é um sentimento que se reproduz mais do que os lactobacilos vivos daquele iogurte. É crucial não se sentir menos, é não esquecer que, às vezes, nossa própria companhia é o suficiente para ir a um cinema, para sentar e beber algumas doses. Para cozinhar e depois deitar no sofá. É importante saber que suas mãos alcançam seus cabelos num ato de carinho. Fundamental é se abrigar à noite nos travesseiros e conseguir dormir bem.
Somos inteiros, cheio de arranhões e cicatrizes. Mas pessoas inteiras. Incompletos são os que buscam simetria, o cimento sentimental para tapar os espaços, que só cabe a nós, preenchermos. Bom mesmo é aprender a respeitar-se, cuidar-se e amar-se para todas as possíveis assimetrias que nos esperam.