Eu sempre me referia a ele com uma porção de elogios salpicados com cautela. Era como se ao final de cada frase esperasse o “mas…”, o empecilho. E se ninguém dizia nada tornava a exalta-lo, às vezes por mera provocação e às vezes por puro orgulho. Era difícil aceitar que alguém pudesse ser tão bom. Já havia sido testada pela vida tantas vezes quanto pude engolir o choro de uma decepção que me partia o peito. Depois de um tempo, deixei de acreditar que havia alguém feito pra mim, talvez, que eu ainda não tivesse conhecido. E por isso parei de procurar em cada esquina uma pista do destino de que havia chegado a minha vez.
Sem dúvidas por causa disso demorei a me apegar a ele. Era a ideia de que pudesse existir esse alguém que eu já havia exilado dos meus sonhos que me deixava assustada. Eu não queria ceder, nem cair em mais uma armadilha de amor perfeito. Amor não é perfeito, não tem como ser. São duas pessoas diferentes trocando tato, planos e apelos. Uma receita que claramente não foi feita para combinar. Inclusive, já pensei bastante sobre isso. Sobre o quanto não fomos feitos para dar certo. Fomos feitos para nos adaptar, nos moldar, nos convencer do errado, nos esquecer dos machucados. Mas dar certo? Não, não tem como isso dar certo.
Então, lembrei-me das pessoas que já amei e daquelas pelas quais sofri, mas principalmente daquelas que sequer souberam disso. Eu mentia sobre estar bem, eu mentia sobre gostar, eu mentia sobre sentir. Eu era a farsa da qual tentava me livrar. Eu era o errado esperando que alguém milagrosamente me fizesse o certo. Mas como outra pessoa poderia ser responsável por mim? Às vezes, a gente se esquece que pra toda consequência existe uma causa. Não adianta tentar consertar os danos, sem antes desfazer os erros. Somos cíclicos e repetimos velhas atitudes em busca de novas resoluções. Assim, deixamos que nosso passado nos defina. Deixamos que as pessoas que não nos corresponderam nos prendam até hoje. Inconscientemente, abrimos mão da nossa liberdade de sentir por causa do medo de não ser o certo para alguém.
No início, entre mim e ele havia mais desconfiança do que respeito. Eu não aceitava que ele pudesse ser quem eu precisava, e exigia que me provasse uma fidelidade exacerbada, demonstrasse carinho em público. Eu pedia dele mais do que podia de dar porque precisava comprovar pra mim, acima de tudo, que eu merecia quem estivesse aos meus pés. Eu não fazia ideia do que o amor se tratava e achava que valor era algo que devia ser imposto. Mas a verdade é que eu me deixava guiar pelo medo e, aos poucos, me tornava o tipo de gente que mais temia.
Por ironia ou destino, a vida ensina que devemos testar o interesse, o apego e o colo dos outros porque isso evita que a gente se decepcione, se machuque. Mas ninguém lhe diz que, na verdade, você acaba por tratar os outros como teme ser tratado. Você se fecha e se acovarda na esperança de que não chorar por alguém seja melhor do que amar sem vê a quem. Amor não é perfeito, não tem como ser. São duas pessoas diferentes tentando provar pra si mesmas que merecem mais do que devem oferecer. Amor é sobre equilíbrio, desprazeres e parceria. Altos e baixos, sussurros e gritos. Quem compete não ama, pois não tem vencedores, tampouco certezas. Você deve dar o melhor de si sem poupar esforço, sem conter abraço, para que quando alguém tão disposto quanto você te encontrar saiba reconhecer em ti o certo mesmo diante dos erros. É só disso que você precisa.