Sentada sozinha à uma mesa de bar barato, esperou o garçom atendê-la. Acendeu um cigarro. Olhou em volta e sentiu um vazio profundo.

Pediu uma dose de vodka com gelo, e a cada gole seco, sentia queimando toda dor que a acometia no momento. Em meio a total barulho, tentava prestar atenção em alguma conversa para esquecer o que há horas conversava consigo mesma. Inútil. Aquele monte de pessoas só fazia com que ela sentisse saudades do silêncio a dois, dos sons de riso, gemidos e promessas. Seus mil e um pensamentos foram interrompidos com a chegada de um homem pedindo licença para fazer-lhe companhia. Um pouco confusa e tímida, olhou uma barba impecável, um nariz meio torto, cabelos preto e bagunçados. Olhos tão grandes quanto seus lábios. E disse: – sim, claro. Trocaram nomes, e várias palavras. Em poucos minutos ela estava ali, rindo com um estranho. Havia esquecido o motivo que lhe levara aquele lugar. Ele bebia wiskhy, ela vodka. Ele falava sobre viagens e música, ela prestava atenção. Eles falaram sobre relacionamentos frustrados. Eles beberam outras doses e acenderam vários cigarros. Ele a convidou para saírem daquele local. Ela aceitou. Caminharam até o carro dele, e foi surpreendida ao ver que ele se apressou para abrir a porta. Percebeu que suas pernas estavam pesadas e o mundo girava um pouco. Dentro do carro, trocaram olhares, houve um silêncio incômodo que foi quebrado, quando ele perguntou se Dóris tinha algum interesse em ver todos os Lp’s que o mesmo tinha dos Beatles. Na dúvida latente, disse sim sem pestanejar.

As mãos dele já haviam encontrado as coxas dela. O coração batia a mil. Chegaram ao apartamento dele. Ela observou tudo, cada coisa em seu lugar. Tudo organizado, perguntou onde era o banheiro e se apressou para olhar-se no espelho. Deparou-se com um rosto ainda maquiado, olhos incertos. Respirou fundo e voltou à sala, onde havia duas taças meio cheias de um bom vinho. Tocava um rock antigo, o ambiente estava agradável, mas ela pensou em fugir dali. Sem tempo pra pensar, ele a segurou firme. Tirou a taça de sua mão e a beijou. A beijou com afinco, com tesão. Ela ainda de olhos abertos resolveu se entregar àquela dança das línguas. Ele a apertava, tentava abrir o zíper do vestido, enquanto ela abria o zíper da calça dele. Dois estranhos, dois corpos que exploraram cada pedaço um do outro, e exploraram em cada parte daquele apartamento. Entre um gozo e outro acendiam cigarros e bebiam mais do vinho. E bebiam da saliva um do outro, e se ajustavam, e se encaixavam. E depois do último banho, adormeceram. Era quase meio dia, quando Dóris acordou. Sua cabeça estava pesada e ela percebeu que havia exagerado na noite anterior. Olhou para os lados e lembrou do que havia se passado ali. Ele ainda dormia, com o rosto em cima do braço. Ela observou seus músculos que não eram de academia, mas talvez do trabalho do dia a dia. Levantou-se com dificuldade e foi à cozinha. Precisava de um café, uma água e um cigarro. Fumou sentada ao sofá, lágrimas desciam de seus olhos. Juntou suas vestes que estavam espalhadas pela sala, vestiu-se e foi embora. Sem beijos, sem abraços, sem roteiro.

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