Como vocês já sabem, eu sou uma grande fã desse período fascinante em que você pode expor todos os sórdidos pensamentos de balburdia que sela a sete chaves numa caixa de Pandora normalmente. Mais conhecido como Carnaval. Eu tenho um amor inexplicável pelas máscaras de hipocrisia que caem ao chão igualando qualquer criatura de nariz em pé e olhar de soslaio ao mesmo e adorável demônio-da-putaria.
Este ano, mais uma vez, eu vou para o Rio de Janeiro. Mesmo depois de ter desdenhado os malditos bloquinhos de rua, eu fiz e refiz meu roteiro com a empolgação de um adolescente virgem em seu primeiro fim de semana sozinho em casa. Troquei minha maturidade por um porre de vodca. Sou dessas. Mas vou ser sincera com vocês: é tão quente que você experimenta um pouco da aventura do que seria o próprio inferno. A música, em geral, é tão ruim que você chega a implorar para ouvir Pablo. E as pessoas estão tão loucas, mas tão loucas que beijo na boca é a moeda de troca mais valiosa para se conseguir qualquer coisa. QUALQUER COISA. Em outras palavras, somente nessa realidade a felicidade deixa de ser utopia pra ser bebida. Por que não podemos ser assim sempre?!
Como vocês também já sabem, antes de eventos como esse, eu dou algumas dicas para tornar a experiência inesquecível. Mas não me culpe pelas consequências!
1) Não se produza muito
Melhor do que os desfiles de escola de samba na Sapucaí só mesmo ver a patricinha que só sai de casa tão montada quanto uma drag queen – me deixando na dúvida se é uma mulher ou o Luciano Huck disfarçado pra mais um de seus quadros – toda requenguelada por um sol de 40º e o esfrega-esfrega dos ambulantes suados.
Minha filha, se embaixo de ti existe uma Hebbe Camargo em decomposição e antes de sair de casa precisa de rebocar seu rosto com cimento, então, use uma fantasia. É simples!
2) Seja como Buda.
Esses bloquinhos de rua ficam tão entupidos que você já tem que começar a dançar em uma posição que seu copo fique ao alcance da boca. Se der bobeira no sapateado, aparece um pé de vindo de nowhere só pra lhe roubar o canto. E se levantar o braço, neguinho, torço pra que tenha alongado antes porque vai ser difícil encaixa-lo de novo na folia. Ok, eu posso estar exagerando um pouco, mas a questão é se você tem pavor à multidão ou frescura de nojinho com o roça-roça NEM VÁ! Pegaram na sua bunda? Pegue de volta. Te beijaram a força? Beije de volta. Te empurraram sem querer? Beije de volta. Seja como Buda e propague a paz. Ou quase isso.
3) Não banque a perdida
Uma verdade? Você vai se perder. Fato. Antes de fazer uma tempestade em um copo d’água eu recomendo que tenha anotado seu endereço com uma caneta permanente no seu braço e tenha pelo menos alguns trocados para uma cerveja. Feito isso, não há com o que se preocupar, quando a sua hora chegar você só vai precisar contar com a embriaguez alheia.
Dica um:
1) Analise as galeras que terão ao seu redor e escolha especificamente a que estiver em pior estado de desordem.
2) Vá se chegando com aquelas dancinhas em que você aponta ou canta para a primeira pessoa que estiver na sua frente. (Eu sei que você sabe que dancinha é essa.)
3) Certifique-se que essa pessoa não saberia reconhecer a própria mãe se estivesse em sua frente e puxe um assunto totalmente aleatório sobre o canto dos pássaros na Guatemala e, por fim, ofereça uma cerveja.
4) Pronto, assim você fez um novo melhor amigo.
Dica dois:
1) Vá ao banheiro.
2) Comente sobre o quanto são sujos os banheiros químicos, ofereça-se para segurar a porta ou fazer “barreirinha”.
3) Pronto, saia de lá com uma melhor amiga, três segredo e quatro viagens marcadas.
