Sabe aquela velha desculpa que nos deixa com a pulga atrás da orelha “O problema não é você, o problema sou eu”? E se o problema fosse você?
Acho engraçado que o contrário da rejeição seja a autoestima elevada. E, em geral, eu tenho uma admiração bizarra por quem consegue mantê-la nesse patamar quase inalcançável de satisfação. Quer dizer, sério mesmo que se alguém termina contigo você pensa que ele foi insensível, não soube valorizar o que tinha ou simplesmente era louco? A pessoa não pode ter SÓ se cansado de alguns de seus defeitos?
Acontece que obviamente quando é uma amiga nossa que leva o pé na bunda, levantamos a bandeira do “ele nunca foi bom o suficiente para você”. Nos empenhamos em um manifesto a favor de que ele é quem mais perde nesse término e resguardamos nossos pensamentos sombrios a respeito dos verdadeiros motivos. Até porque, sejamos francos, quem vê de fora às vezes enxerga coisas que quem está vivenciando ignora. Logo, alguns términos não nos surpreendem tanto quanto dizemos. Desculpa destruir teus sonhos, mas no fundo, eu sempre soube que ia terminar assim.
Aí entra a questão: e se alguém que você considera te dissesse que entende os motivos que vocês terminaram e NÃO JULGA SEU EX POR ISSO? Ia doer, não ia? Talvez, muito mais do que o próprio fim. Acontece que você espera que seus amigos lhe conheçam bem, tão bem que saibam seus defeitos de cor e salteado. Assim como suas qualidades, claro. Mas os amigos são aquelas pessoas que te veem subindo embriagada no palco, tomando o microfone do cantor e te aplaudem. São aqueles que olham seu joelho ralado da queda de cima da mesa e dizem “Ela é das boas!”. São as pessoas que vão amar ouvir suas histórias de paqueras mesmo que lhe causem vergonha. Ou seja, eles te conhecem de fato, mas não se importam com oitenta por cento das características que você denota em seus relacionamentos. Por isso que muitas vezes o cara mais cafajeste de todos tem uma melhor amiga inseparável que faria tudo por ele.
Mas, sabe, esse não é um texto sobre amizades. É sobre a imagem que você tem de si mesma. Até porque se você não tivesse ao seu lado quem lhe dissesse “Ele nunca te mereceu”, ainda acreditaria que realmente foi boa demais para ele? Tudo bem que a gente tem que reconhecer nosso valor, tem que ter o mínimo de orgulho, tem que ter amor próprio e todas aquelas coisas que estamos cansadas de saber desde a primeira vez que tivemos nosso coração dilacerado por qualquer paixonite. Mas uma coisa que as pessoas geralmente esquecem de acrescentar nessa composição é o famoso bom senso.
Eu tenho verdadeira pena de quem se resguarda na frase “Mas eu sempre fui assim” como um escudo para dizer: me ame ou me odeie. Como se fosse completamente imutável, inflexível. Pra falar a verdade, você se torna uma espécie de Hitler dos relacionamentos impondo a quem quiser uma chance, única e exclusivamente a sua vontade e opinião de como as coisas devem ser. Sério que você acha que quando “aparece” alguém na sua vida ela veio pra te fazer somente feliz? Ou seja, você não só exclui sua parcela de responsabilidade dos infortúnios, como também de todas alegrias. Você se torna uma marionete, por mais irônico que soe. Um ditador não seria soberano se não fosse por aqueles que acatam essa premissa.
Em outras palavras, às vezes, o término ou o encaminhamento para o fim foi culpa sua, sim. Talvez as tuas melhores intenções tenham tido consequências desastrosas e ao invés de gastar energia tentando provar sua inocência, você poderia simplesmente pedir desculpas e se redimir da melhor forma. Talvez você tenha sido mais grosseira do que imagina e melhor do que responder “Mas eu sempre falo assim. Todo mundo sabe”, seria um sincero “Sério? Não foi minha intenção, me desculpe por isso.” Só assim, aos poucos, você vai poder fazer uma autoanálise e perceber o quanto da chateações, brigas e discordâncias das pessoas contigo é recorrente.
Não acredito em mudanças totais. Que um pau que nasce torto milagrosamente vai ficar retinho. Mas acredito que o amor seja o maior combustível para essa mudança ou, pelo menos, a vontade de fazê-la. Afinal de contas, tem que ter vontade. Tem que ter querer. Você precisa estar disposta a mudar, a se conhecer, a melhorar. Você precisa querer isso para ser feliz com quem quiser, mas principalmente consigo mesma.
É bem difícil encarar-se de frente ou ouvir sua própria voz quando diz algo que sente. Somos tomados por um formigamento causado pela vergonha de se assumir. Isso é normal. E, pra isso, só tem duas alternativas: mudar ou se conformar.
Seja com os outros como gostariam que fossem com você. Fale o que você quer ouvir. Incentive como se sua vida dependesse disso. Cale seu orgulho ao ouvir uma crítica que pode ser construtiva. Respeite especialmente as diferenças que lhe dão nos nervos. Busque alguém que te desafie, que tire a rotina da monotonia. Se engaje em discussões que lhe confrontam. Pense a respeito do que não lhe interessa também. Entenda que o grau de importância depende exclusivamente de quem o enaltece. Mas, sobretudo, saiba que independentemente de quais sejam seus ideais você jamais poderá impô-los a ninguém. Se você fizer tudo isso repetidas vezes em cada término, decepção ou fracasso, aí sim, pode erguer a cabeça ao pensar que nem todas as pessoas te mereçam. Não que você tenha se tornado perfeita, mas você não desistiu de se tornar melhor.