É notório que vivemos imersos numa era completamente digital. Não, não completamente, pois ainda estamos em fase de maturação dessa ideia. Mas com certeza vivemos numa época em que temos laços e relações digitais muito fortes, que serão levados a diante e passados para nossos filhos, talvez a primeira geração que não verá o mundo sem internet.
Não vou falar que vivemos relacionamentos efêmeros, passageiros, não. Quer dizer, talvez sim. O mundo está fadado a viver um tipo de relacionamento que a gente ainda não consegue explicar e talvez seja estudado em livros daqui há uns 50 anos(?). Falo de relacionamentos digitais. Sim, esse mesmo aí do seu amiguinho virtual do bate papo da uol. Sim, esse aí que você correu pra ver o e-mail dela na lista de presença da aula e adicionou no msn. Sim, esse que te cutucou no Orkut. Sim, aquele que te adicionou do nada no facebook porque tem alguns amigos em comum. Sim, esse que te deu match no Tinder… São tantas formas e tantas possibilidades que a gente fica pensando: “perdi meu amor na balada?”. Não coleguinha, você não perdeu, você achou. Ou melhor, ele te achou. Quer dizer, apareceu nas sugestões de amizade ali no cantinho da tela ele te adicionou e vocês já estão pensando em ter 2 filhos e um cachorro.
Tudo é conectado, a relação que você faz na sua cabeça depois de um “accept friendship” vão desde um simples “oi” no chat do Facebook atá a parte que você vai querer apresentar pra sua família. As pessoas estão cada vez mais propícias a esse tipo de relação, uma relação que começa no virtual e muitas vezes permanece lá. São bites e bites de ideias, dedos roxos de tanto digitar no teclado, noites pensando no que a outra pessoa está fazendo e horas checando o “ultima visualização” do whatsapp. Parece que a gente desaprendeu a viver só, parece que as pessoas tem uma necessidade imensa de estar conectado, de ter não ter algum tipo de relação física que as vezes acabam se viciando. É, isso mesmo… A nossa cabeça parece que fica condicionada a viver o digital e aquilo não muda. A clássica, paixão virtual.
Mas aí é que tá. Criamos uma espécie de ilusão, um sentimento enclausurado e quase que uma necessidade de ter aquela pessoa 24 horas no alcance dos dedos. Temos essa ilusão porque não temos toque, não temos carinho, não temos olho no olho. Não vou aqui entrar no mérito do que é o amor, do que é ter sentimento por alguém, mas quando a gente se submete a uma relação virtual estamos quase que sentenciados a uma falsa impressão de complemento. É tudo lindo, é tudo mágico. Você acorda de mau humor, mas mesmo assim solta aquele “Bom dia flor do dia” repleto de emoticons que nem de longe expressam aquele seu momento. Porque que nos submetemos a isso? Somos incapazes de ter alguém perto? Ficamos condicionados a nos “esconder” atras de palavras ditas pela tela do celular? Não dá pra viver esse conto de fadas a vida inteira.
Esse sentimento de falsa proximidade é, vamos dizer, promíscuo. Você deita a sua cabeça no travesseiro a noite e fica intrigado com uma serie de coisas que podem acontecer. “Ah Oscar, mas nos relacionamentos ditos tradicionais isso acontece também”. Perfeitamente, caro pimpolho, mas você não tem a ilusão de estar perto sem estar e não fica aí parado no tempo (aliás, parado não, porque no virtual tudo parece acontecer muito rápido e as mil maravilhas) pensando ter achado a sua princesa depois de um “oi, quer tc”.
Vale a lembrança, como eu disse lá no começo: nem tudo é passageiro. E, talvez, aquela tecla que não foi apertada justamente por medo de prolongar a ilusão, possa ser fundamental para a sequência ou não desse tipo de relação. Como uma frase que carrego pra vida diz que se você nunca tentar, você nunca vai saber, pode ser que seja melhor arriscar e, se houver possibilidade, tornar essa relação mais palpável e real, afinal, você não quer ser sempre conhecido como “aquele cara do tinder”.