Dica três:
1) Agarre o primeiro infeliz que aparecer na sua frente e aja como se já tivessem ficado antes. Se ele quiser se soltar, faça drama. Se ele rejeitar, chore.
2) Pronto, você tem um macho alfa que no mínimo quer te levar para a casa dele.
4) Baixe suas expectativas.
Ok, não é impossível que você conheça o amor da sua vida e que o romance de vocês perdure por mais de alguns dias – quem sabe, até anos! Mas é bastante improvável. Veja bem, quem vai para o Carnaval não está necessariamente procurando um a parceira para procriar e constituir uma família. Essas pessoas, se é que ainda existem, devem ser mantidas em cárcere privado por alguma companhia terrorista que lucra horrores com em lenços, filmes românticos e músicas da Taylor Swift, sei lá. A questão é que por mais que o indivíduo aja como um verdadeiro príncipe aconselho a uma investigação minuciosa sobre seu passado antes de sequer dar seu nome verdadeiro. Por via das dúvidas, crie uma identidade falsa para proteger sua família e seus órgãos.
5) Tenha prioridades.
Olha só, é cientificamente provado que se você comer muito tem o dobro de dificuldade para se embriagar. Então, o que vale mais a pena: ficar de barriga cheia ou de cabeça feita? Nesse caso, beber é melhor do que comer porque beber passa a fome e comer não deixa bêbado. Só coma o necessário.
6) Tenha paciência.
Gente, não precisa querer “abraçar” o bloco inteiro no primeiro dia. Seja uma pessoa moderada, faça um roteiro e siga-o o máximo que puder pra lhe poupar tempo e enfermidades. Não deixe que nada, nem a pior coisa do mundo, seja capaz de estragar seus primeiros dias. Ou seja, isso quer dizer que você também precisa tomar cuidado aonde pisa para não se estabacar no chão e chamar o Samu. Um dia de cada vez.
7) Evite andar em grupos grandes.
Particularmente, eu gosto de andar com NO MÁXIMO três pessoas. Mas essa sou eu, a Carmen Sandiego Do Nordeste. Eu sempre acabo andando sozinha porque não gosto que se prendam a mim. O que eu posso fazer se sou um cordel indomado? Mas, aconselho que você tenha pelo menos um amigo de fé, um irmão camarada, ao seu lado. Grupos grandes demoram muito pra se decidir, se arrumar, para concordarem entre si. E ocupam muito espaço. Principalmente, se você for chamada para uma after na casa do Caio Castro e estiver com mais 15 mulheres com sangue no olho pra tirar uma lasquinha, você vai entender o que eu digo.
8) Seja prática.
Agora vou dar uma de tia-avó e seus sábios conselhos: previna-se. Não custa nada e vai evitar muita dor de cabeça no futuro, tanto em relação a sua saúde como a história de como conheceu o pai de seu menino do domingo de carnaval atrás do trio. E sem falar que sem o teste de dna do Ratinho essa brincadeira de não saber quem é o pai já perdeu a graça.
9) Seja desapegada.
Fuja de todo e qualquer ex que aparecer no teu caminho porque não há tempo a perder com bocas passadas. Se o carinha que você estava paquerando quis ficar com sua amiga, tudo bem, é a vida. Se o carinha que você ficou quis ficar com sua amiga, tudo bem. Se o carinha que você estava paquerando, ficou, quis ficar com sua amiga e depois contigo… Me conta como foi depois, tá?
10) Cuide da sua própria vida.
Por fim, mas não menos importante: dê conta da sua própria vida. Não leve aparelhos telefônicos móveis para registrar as infelicidades alheias. Aliás, se vir algo de muito bizarro acontecendo, por favor, participe! É melhor viver a experiência do que ficar falando depois. Ninguém tem mais idade – e principalmente santidade – pra falar de alguém.
E se você quiser mais dicas sobre como sobreviver ao Carnaval, olha ESSE POST do ano passado, mas que ainda pode ser usado como Minuto De Sabedoria Dos Milénios.