Nada em minha vida indicava que eu fosse me interessar por um cafajeste. Talvez fosse justamente isso – a incapacidade de prever – que nos guiasse até um. Ou talvez fosse a bermuda (dois números maiores) que pendia presa em um cinto deixando à mostra a cueca – e meus desejos mais sórdidos. Ou quem sabe fosse o cabelo comprido, o brinco na cartilagem da orelha e a conversão de todas as suas frases em gírias (não entende-lo por completo, tem seu charme). Ou porque ele faltava aulas por esporte, desrespeitava qualquer autoridade e tinha uma petulância no olhar de causar arrepios, principalmente quando lançado sob mulheres mais velhas na arrogância de crer que tivesse uma chance. Pura audácia.
Ele era nitidamente a escolha errada, e eu a Dorothy; ansiosa demais para percorrer esse caminho, e me policiando por sentir essa atração proibida. Acontece que quando confiamos no estereótipo para proteger nosso destino, desistimos de descobri-lo e nos agarramos ao preconceito. Eu podia ditar suas atitudes sem nunca tê-las visto, seu tom de voz sem nunca tê-lo ouvido.
Eu me preparei tanto para não me decepcionar que desaprendi a me surpreender. À medida que não alimentava expectativas sobre ele ser o cara certo (algo que eu já sabia não ser), me admirava com sua benevolência em tentar. Ele parecia querer, me querer. E eu fingia não me apegar. Mas nem toda decoreba de suas intenções traçadas como a tabuada puderam evitar que eu nutrisse a esperança de ser aquela por quem ele mudaria. Assim me tornei mais um número na estatística, cega, por querer ser uma exceção.
A verdade é que não temos como fugir dos babacas, tampouco negar a influência que um desejo-você-contra-minha-própria-vontade tem sob nós. Mas é imaturidade achar que tudo que já vivemos tenha sido o suficiente pra nos tornar impenetráveis. Nossas experiências nos fizeram humanos, mas não perfeitos. Se deixarmos as janelas abertas não adiantam de nada as portas trancadas. Ainda há muito menino que se orgulha de trazer no bolso os cacos de outro peito, e acha que perder é melhor que perdoar. Mas por trás de todo cafajeste, há uma mulher que acha que pode mudá-lo sem antes saber se vale a pena.
O problema é que chega um momento em que a frase “ele aprende, ele ainda é novo” não se aplica mais. Simplesmente, algumas atitudes deixam de ser falta de maturidade e se tornam falha de caráter. Para discernir um do outro, basta se perguntar por quantas vezes já deu uma segunda chance. A verdade é que nem todo mundo a merece.
Com o tempo a gente aprende a valorizar quem facilita as coisas. Sem roteiros, sem joguinhos. Quem nos aponta a direção e se oferece para caminhar ao lado. Homens de verdade, sabe? Com perspectivas de futuro, com suas próprias conquistas, que assumem seus erros e seus riscos, afinal, se envolver é isso. Na verdade, está faltando homem que se envolva, porque menino não se envolve, não liga, não se importa. Está faltando homem disponível, que liga no dia seguinte, que te tira do tédio da rotina, que queira mais do que secar um litro ou um cafuné em dia de domingo. Que sabe o que quer, e luta por quem quiser. Que entrelaça os dedos e mescla os planos de uma única vida inteira contada por dois. Em algum lugar entre curtir e crescer na vida, eles se perderam.
Mas quando você se levantar da cama para beber água e ele disser “odeio quando você vai embora”, esse vai ser aquele por quem você vai querer voltar correndo porque o amor costuma vir de quem não tem medo de ficar.