Emma-Watson-1Felizmente, eu nasci com alguns parafusos frouxos. Nunca consegui ENXERGAR a “divisão” racial. Nunca me questionei o porquê de ter um coleguinha de uma cor diferente da minha. Para mim, era o mesmo que me questionar o porquê de algumas pessoas terem cabelos lisos e outras, cacheados. Genética, não é? Cada qual com a sua, se nenhum cabelo é igual, por que a cor da pele deveria ser? Isso sempre me pareceu óbvio. O mesmo se aplicava para orientação sexual, cargo profissional, aptidões e talentos artísticos e esportivos etc. Alguns eram bons com a bola, outros com o pincel, alguns gostavam de mulher, outros de homem, e daí? Isso é normal. Que sentido faz você achar que a forma que leva a sua vida é a melhor para outra pessoa se ela tem qualidades e, principalmente, uma genética completamente diferente da sua? Nada mais certo que a frase: cada cabeça uma sentença.

Ou seja, o feminismo nunca existiu para mim. Não passava pela minha cabeça que eu devia ater qualquer minuto da minha atenção a essa distinção. Eu realmente acreditava que era algo neandertal. Que minha mãe, por exemplo, havia DECIDIDO ser dona de casa porque era preguiçosa e não porque alguém lhe disse que o certo era o homem trabalhar e a mulher cuidar da casa. Inclusive, já briguei horrores com ela por acreditar cegamente que ela fosse simplesmente uma pessoa acomodada e, não, machista.

Que ao chamar um homem para abrir um pote, trocar uma lâmpada ou matar uma barata, eu o fazia por 1) sempre ralo minha mão fazendo força em tampas, 2) tenho medo de levar choque, 3) tenho nojo de matar a barata, e não porque fosse DEVER do homem. Sempre pensei que eu poderia fazer essas e quaisquer outras coisas – mesmo as que envolvessem puramente a força bruta – se eu quisesse. Acontece que, tendo o privilégio de quem os faça por ti, por que você o faria? Eu odeio até lavar meu próprio cabelo! Adoraria que alguém o fizesse por mim, seja homem ou mulher. Honestamente, se alguma vez na minha vida tive uma atitude machista, pondo a encargo do primeiro homem que me aparecesse a necessidade de fazer algo por mim, foi simplesmente por preguiça. OK, confesso que fui bem mimada também.

Ainda custo a acreditar que as “obrigações” das mulheres PERANTE os homens existam para algumas pessoas – por incrível que pareça, muitas delas. Diversas vezes, já ri alto na frente de quem as expusesse por inocentemente achar que fosse uma piada. Ironia sempre foi meu calcanhar de Aquiles; eu podia satirizar por um texto inteiro, mas não conseguia diferenciar uma ironia de uma verdadeira opinião vinda dos outros. Resultado: andei superestimando os humanos, sobretudo as mulheres, e angariando inimigos.

Feminismo não é coisa de mulher, e não está na moda como muitas pensam. Ao contrário do que eu achava, ele existe sim, assim como os demais preconceitos. Eu só não podia ver porque eu realmente acreditava que estávamos em uma escala de evolução MUITO acima; e esse é um dos meus maiores arrependimentos, pra falar a verdade.

Somos neandertais. E me incluo nessa porque mesmo não tendo o preconceito enrustido no peito, me tornei cúmplice ao negligenciar a importância de falar sobre isso. Como eu disse, achei que fôssemos melhores e me tornei a pior versão de mim.

Acontece que por mais essa luta seja antiga, o assunto seja batido e, honestamente, os significado de feminista tenha se desvirtuado com a cooperação das redes sociais, ainda precisamos discutir sobre. Precisamos entendê-lo, precisamos nos ouvir. Precisamos agir.

Ser feminista não é ser misógino, não é ser mulher, não é ser radical, não é se vestir como homem ou não depilar as axilas ou desrespeitar as opiniões masculinas sobre assuntos femininos (tpm, depilação, estética, ditadura da magreza etc) por achar que eles não sabem do que falam.  É ser a favor da igualdades dos gêneros. Um conceito simples, porém muito defasado.

Em pleno século XXI, ano de 2015, enquanto houver quem acredite que o futuro só vai chegar quando todos usarem roupas prateadas, estaremos às margens do progresso.

** ********

Respeito consideravelmente todos artistas que são engajados em causas que vão muito além de campanhas publicitárias para arrecadar fundos para instituições carentes (embora sejam indispensáveis mesmo sob o risco de boa parte da verba ser desviada). Se você tem a oportunidade de ter os holofotes atentos às suas palavras, use-as para o bem. Caso contrário, você não passa de cabide vivo para seus patrocinadores. A realidade é essa, independentemente do quanto seu espelho lhe diga o contrário. Você não é ninguém se não puder fazer algo de bom para alguém. 

Por isso, sou completamente fã da Emma Watson que, além de ser embaixadora da boa vontade da ONU Mulheres, não perde nem uma chance sequer de se manifestar em prol da igualdade dos gêneros. Inclusive, sua campanha lançada em setembro He for She (Ele por Ela) incentiva a participação dos homens em causas feministas também. E, mesmo sofrendo ameaças por trazer o assunto à tona, ela se sentiu mais fortalecida porque, afinal, isso só prova que é um problema real.

Fonte

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *