Antes de eu ter meu primeiro namorado, eu já sabia tudo que diria a ele. Já sabia as exatas palavras que usaria para me declarar. Eu ansiava por alguém que me fizesse sentir o mesmo que as poesias que eu lia me causavam: um calor que pressiona o peito, se arrasta pela garganta e embaça a vista. Eu queria a vida turva nas curvas de outro corpo, queria desgastar palavras doces até cuspi-las amargas. Eu queria ser clichê.
Fantasiava brigas que eu jamais permitiria existir com essa absurda relevância. Cogitava viagens que julgava serem perfeitas para nós dois. “Nós quem?”, uma vozinha dentro de mim gritava, e eu a calava com a saudade do que ainda poderia viver. Pra mim, “nós” existia tanto quanto “eu”. Mas o desejo é uma mentira que a nossa vaidade inventa. Eu existiria em qualquer circunstância. Nós, nem sempre.
Não vou mentir, eu esperava demais. Esperei por buquês de rosa e toda sua inutilidade em declarações públicas. Esperei cafés da manhã na cama, presentes de “mêsversário”, propostas inesperadas de me arrancar o fôlego. Esperei sentir-me tonta ao lado de alguém, que borboletas frenéticas me consumissem na expectativa de vê-lo. Esperei a pontada que formiga as mãos em cada despedida, e me encontrar sem saída em seus trejeitos. No entanto, não imaginava que o tempo passaria por mim sem me esperar. Uma menina com expectativas cria esperança, mas uma mulher assim cria decepções.
Depois de um tempo eu entendi que o coração não segue scripts. Minhas preferências e implicâncias mudavam de acordo com a atuação do personagem. Afinal, relacionamentos são ação e reação, e não teoria e prática. Não adianta discutir com quem tem certeza, nem teimar com quem tem rancor. Pessoas embora sejam maleáveis, não são moldáveis. Romantismo é algo que vem de dentro, é feeling. Não se ensina alguém a ter, mas valoriza-se a quem tiver.Pequenos gestos, às vezes, exigem grandes esforços que a gente insiste em negar. Eu estive cega pelo meu ego latente de castelo encantado, mas de olhos abertos enxerguei qualidades e me adaptei a defeitos. Maturidade é quando você não impõe suas prioridades, mas divide-as com alguém. Ninguém é perfeito, mas qualquer um pode ser atencioso, se for estimulado.
Cedo ou tarde a gente aprende que o amor é brega, é clichê. É um substantivo composto de antônimos; quando ferido, machuca. Quando transborda, se reprime. Quando perdoa, nem sempre esquece. Mas quando erra nunca lembra. Às vezes, mantém a cabeça distante, mas os corpos colados um ao outro. Às vezes, se doa tanto que não sobra nada para si mesmo. Mas, sobretudo, é plural. Amar no singular, dói.
interessante, tu és bela, com bastante conteúdo.