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Esqueci a janela do meu quarto aberta justo naquele dia que choveu. Lembrei-me logo dos meus livros, todos empilhadinhos na escrivaninha abaixo dela com suas páginas dobradas e capas gastas. Não podiam molhar, de jeito nenhum. Voltei correndo pra casa para salvá-los, e acabei sendo salva. Só eu sei o tempo que levei pra me dar conta de que aquela agonia, a pressa e a ironia de pegar cada um dos sinais vermelhos foram atalhos até você.

Eu já te amava bem antes de te conhecer, pois com cada cara que me envolvi antes de ti pude moldar meus defeitos, minhas prioridades e, acima de tudo, entender a abrir mão dos meus preconceitos por quem realmente merecesse, e não só quem se mostrasse interessado. Eu já te esperava bem antes de entender a influência do próprio tempo sob minhas decisões. Foram tantas noites em conflito me perguntando quando chegaria minha vez que nunca vou esquecer daquele dia. Eu já te admirava muito antes de te conhecer porque toda minha expectativa, tão mal julgada por aflições do passado, se tornou esperança quando te encontrei.

Eu, que nunca havia aceitado a necessidade de tanta pedra no meu caminho, que tanto pedi por paz ou simplesmente uma colher de chá da vida, pude, finalmente, entender que cada uma delas construía uma ponte até você. Logo eu, que sempre fui insatisfeita, um tanto ingrata, já chorei baixinho tantas vezes lhe vendo dormir em plena gratidão por estar comigo. Eu, que já virei noites escrevendo sobre meu conforto de estar sozinha, me vi desesperada com a hipótese de conviver com a saudade que tenho de ti mesmo quando está ao meu lado. Eu, que sempre priorizei ser livre, descobri que liberdade é poder estar com quem quiser, quando quiser, e ainda assim, escolher todos dias estar com a mesma pessoa.

Quero muito acreditar que nada tenha sido por acaso, já que dessa forma, eu nem sequer me arrependo do meu exemplar novinho da Virgínia Woolf que ficou encharcado – se ela pudesse te conhecer, também iria entender. Poderia ser eu agora afogada em angústias procurando um espaço na estante de outras vidas, tentando insistentemente caber nas entrelinhas de outras histórias ou satisfeita em mentir pra justificar quão distante se fazia meu coração. Diante de todas as portas que se fecharam pra mim, justo uma janela aberta em um dia chuvoso me levaram a ti. Porque, de algum jeito, eu estava ali, tentando um desvio na rua, atrasada para o trabalho, justamente na hora certa, quando deveria estar. E tudo fez sentido quando conheci você, sem pretensão alguma, lhe pedindo uma informação no meio da rua. Já que por sua causa minha vida nunca mais foi a mesma.

 

 

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