Troco likes e sigo de volta. Mas só pra você gostar de mim. Não quero saber seu nome, telefone, nem a cidade que você está falando, só preciso de views, curtidas e compartilhamentos em tudo que faço. Me desinteresso em ler o que você escreve. Não sejamos hipócritas – deixemos isso para quando formos todos macacos, protegendo mais um negro discriminado.
Cuido para não cutucar o vespeiro, sempre chorei com o Macaulay Culkin em “Meu primeiro amor”. Deixa lá as feministas radicais que odeiam os homens, elas querem direitos iguais, porém em toda oportunidade de menosprezar e ridicularizar o sexo oposto, faz – igualzinho como eles fazem com elas. Deixa lá os que são a favor da redução da maioridade penal. Na cadeia é bom, assim os bandidos ficam bem longe dos problemas deles. Afinal, a culpa é sempre do outro.
Nas redes sociais, a sua opinião é o importante, está sempre correta e não abre mão dela. Você adora expor sua posição nos comentários da publicação de um amigo, ou até mesmo bater boca na página de alguma empresa quando publica algo polêmico: provocou, levou – esse é o lema.
Estou cansada! Amanhã vou dizer praquele meu parente distante que manda vídeos escrotos no Whatsapp que isso me ofende. Mundo louco! O mesmo sangue, origens e sobrenome e me sinto mais perto do morador de rua que passa frio a noite e é ignorado por mim mesma quando está no semáforo fechado pedindo comida, do que pelo parente idiota. Mas faço a minha parte e ajudo a viralizar o vídeo sobre o preconceito com pobres. Precisamos quebrar essa barreira. Você precisa.
Calma, calma! Já brigamos demais. Nem todos se odeiam na internet. Vamos nos amar. Olha como é lindo esse poema no Instagram, diz tanto sobre nós (nós, quem?) Não consigo nem ler o que está escrito, a foto é muito pequena, as letras estão todas tortas. Curti mesmo assim. Deve dizer algo inteligente. Quero ser inteligente.
Tem um vídeo no Youtube que todos estão compartilhando. Apesar de ter longos 20 minutos, assisto enquanto bato uma selfie sem maquiagem, com filtro. Legal o vídeo, também vou publicar na minha timeline para você ver como tenho a mente aberta. Sou fã do Laerte, me deixa, isso não muda quem eu sou – apenas como você me vê. Mas continue me amando, por favor.
Procuro o amor dos outros enquanto descubro novos haters. E quando dissemino a minha raiva, novos amantes irados surgem. Quero converter sua extensão física em virtual. Me dê um like em alta resolução para te ver em HD.
Quando foi que as redes sociais se tornaram esse campo de batalha com exércitos feito de desorientados em estado vegetativo? Mandam indiretas do bem, mas se odeiam. Dizem que se gostam, mas só querem uma curtida no novo post.
Se eu baixar o volume desse falatório todo, sobre algo? Eu e você escondidos, sentados um ao lado do outro com um computador entre nós. Nunca estivemos tão distantes. Cegos no meio da guerra tentando encontrar o nosso grupo. Todos são inimigos, estão errados e são idiotas. Mas calma, sem brigas! Não quis ofender ninguém. Não me dê unfollow. Vou te seguir de volta e podemos ser amigos sinceros.
Ironicamente,
Lígia
Meu nome é Lígia Maciel Ferraz, sou de Florianópolis/SC e tenho 27 anos. Sou formada em Cinema e Vídeo.Estou desenvolvendo meu projeto pessoal, o blog Ela dizdisse. É um alter ego que criei para publicar minhas expressões criativas. Gosto muito de escrever (contos, devaneios e frases), tenho feito algumas colagens e fotografia. Facebook | Instagram | Tumblr
