Quem me conhece sabe que não defendo em nenhuma hipótese qualquer estereótipo que acentue o “papel” do homem mesmo que seja bom. Tampouco da mulher, diga-se de passagem.Até o velho príncipe não me atrai. E também não sou de forma alguma preconceituosa quanto a orientação sexual. Mas eu tenho outros preconceitos, sim, dentre os quais se destacam: homens que batem foto no espelho levantando a camisa, homens que só falam sobre academia e pagam pau pra outros homens que só falam sobre academia e homens que batem selfie.
Honestamente, o que há com vocês, homens? Quando se tornaram compulsivos por seus corpos após o treino, seus olhos apertados fingindo-que-acabaram-de-acordar e seu perfil de óculos no carro? E aqueles biquinhos com sobrancelhas arqueadas? E por que ninguém mais usa camisa em foto? Pra mim, vocês perderam a autenticidade, a espontaneidade.
Nem de longe quero bancar a puritana. Embora eu ache que entre a arte da fotografia e o exibicionismo há um abismo que a maioria das pessoas se afunda – principalmente se lhe garantir um punhado de curtidas. A impressão que eu tenho é que a geração selfie está ganhando espaço em uma artimanha utilizada até então pelas mulheres. Homens batem foto desde sempre, ok. Inclusive nus, ok. Mas venhamos e convenhamos, sem tocar no assunto do tabu da indústria pornográfica com as mulheres (até a relação entre duas mulheres é feita para os homens), revistas de homens nus são, em sua maioria, vendidas para homens. Não sou eu que estou dizendo; contra dados não há argumentos. Também tem aquela história de que homens são mais visuais e mulheres mais emotivas (veja aqui), de modo que não precisam ver, assim como os homens, pra se estimularem. Mas nunca se sabe até que parte é verdade ou se é consequência do preconceito, enfim.
Então, o que ganha um cara ao se exibir dessa forma nas redes sociais? Neste momento, me odeio por me expressar de uma forma que acho ser preconceituosa demais para o meu gosto. Mas eu não consigo não me questionar sobre o que passa na cabeça desses caras. Quando eu olho o perfil na rede social de um cara, e pode ser o mais bonito do mundo, se estiver lotado de selfies, efeitos exagerados e partes do corpo aleatórias, a primeira coisa que eu penso é “Caramba, ele se acha muito lindo, só pode”, e automaticamente eu o descarto. Ou melhor, pego abuso. Não consigo me sentir atraída por um cara que está constantemente preocupando-se com o que as pessoas pensam dele (principalmente quando sequer conhecem metade daquelas que o seguem).
No início do ano, uma pesquisa revelou que homens que batem muita selfie tem tendência à psicopatia, além de um notável narcisismo, mas não revelaram haver nenhum risco nisso (aqui). Já outra pesquisa constatou que homens são, sim, mais narcisistas que as mulheres (aqui). Ou seja, tudo leva a crer que a geração selfie já tinha outros meios de se enaltecer porque tem vontade de poder, exibicionismo e a ideia de que merecem tudo. E com a epidemia de redes sociais em que qualquer investimento publicitário te transforma em um famoso-modelo-ator sem que sequer precise merecer encontraram o ponta pé perfeito. Em outras palavras, aparentemente eles não se tornaram assim, mas sempre foram e simplesmente agora tem um meio de evidenciar isso. Mas narcisismo, apesar de emanar uma confiança invejável e uma autoestima inabalável, como qualquer outra coisa na vida, por se tratar de um excesso não é bom.
“O narcisismo está associado a várias disfunções interpessoais, como a falta de habilidade para manter relacionamentos saudáveis a longo prazo, comportamento antiético e agressividade”, disse Emily Grijalva, de acordo com um estudo publicado no jornal Psychological Bulletin.
A questão é que se eles fazem isso para conquistar mulheres (ou homens, quem sabe) estão fazendo errado.
E vou falar pela parte que me toca: nós não precisamos de corpos sarados tanto quanto precisamos ouvir que estamos lindas assim que acabamos de acordar. Não precisamos de uma reeducação alimentar tanto quanto precisamos de uma boa conversa no jantar. Não precisamos ver uma barriga tanquinho tanto quanto precisamos de companheirismo. Não é a sensação de ter conquistado alguém “muita areia pro nosso caminhãozinho” que nos conforta, mas saber que aquele alguém todo dia nos conquista de alguma forma. Sentir-se atraída é importante, mas atração não tem necessariamente a ver com beleza. Amor verdadeiro não é sobre tesão, não é sobre vontade ou querer, é estar com quem nos desperte o melhor. É ter alguém que seja o nosso “eu nunca senti isso antes”.