Tem momentos em que tudo que a gente quer é um manual pra saber como agir ou a certeza, ainda que vinda do seu horóscopo, que tudo vai ficar bem. Assim como o pavio curto, a maldita depilação à cera, ter fases que mudam de acordo com a lua, o tempo e a roupa é um dos, felizmente, poucos desprazeres de ser mulher. Provavelmente, se minha mãe tivesse colado na porta da geladeira a lista à seguir ao invés de receitas de bolo, eu seria mais normal e comeria menos. Mas aí, não teria tanta graça, né? Afinal, metade de mim é loucura, a outra metade é fome. Junta isso com açúcar, tempero e quase tudo que há de bom e está feita a receita pra enlouquecer, compelir e confundir qualquer coitado à espreita. Visando acalmar o coração das ansiosas, dar sossego pra jovens mancebos e reduzir a internação no Mira e Lopes*, segue um release das fases que nós vimos, vivemos e vencemos. E, claro, na ausência da digníssima Irmã Dinah, uma antecipação do que está por vir, afinal, nunca é cedo demais pra estocar vinho e chocolate.
Até os 10 anos.
Assim como no filme “Os Batutinhas” há uma certa rivalidade entre os sexos e é quando os traços de personalidade ficam mais definidos. A menina mimada torna-se insuportável exigindo uma paciência dos deuses dos pais. Faz birra, dramatiza, se acha o centro das atenções. Infelizmente, nem todas superam essa fase! Contesta a reciprocidade em seus relacionamentos, principalmente, familiares. Importam-se demais com amizades, chegando a se preocupar por vários dias. No entanto, no quesito garotos, ainda não vestem-se para eles, nem para serem notadas. No meu tempo, tínhamos álbuns de figurinhas da Barbie e da Tv Colosso. Era obvio que eu não tinha tempo pra pensar em ninguém, estava muito ocupada fingindo ser a Sarah do Cavalo de fogo com meu tamanco/sandália da Carla Perez.
Par perfeito: Pra mim, era o SandyJunior. Hoje, acredito que seja um iphone.
Dos 11 aos 15 anos.
O interesse por garotos é despertado quando se veem na obrigação de gostar de alguém do mesmo colégio ou ciclo. É sempre assim: tem aquela mais bonitinha e todos os garotos gostam dela e tem aquele mais bonitinho que as meninas piram. Na minha fase, os desejados eram aqueles mais malandros, que já praticavam algum esporte, gostavam de se arriscar, viviam suspensos de aula e faziam pegadinhas com os professores. Obviamente, eu já fazia jus a frase “a gente só gosta do que não presta”. Hoje em dia, os tempos notoriamente mudaram porque os garotos capas da Capricho são delicados e sensíveis. Carinha de anjo, denguinho de “papai sabe tudo”. Não se fazem mais Hansons como antigamente! Eles, sim, tinham charme. As garotas na faixa dos 13 anos evidenciam que tomaram whey protein no lugar de leite em pó e se aproveitam disso. Com quase 15, querem parecer mais velhas pra atrair caras da faculdade e com carro (certos padrões nunca mudam, diga-se de passagem). Entram cada vez mais cedo na academia e vestem-se como se não tivessem mãe em casa. É assim que surge, sem mais nem menos, mais um grupo mirim de orgulho nacional como o Bonde das Maravilhas. A verdade é que elas estão no comando. Já tem um corpo do qual se gabar, dominam a arte da conquista fielmente ensinada pela Malhação e tem o uso das redes sociais que lhes atualizam de toda cultura pop contemporânea, sem que tenham que esperar ansiosamente, como eu fazia, pelo top 5 da Mtv.
Par perfeito: Garotos famosinhos que despertam inveja nas amigas.
Dos 16 aos 20 anos.
Meu amigo, já era. Se a dita cuja põe na cabeça que é você que ela quer, corre! Passando por cima de amizades, família e colecionando pedras no meio do caminho, estão dispostas a tudo pra ficar com aquele que perpetua em seus sonhos como sendo O Tal da sua vida. São vingativas, traiçoeiras, fofoqueiras e não perdoam sequer o namorado da melhor amiga. Entretanto, é também nessa fase que verdadeiras amizades se solidificam, afinal, você tem que ser mais macho que muito homem pra se equilibrar na corda bamba de ser, francamente, o sujo falando do mal lavado. Aprende a perdoar, mas também a si ver em seus próprios erros. É quando se olha no espelho e descobre que falar bem de si mesma ali, não serve de nada. Até porque, aquela que nunca fez nada do qual se envergonhe ou, pior, se arrependa, não viveu de verdade a melhor e a pior fase da sua vida. Definitivamente, um divisor de águas pra delimitar quem você é e quem você quer passar que seja. É a época em que as pessoas mais viajam pra fazer intercambio, experimentam drogas, ficam bêbados e se descobrem mais vulneráveis do que invencíveis como se viam. Nunca nada de mal vai te acontecer, até que acontece e você aprende o valor do limite.
