Ela estava disponível demais, a verdade é essa. Não me refiro sequer a falsa ideia de conquista que se fazer de difícil que o orgulho retrata, mas ao fato de que ela esperava ser escolhida por alguém, e não, escolhê-lo. De qualquer cara que conhecesse espremia o máximo de qualidades que se encaixassem dentro do seu perfil ideal e peneirava seus defeitos para que não afetassem o suposto futuro da relação. Ela queria ser aceita, queria que ele a quisesse antes de se perguntar se também o queria. Ela queria que ele a expusesse aos amigos e a família ignorando o peso que isso poderia ter.
Queria que ele a convidasse para sair em um sábado, quando ela mesma sentia vontade de sair com as amigas, só para sentir que ele fazia concessões por ela. Ela queria ver dele esforço, sacrifício, porque aprendeu por intermédio do fracasso alheio que isso representava o valor que ele via nela. Mas não era aquele que via em si mesma. E ainda assim, com todas as falas ensaiadas, não sentia-se merecedora ou sequer apaixonada.
O problema era que ninguém podia saber o que era melhor pra ela além de si mesma, portanto, enquanto esperasse ser escolhida (ou reconhecida por seu esforço em ser perfeita) estaria à deriva em relações falhas. Ela deveria assumir o controle da própria vida, pois à medida que se conhecesse também estaria mais perto de conhecer alguém que valesse a pena o esforço do molde, da adaptação. A questão é que qualquer pessoa poderia lhe trazer alegria por algumas noites ou lhe roubar sorrisos perdidos, mas não seria aquela por quem seu coração bateria mais forte.
Ela não podia confundir carência com amor; um lhe fazia conformada, e o outro, confrontada. Sair da zona de conforto era uma das formas de trazer à tona o seu melhor. Quando ela aprendesse a decidir por si só com quem merecia se envolver – e não ficasse à mercê do aval de satisfação alheio – o amor lhe escolheria. Ela estava disponível demais para qualquer um que se interessasse, menos para si mesma. Quem não conhece o próprio amor, não o reconhece em ninguém.