Tem gente que perdeu a graça, a deixou sentada no parquinho da escola conjurando vingança a todos os risos que pincelaram suas bochechas de rosa. Namore alguém que não se importa com isso, faz piada dos seus próprios defeitos, enxerga o umbigo de todos além do seu próprio mundo.
Tem gente que acha que crescer é tornar-se impassível, mascarar quaisquer sentimentos que o tornem vulnerável. Namore um cara que se arrisca, prefere asas que nunca voem do que viver sem a expectativa de tirar os pés do chão.
Tem gente que com o passar do tempo nos passa menos; menos carinho, menos respeito, menos consideração. Namore aquele que se tornar menos mesquinho, menos estressado.
Tem gente tão pequena que não caberia numa caixinha de fósforos ocupando cargos enormes. Namore quem não se limita ao tamanho da caixa.
Tem gente que se faz amarga, enrijece a alma e a expõe como medalha pra se dizer maduro. Namore quem saiba que maturidade é quando a razão não leva tão a sério os conflitos do coração.
Namore alguém que quando você chorar irá te abraçar com o sorriso mais quente, pois sabe que o som da sua risada te leva a lugares tranquilos. E que se lhe tirar do sério, vai debochar dos seus medos sem soltar sua mão nem por um segundo. Vindo dele não vai ser devassidão, vai ser um apelo.
De qualquer dia ruim, em que deu tudo errado, que ele te faz uma sátira. De todas as letras que você confundir em música que ele te dá um verso.
Namore um cara que vai te constranger dançando, mas nunca recusar uma música ao teu lado. Que vai gargalhar sem vergonha, sem motivo, sem pedido. Um cara que vai colorir o caos do problema, que vai abrir a caixa de Pandora dos teus receios.
Alguém não se conforma em ser catalogado, rotulado. Que pode esconder um cadáver debaixo da cama ou uma fantasia de carnaval no armário e manter os pés a dois passos do abismo com um sorriso no rosto.
Namore quem te ensine que não se pode evitar os momentos em que a seriedade é crucial, mas para todos os outros indispensável mesmo são as piadas internas, a implicância. Não a profundidade das coisas, mas a superficialidade dos problemas.
Um cara que vai te surpreender porque não segue um script; não precisa. Sabe aproveitar um sábado ensolarado digno de praia em casa, no sofá, no ócio. Já perdeu a mania de tentar ser certinho se equilibrando entre o bom senso e o bom humor; não se cobra, apenas vive.
Namore, por favor, alguém que não malda tudo que escuta e maldiz agora mesmo essas palavras que sequer mal lhe fizeram. E, às vezes, te fará se perguntar o que viu de tão certo em outros caras tão sérios. Namore alguém que já tenha saído daquela fase “quinta série”, e não te leve sempre na piada.
Mas, sobretudo, namore sem favor. Para namorar alguém, basta que o ame. Porque amor não se pede, amor não se impõe. Por favor não se namora, não se vive. Por amor, sim. Por favor, não.