Nessa fase, elas não estão no comando coisa nenhuma. Tem, sim, suas artimanhas pra conquistar quem querem, mas isso é porque são, em suma, bastante carentes e tentam suprir a falta de uma base familiar ou de neurônios em relações amorosas recheadas de traições e falsas declarações de afeto. É basicamente a fase do “eu quero ser” e não do “eu sou”. Se contradizem, se apegam e manipulam. Mudam gostos, hábitos e estilo para fazer parte dos grupinhos que admiram. Obviamente, nada disso afeta a essência de cada um, ou seja, algumas delas nunca conseguiram sair dessa fase e pensam que normal é viver o drama de uma novela mexicana.
Par perfeito: Seu melhor amigo, o namorado da sua amiga, afeiçoam-se à pessoas próximas.
Exigências: Ser unanimemente bonito, ter gostos parecidos, mesmos interesses, ter carro (mesmo que dos pais), poder levar garotas pra casa – e fingir que não leva ninguém – fazer juras de amor públicas, vestir-se de um jeito que lhes agrada e gastar toda mesada/salário em presentes românticos de papelaria.
Dos 21 aos 25 anos.
Está encaminhada ou terminando a faculdade e se pressiona pra decidir que rumo tomar na vida. Não se vê mais com tempo pra relacionamentos superficiais e esconde à sete chaves a caixinha com seus segredos mais obscuros. Esses são os anos dourados em que elas adotam atitudes firmes e, consequentemente, adoram acusar quem quer que seja de infantilidade. Se sentem, de fato, adultas, donas do próprio nariz e conscientes do corpo. Principalmente, se tiverem pagado por ele. São mais seguras socialmente; picuinhas não lhe afetam mais, fofocas não lhe pertencem, mas em segredo ainda guardam o diário com desejos de um príncipe. Estão mais objetivas sobre como querem que a sua vida seja, ainda que, infelizmente, não saibam como conseguir. É uma fase mais confusa porque as consequências não refletem somente em uma sua roda de amigos, tudo está generalizado, interligado. Sentem-se pressionadas a tomar as decisões certas, como se não houvesse mais segunda chance. Se já estão namorando, querem casar. E se não estão, querem alguém que queira casar. Claro que, naturalmente, há as exceções que seguem um rumo completamente diferente em que vivem intensamente, amam, se expõem, gritam, se doam e não se importam. Vivem tudo ao pé da letra; um jogo de sorte e não de escolhas.
Par perfeito: alguém que preencha todos os pré-requisitos, afinal, homem é que não falta.
Exigência: Bonito, fiel, financeiramente estável, bom ouvinte, a faça rir, educado, cavalheiro, espontaneamente romântico, faça surpresas, seja impecável na cama. Ou um Deus.
Dos 25 aos 32 anos.
TODO MUNDO ESTÁ CASANDO. O desespero bate na sua porta, entra e não pede licença. Parte de seus planos de vida perfeito a aposentadoria aos 40 se tornam um pesadelo de batalha contra o tempo. Vale a pena atrasar ser mãe agora ou esperar pra ter uma gravidez de risco? Vale a pena ser mãe? Vale a pena ser? Vale a pena? Vale? Cadê.O.Diacho.Do.Marido? Deve priorizar alguém que lhes ama ou tentar a sorte de amar e ser recíproco? Aliás, deve contar com a sorte? Seus valores estão impecavelmente definidos e, na verdade, o que se tornou nessa fase é provavelmente quem vai ser pro resto da vida. Se cobram uma surreal estabilidade financeira e se comparam a todas as pessoas da sua idade e, inclusive, à seus próprios pais quando tinham a sua idade. Estão mais cautelosas quantos à suas escolhas e menos preocupadas que deem certo. Tornam-se melhores ouvintes, menos julgadoras e mais egocêntricas. A má notícia é que já se veem como uma velha caquética quando percebem que já tem antirrugas pra elas. Sentem-se vitoriosas quando lhes dizem que parecem ser mais novas pois não mentem a sua idade, apenas omitem.
Par perfeito: alguém que preencha alguns dos seus pré-requisitos, afinal, homem cafajeste não falta.
Exigências: Bonitinho, tenha condições de lhe pagar um jantar com uma certa frequência, abra a porta do carro, ouça mais e fale menos, ria das suas piadas, abra potes de palmito e carregue sacolas de supermercado, tenha um bom terno, lembre do seu aniversário e datas especiais do casal e seja romântico pelo menos uma vez na semana.
Dos 33 aos 40 anos.
