Não acreditei quando te conheci, amor
E, logo, quis dar sossego ao meu desejo
De dividir meu coração.
Tanto que fiz, amor, pra te moldar ao meu jeito
Que engoli todos os defeitos
Que pudessem te roubar da minha ilusão.
Eu te pedi à qualquer preço, amor
Que paguei até por mim.
Mas eu estava cansada, amor
De tantos juramentos pra vida toda
De quem não sabe o que é o fim.
Tanto que te quis, amor
Que esqueci da minha liberdade
Abri mão da sanidade por um plano
Ou qualquer engano de que não era tarde pra nós dois.
Eu só queria, amor, ter a chance de viver o romance
Que desenhei no limbo que a solidão me pôs.
Não acreditei quando te reconheci, amor
E deturpei minhas verdades
Por querer uma cara metade que sequer precisava.
Você não sabe, amor, mas eu te escolhi como dependência
E criei uma carência pra me sentir realizada.
Eu bem que tentei, amor
Ouvir quando me dizia que você não era tudo que eu queria.
Mas não restava em mim qualquer lucidez
Pra enxergar que tudo que você fez
Era descaso e, não, acaso.
Não acreditei quando te perdi, amor
Que justifiquei o desencanto
Em cada pranto que me abatia.
Você sabia, amor
Que eu andei na corda bamba pra tornar realidade
O que não passava da minha própria vontade.
Tanto que te perdoei, amor
Que me desfiz em mil pedaços
Pra encontrar algum laço que ainda acreditasse em ti.
Quando eu desisti, amor, me entreguei à amargura
De não ter uma ditadura pra dar um basta à minha dor.
Mas no fundo eu sabia
Que só havia uma cura pra minha agonia se desfazer.
E assim esperei, amor
Que o teu nome jogado ao vento
Me levasse ao esquecimento de todas formas de querer.
E com o tempo veio, amor, a ternura do alivio
De não ter nenhum motivo pra me perder em teus caminhos.
Não acreditei quando me refiz, amor
E curei todas as feridas dessa vida
Só cativa por um de nós dois.
Mesmo descrente eu aprendi, amor
Que a melhor prisão é a do sentimento
E, às vezes, vale a pena o sofrimento pra se fazer quem é.
Agora eu entendo, amor
Que eu estava errada de ter feito de topo
Você que só me serviu de escada.