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Às vezes, sinto que não sei para onde estou indo, que estou completamente perdida de mim mesma. Sempre rodeada de gente quase posso palpar o vazio desses olhares. Abraços nulos que não me despertam apego. Beijos sem sabor de paixão, que se mesclam em um desconexo apelo de corpos. Mas, ainda assim, isso não é novidade pra mim. Já me escondi atrás da cortina em salas lotadas a ouvir os interesses alheios e sorri como se me importasse.

Às vezes, a dor é tão consistente que posso vesti-la e desfilar por aí sem que ninguém a perceba. Às vezes, é tão tenra que me agarro nela e desfruto do infinito de possibilidades improváveis que ainda me tiram o sono. Tento entender o que se passa dentro de mim tanto quanto a minha volta, mas pareço não me encaixar nessa estranha corrida de egos. Não gosto de joguinhos e prefiro fazer amigos do que contatos. Acho que escolhi o caminho mais difícil, e mesmo assim, todos os dias o enfrento. Me enfrento. Mas a rádio ainda toca as mesmas músicas, o café tem o mesmo cheiro de todas as manhãs. E no fundo, ninguém sabe pelo o que eu estou passando e eu não sei quantos passos já cruzaram os meus e disfarçaram seus rastros.

Não sinto pena de mim, mas aprendi a me respeitar antes de exigir o mesmo aos outros. O valor que a vida me deu não pode ser entregue de mão beijada a quem não merecer. Isso não é orgulho, eu juro. Aliás, se tem uma coisa que aprendi sobre o amor é como faz bem ao coração dar o braço a torcer. Mas eu preciso dessa liberdade de me perder sem a pressa de me achar. Que eu venha ao meu encontro quando estiver pronta. Ou que antes disso o amor me encontre. Por enquanto, o mundo desperta e tudo se ajeita. Ou eu esqueço. E vou à luta outra vez. Sozinha, mas não a única.

Tem dias que acordo tão desnorteada que já nem sei mais quem sou. E todas as lembranças fragmentadas circulam minha mente em um turbilhão de emoção e fantasia. Já não consigo diferenciar o que realmente nos aconteceu e o que eu criei para amenizar. Me esforço em acreditar que tudo tenha sido um pesadelo, mas então o telefone toca e, mais uma vez, não é ele. E eu estou realmente de olhos abertos, principalmente, no que diz respeito ao futuro. Não posso voltar atrás porque ainda que tivesse a chance, eu não sou mais aquela garota. A garota que via rostos em tomada, via poesia na barba dele, via carinho onde só existia oportunidade. Ela se foi, e me deu as costas sem se despedir no mesmo instante em que ele cruzou minha porta sem dizer tchau.

Pra mim, não foi coincidência. Talvez, aquela garota tenha se criado para ele, seja dele. Ou seja ele em muitos aspectos. Mas ele se foi e eu continuo aqui, provando a mim mesma que, de fato, não precisava dele. Não importa o quanto a gente queira ser amada por alguém, não cabe a nós o direito de intervir na paixão. Às vezes, simplesmente acontece. Às vezes, a gente também se esquece de quantas vezes estivemos do outro lado a esnobar um coração que não nos interessava. Como eu disse: quando não acontece, a gente se esquece. É quando dói na gente que bate o desespero e a gente se perde.

Mas o passarinho ainda canta em mesmo tom, e o sol nasce para ignorar minha dor. É a vida que segue seu trajeto e eu que tento acompanhar em passos incertos, e não o contrário. A única vez que consegui alcança-la, caminhamos lado a lado. Foi sem querer, eu sei. Mas aprendi que o mais importante é não desistir. Se não eu, quem pode saber o que é melhor pra mim? No fundo, só nos resta acreditar que o bem vale a pena, que a alma com o tempo se acalma, que estar em paz traz o amor que já se desfez.

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