O conhecido “fode ou sai de cima”. Agora é que o bicho pega! Dinheiro não é mais problema e tampouco atributo para conquista-la. O marido não deu conta? Se livra dele. O trabalho lhe faz infeliz? Larga. Dizem que é a melhor fase da vida porque sabem exatamente o que querem e o que fizeram de certo ou errado para conseguir e nem assim desistem do que ainda lhes falta pra ser feliz. Vale ressaltar que o auge da vida sexual é também aos 40. Quem diria, né? As novinhas que se acham tão esperta são postas no chinela por coroas enxutas e com sabedoria milenar. Se cobram exímia competência pra tudo. Querem um casamento saudável, filhos bem criados, gestos educados. Carros na garagem, apartamentos em seu nome. Frustram-se porque a vida, quase sempre, não é como planejado e se moldar a novas hábitos já não é tão fácil. Estão sempre competindo com o tempo quem perde mais, sem se dar conta de que já se perdem só em pensar em competir. Tendem a tornarem-se amarguradas quando não se veem com aquele casamentos dos sonhos ou a gorda conta bancária que jurava que teria com certeza quando não economizou nem um centavo aos vinte.
Par perfeito: aquele que preencha quaisquer um dos pré-requisitos, afinal, não tem mais tempo pra perder com homem canalha.
Exigências: não seja muito feio, tenha um emprego fixo ou uma renda estável, finja prestar atenção no que fala, consiga ao menos mover a mobília de lugar, use camisas que cubram a barriga. Bônus: ter qualquer ato de espontaneidade romântica.
Dos 41 aos 52 anos.
Quase todas já passaram daquela fase namora-noiva-casada-divorcia-repete. Portanto, são PHD em seres humanos e principalmente em relacionamentos. Sabem como se vestir, o que falar, como se portar, como persuadir, como dramatizar e, claro, como chantagear. Detestam loiras naturais e se apegam facilmente à seu analista. São bem seguras de si e que suas escolhas, até mesmo as infelizes, foram com um propósito, por vezes divino, que ainda não puderam entender, mas valeu a pena. Não se lamentam tanto pelo passado, mas também não perdem a chance de desdenhar o ex marido e tampouco a atual namorada dele 25 anos mais nova. Acha que ele devia encontrar alguém da sua idade pra dividir os lençóis, mas bem sabe que um garoto mais novo também lhe rouba olhares. Escondem bem fazendo uso de provérbios chineses de biscoitos da sorte e dilemas tirados do Casos de Família que são ressentidas com as meninas de vinte. Não por culpa delas, claro e menos ainda por culpa das garotas, mas querem orientá-las a todo custo a fazer a coisa certa e se esquecem que quando tinham a sua idade, mal conseguia ouvir as vozes da sua própria consciência, quanto mais, vindas de alguém mais velho. Profissionalmente, já estão bem estabelecidas ou pelo menos conformadas com aquilo que ganham e o cargo que já tem. Buscam paz interior ao invés de dinheiro e sucesso, pois já aprenderam à duras penas que essa é a única busca que realmente lhe é rentável.
Nessa fase, tem total controle da situação. Sabem driblar, remediar confusões, libertar escravos e acabar com a fome no mundo. Mas o melhor de tudo é que não precisam provar nada à ninguém e sequer se importam em transparecer isso.
Par perfeito: aquele que preencha um dos pré-requisitos, afinal, não tem mais paciência para homens que pararam no tempo.
Exigências: não sustente as famílias dos relacionamentos anteriores, corte os pelos do nariz e orelha, não conte as mesmas histórias o tempo todo, não seja um bêbado desgarrados, se vista como alguém da sua idade e saiba escrever algo romântico nos cartões.
Dos 53 aos 64 anos.
Par perfeito: Alguém que a vida não lhe tenha deixado arrogante demais, nem complexado.
Exigências: Não assuste as crianças pequenas e nem se finja de estátua em lugares públicos, fique em pé sozinho, use cuecas e meias limpas, ronque baixo.
Dos 65 aos 73 anos.
Par perfeito: alguém que goste de conversar não somente com a televisão.
Exigências: Respire bem e saiba aonde deixou os dentes e os óculos.
Aos 88 anos.
Par perfeito: alguém que se sinta confortável em silêncio.
Exigências: Quem disse que precisa ser homem? Um cachorro vai bem.
O importante é não deixar morrer qualquer sentimento que te motive. Se entregue, se doe, se permita independente da sua idade. A solidão não tem absolutamente nada de triste quando se torna uma alternativa e, não, um fardo. Ninguém está fadado ao fracasso ou sofrimento constante. Ninguém nasceu miserável ou repugnante. Somos a consequência de nossas decisões impensadas, equívocas, mas acima de tudo, vividas. Triste mesmo é perder a admiração, o respeito e principalmente, a paciência. Essa sim, é a certeza de deixar de amar. Não faça dos defeitos uma lista, das inimizades uma mágoa, nem viva eternamente em um segundo ou ame até que termine o dia. Seja por inteira o que sentir à flor da pele. Você nunca vai saber o que te deixará marcas e o que te deixará saudades até que se disponha à superar. Faça das suas companhias uma questão de escolha e não de necessidade.
Gente, o que dizer? hahaha Só sei que se eu tivesse visto essa lista oito anos atrás, teria sido tão imensamente mais fácil! uhaauhauha
Ótimo texto, esse e vários outros, inclusive já estou acompanhando. 🙂