viajar-aprender-ingles-consejosDiferente do que nos faziam acreditar, desde pequena eu sempre tive muita curiosidade pelo desconhecido. Colocava o dedo na tomada, experimentava o que visivelmente era nojento (como carne de rã ou buchada), subia a escada do meu prédio no escuro. Meus amigos achavam que eu era corajosa e, talvez, eu fosse mesmo, mas pra mim, eu só era uma entusiasta incorrigível às margens da inconveniência. Ou inconsequência. Tive uma adolescência tão intensa quanto possível. Eu queria tudo, eu fazia tudo. Salve exceções da sorte que tive em discernir boas escolhas de ruins, e por isso nunca entrei em grandes apuros, de fato.

A questão é que minha vida passava como um filme em que eu esperava o clímax, o conflito, a solução e, por fim, a calmaria. Eu achava que esse era o rumo natural das coisas. Talvez por isso não tinha a mesma ânsia de um namorado para a vida inteira como minhas amigas na época. É claro que eu queria ter um namoradinho, queria me apaixonar perdidamente como nas comédias românticas, queria ter por quem ficar pensando a tarde inteira e por quem culpar quando estivesse triste, mas eu queria na mesma proporção fazer um intercâmbio, viajar o mundo, me encher de tatuagem, aprender inglês, francês e alemão, tocar violão, fazer teatro, e por aí, vai.

O ensino médio, para muitos, é uma fase decisiva. Alguns casais se formam e continuam juntos até a vida adulta. Outros, por acaso ou descuido, têm filhos que mudam toda trajetória de suas vidas. Uns optam por não fazer faculdade e “descansar dos estudos”, e outros começam um curso tão novos que quando o concluem não sabem o que fazer com o diploma. Contudo, poucas dessas pessoas se conhecem de fato.

Confesso que acho tão admirável quanto bizarro um casal permanecer uma vida inteira juntos. Sem intervalos, sem longos términos e voltas. Simplesmente juntos. Honestamente, à medida que o tempo passa involuntariamente mudamos. Tudo ao nosso redor nos afeta de alguma forma, até mesmo aquelas pessoas que só passaram por nós e que nos lembramos com certa indiferença, nos afetaram para que fortalecêssemos nossas preferências ou prioridades ou apenas gostos. Nem de longe isso as torna especiais ou indispensáveis na nossa formação – a maioria delas é somente um rosto borrada em uma foto amarelada – mas isso acontece de forma inconsciente. E manter um relacionamento contínuo é se adaptar, se respeitar e se moldar aos trejeitos e defeitos do outro. 

No entanto, se você sempre teve alguém ao lado, dificilmente sabe do que gosta e não gosta sozinho. Por isso tantas pessoas se tornam dependentes umas das outras, carentes. Patéticas. Como se conhecer se todas as suas escolhas foram feitas para dois? Acontece que não é possível sentir falta do que nunca se teve. Quem não conhece o outro lado, se acha completamente satisfeito. Não duvido que seja, não recrimino que seja, cada qual com suas ambições, mas há algum tempo descobri que o mundo se divide em dois grupos: aqueles que aceitam e aqueles que buscam.

Ser um profissional considerável, ter uma vida mediana, ter um casamento estável e dar as mesmas condições plausíveis para seus filhos, para muita gente é mais do que suficiente pra se considerarem felizes e realizados. E admito: até tenho uma certa inveja desse conformismo tão natural. Eu estou no outro grupo, sempre estive. O mundo não me basta. Sou do tipo que os olhos brilham com o inesperado, impulsiva ao ponto de ser tola, tão apaixonada quanto passageira.

Ser solteira é uma busca. Por alguém ou por si mesma. E por mais que seja viver envolta a uma atmosfera de recriminações e o constante preconceito de que não ter alguém ao lado é ser fracassada, é também a liberdade que nunca, jamais, quem casou com o primeiro homem da sua vida vai ter. E nem sequer me refiro ao fato de que estando solteira posso ficar com quem eu quiser, isso é o de menos. Aliás, isso é completamente irrelevante. Estando solteira eu posso fazer o que eu quiser. Aceitar o convite que eu bem entender, experimentar o que me interessar, me abster das opiniões sobre meu comportamento, falar o que der na telha. Me dilacerar, me confrontar, me debater, espernear. Posso me descobrir, me desfazer em pedaços, me recompor por inteiro.

Isto, porque eu sei que quando estiver satisfeita comigo mesma, consciente de meus percalços, das cicatrizes que ainda me latejam o peito, das aventuras de outros tempos, das alegrias de sorrisos plenos, essa busca se internaliza. Se completa. E eu, finalmente, vou poder estar totalmente entregue a quem merecer com quem que eu me divida. Compromisso tem que ser uma escolha, e não uma consequencia. Amor tem que ser conquistado, e não imposto. Quem não suporta a si mesmo exige dos outros uma completude inalcançavel. 

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