Esses dias, me flagrei pensando nele. Em como seriam as unhas da sua mão esquerda, qual seria o cheiro do seu cabelo, onde a curva das suas costas atravessaria o meu destino e por onde andariam suas pernas enquanto não cruzassem com as minhas? Já me alertaram que me preparar não adianta. Amor não pede licença. Rouba o jeito, um desejo, um beijo. Rouba a cena como um artista de cinema em seu ato final de desespero.
Já me avisaram que eu talvez não o reconheça. Amor quando vem não se identifica, pelo contrário, às vezes, implica. Faz da sanidade um picadeiro e da esperança um castelo de cartas pronto para desabar na brisa da menor expectativa. Mas algo me diz que ele tem gosto de sábado de manhã e cheiro de final de seriado em dia chuvoso. Que o doce da sua risada produz mel do outro lado do mundo, e seus olhos tem a cor de beijinho-de mamãe-pra-sarar-dodói, sabe? Profundos, ardentes e azuis.
Já me disseram que eu talvez o conheça. Amor quando é verdadeiro não vai, fica. Que a arte imita mesmo a vida e, às vezes, alguns personagens que apareceram rapidinho no início retornam no final pra nos lembrar que se sentir em casa é uma questão de pele, e não de lugar. Nesse caso, eu acho que sua boca é salgada como o mar, e seu abraço me faz cócegas como música pelo corpo inteiro. E eu o canto todo tempo a fim de lhe mostrar meu coração que bate desafinado dentro do peito.
Já duvidaram que ele existia. Amor que passa leva também a certeza de ter vindo. Mas, dentro de mim, sei que suas palavras quando ditas na hora certa tem o poder de me guardar em seu bolso ou soprar as velas dos meus medos. E que seus passos incertos marcam os dias no meu calendário a tua espera. Sendo assim, não tenho pressa, entorno teu afeto feito de açúcar todas as manhãs. Tenho certeza que o teu sorriso perdido vai achar meu colo e derreter minha ansiedade com a ponta do nariz. Enquanto isso, durmo enrolada aos planos que teci nos versos que venho escrevendo.
Eu sei que às vezes soou menina demais fazendo ciranda com sonhos pomposos. Mas o amor que a gente sente é o que dá vida aos brinquedos feitos de fé. Porque a verdade é que eu já me cansei de mapear teus defeitos, trejeitos e acertos dentro do mundo que lhe definiu como certo. Aprendi que a importância é traduzida pela intensidade dos sentimentos e descrita em uma só língua feita para me satisfazer. Por isso, não preciso me preocupar com quem ele seja por fora, eu já o conheci no infinito que habita dentro de mim.