“Ele me disse que estava com outra, que estava gostando e, dessa vez, queria fazer tudo certo”, foi isso que ouvi de uma amiga minha. Um claro pedido de socorro. Ninguém que esteja realmente bem consegue encarar a verdade com essa firmeza. Somos entusiastas da mentira, como um instinto de sobrevivência. É tão natural que sequer percebemos seus danos em efeito dominó deixando um rastro de desconfiança até o último envolvido. Mas ela, não. Ela admitiu sem meias palavras, sem enfeitar um pedido de desculpas, sem deixar uma porta aberta. Ela havia sido derrotada.
Confesso que me acostumei ao sumiço para representar o fim. Eu sei, isso não é lá muito maduro, mas era algo com que aprendi a lidar. De certa forma, eu já esperava por isso. Se as coisas esfriassem, se nos sentisse distantes, eu já previa que um dos dois se afastaria. Dependendo do meu nível de interesse – e disposição em apostar de mãos atadas naquilo – eu permanecia, fingindo inocência, até o dia em que provavelmente levaria um bolo ou uma mensagem não visualizada. Quando não, eu mesma tratava de inventar desculpas para não vê-lo ou trocar-lhe por uma festa com minhas amigas como se não fosse algo planejado. Até porque, mulher não se vinga, só põe em prática o que lhe foi ensinado.
Isso tudo porque não teve desaparecimento no mundo que se comparasse ao dia em que ouvi a verdade. A primeira vez, a gente nunca esquece. “Acho que não estamos mais dando certo e não devemos mais ficar”, curto e claro. Minha vontade era de perguntar “Como assim não ESTAMOS? Eu estou. Por que você não está? Eu não fiz nada de errado!”. Mas ao contrário disso, eu respondi “tudo bem”, me virei e fui embora. Não levei mais que um segundo pra me sentir derrotada. Eu não queria uma forma de reverter esse quadro, eu não queria ter-lhe perguntado o porquê pelo medo que sentia de sua sinceridade. Eu só queria trocar sua honestidade por um chá de sumiço. E quando recontei o motivo tratei de mentir um pouco amenizar o tombo das minhas expectativas.
Acho que isso se deve ao fato de que ainda temos a ingênua ideia que exista um caminho certo para ter um relacionamento bem sucedido, que enquanto não fizermos nada de errado não vai ter fim. Claro que há lógica nisso, afinal, se você não quer dar motivos para o término, não faça nada que não gostaria que fizessem com você, mas não há controle algum sobre o sentimento, interesse e disposição dos outros. Às vezes, ele simplesmente não está na mesma página que você, e isso lhe basta para romper. É tão normal quanto doloroso, e ter a consciência tranquila é se convencer de que não foi você quem perdeu.
Nem sempre estive preparada para ouvir a verdade, mas nutri uma inquietante mania de não me perder em vazios de sentimentos. Se uma muralha era erguida sob mim, eu não a escalava, nem tentava derrubá-la. Já ouvi que você deve lutar por quem se ama, mas nunca entendi como insistir em uma relação em que você não teria mais do que a sobra de tempo de alguém – e não sua completa prioridade – pudesse resultar em algo bom. Pelos olhos de quem não quer, até quem é bom não presta. Às vezes, sentir-se derrotada é dar aquele ponto final e iniciar uma nova história. Sinceridade demais é um veneno que aos poucos desenvolvemos nossos próprios antídotos. Dói, mas também nos fortalece. Eventualmente, somos forçados a lidar com o olho no olho, com a voz embargada, com a necessidade de encarar nossos problemas. É normal. Você pode até ter um relacionamento sem expectativas, mas sem honestidade, nunca.
Que texto mais lindo, parabéns pela forma incrível que você escreve, realmente muito perfeita!
Seguindo seu blog :*
Com carinho, Maíra.
quase-de-repente.blogspot.com
Que texto lindo!
Gostei de todos, vou mostrar para várias amigas.
Beijão
Obrigadaaaa! Sinto a mesma coisa em relação ao seu. :))