Não te culpo por achar que seu caráter se fez quando atingiu teus tão sonhados 6 dígitos no contracheque. Nem por se orgulhar da bela mulher que exibe como troféu por ter cruzado a linha de chegada. Também não a culpo por definir suas conquistas aos feitos dos outros; tem gente que não precisa de mérito próprio, se conforma em ser a base ou, até mesmo, a sombra de alguém. Ou pior, tem gente que foi ensinada para isso. E trocou seu valores por um avental de dia e uma cinta-liga à noite.
Mas não me atrai abrir mão da liberdade de colher minhas próprias perdas, meus fracassos e subverter meus planos a todos enganos da solidão pelas regalias atribuídas a um belo par de pernas e uma mente vazia. Divergi o tabu que me impuseram de ser rotulada, quase condenada, à sina da mulher que já nasce interesseira.
Definitivamente, não tenho vocação pra ser alpinista de homem rico. Prefiro os tombos, os tropeços e as pedras que coleciono no meio do caminho, da história que escolhi pra chamar de minha. Simplesmente, não entendo como dinheiro pode dar valor a alguém. Atingir a tão sonhada estabilidade financeira – expressão idolatrada pela maioria – é atar os punhos com tuas próprias ambições. Afinal, quem está fadado a receber a mesma quantia durante toda a vida – independente de quanto seja – na sua mão não tem valor algum. Até porque, quando mais se tem, mais se gasta e mais se quer.
O topo se faz dos insaciáveis e, não, dos acomodados. Ou seja, basear suas ideologias, seus planos e, principalmente seus riscos, em dinheiro parece palpável, mas não é. É colocar um fim, um ponto final, numa jornada material, e não tem nada mais pobre do que mensurar o valor de uma vida. Pobres daqueles que o tem como foco e objetivo o dinheiro; ele é recompensa, consequência e, quem sabe, estímulo. Honestamente, o risco de colocar seus sonhos à frente dos ganhos materiais é verdadeiramente real; pode ser sentido, temido. Como respeitar quem limita seus planos à fatura do cartão de crédito?
Eu prefiro aqueles que se livraram das amarras que definem sua classe social. Prefiro os que não se veem como amaldiçoados, e nem se comparam com os maus exemplos a seu redor pra manterem-se apáticos.
Gosto dos que tem sangue no olho, sabe? Que tem mais histórias pra contar do que dígitos na conta bancária, que tem mais amigos ao lados do que influência e network. Eu gosto de caras de verdade, que não estão preocupados em sujar um terno caro, ou perder o Iphone ao se jogar no mar. Eles vivem, agem, se doam, se arriscam e, eventualmente, perdem também. Mas não tem problema, eles se orgulham de suas derrotas. O sucesso nada mais é do que o triunfo da tentativa sob o medo.
Prefiro aqueles que não tem receio de ampliar seus planos pra que caibam os meus. Que põem de lado a competitividade com que lidam com a vida, pra ser a alavanca de quem queira crescer.
Gosto de quem estende a mão sem pedir nada em troca. Que não enxerga as relações como concorrência, mas parceria. Prefiro aqueles em que eu possa assistir a novela de sábado ou discutir as diretrizes do senado do que desfilar em um evento de gala ao lado. E que não tente me comprar com presentes caros, jantares suntuosos, mas preocupe-se em me fazer rir durante toda a noite. Gosto daqueles que se acham merecedores de suas conquistas e, não, sortudos. Que valorizam sua essência e se desapegam do seu próprio imaginário de riqueza feito pra amenizar sua ânsia de ter vencido na vida.
Ser financeiramente inteligente, não é ser rico. É colocar os planos no papel, tirar os medos do armário, enfrentar os riscos que acompanham os ganhos. É ter em suas metas sucesso profissional, construir carreira, reconhecimento, ainda que seja como artista, jogador ou mecânico. É não temer o perrengue, o sufoco, a miséria, se tiver em mente um objetivo maior. É ser motivado por um sonho e, não, limitar o valor que o dinheiro atribuiu a ele.