amor-couple-cute-igottapeenow.tumblr.com-love-Favim.com-103034“Eu não estava numa fase para namoro, por isso terminei com ela…”, ele dizia e eu pensava: cafajeste. “Mas agora estou cansado de balada, sabe? Quero me focar em crescer profissionalmente…”, ele dizia e eu vociferava internamente: clichê. “Quero estar com alguém que entenda isso, e respeite minha liberdade…”, ele dizia e eu continha um “canalha” na ponta da língua.

Nem acreditei quando quis me catequizar com esse discurso de bom moço. Fui praticamente eu quem o criou! Eu sei de cor e salteado todas as expressões que ditas na hora certa são agradáveis a qualquer ouvido feminino. Fui bem treinada. Escondo a malícia de, por muitas vezes, estar alguns passos à frente de quem flerta comigo. “Esse é uma perda de tempo”, penso logo após cinco minutos de conversa. A partir daí, não presto mais atenção em nada do que ele fala, apenas fico me perguntando se vale a pena ou não ficar com ele. Consciente de que no dia seguinte ele provavelmente não vai ligar e que pode levar até três dias para dar notícia no whatsapp. E também que eventualmente irá me chamar para sair dentre a segunda e a quinta feira. Conhecido. Sei tudo desse tipo. Tudinho mesmo. Pelo menos, era isso que eu pensava.

Sem mais puritanismo, às vezes, a gente simplesmente está afim de qualquer coisa ou tão desocupada quanto a oportunidade poderia pedir. Vira uma dose, duas, três, vira o rosto e beija. Tudo errado, eu sei. Noite perdida, eu sei. Poderia ter ficado sem essa, sei disso também. Mas quem está contando os pontos, afinal de contas?

Histórias de paixão pela pessoa errada? Já ouvi mais de cem! Chegando até a acreditar que o cafajeste tem um magnetismo natural e irresistível, e não que eu estava bêbada ou desesperada o suficiente para conhece-lo. Mas, no fundo, a gente nunca acha que vai acontecer com a gente, acha? Já disse: eu fui treinada. E mesmo assim, aconteceu.

Aposto que você já imagina o final dessa história. Ciúmes, posse, choros em público, não é? Desespero, carência e nem um pingo de orgulho. A despedida do amor próprio. A supervalorização de pequenos gestos vindos de quem aparentemente não faria igual por ninguém. O conformismo de que ele não pode ser melhor do que isso, só resta aceitar. Dois protagonistas conturbados disputando a audiência de um remake. Nem valeria a pena, afinal.

Mas essa não é a minha história. Eu sei, é de muita gente por aí, mas não a minha. Aliás, os outros casos que eu conheci nem tiveram a mesma sorte. Opa, eu disse sorte? Eu quis dizer força de vontade. Continuam iguaizinhos: sozinhos, largados por ex, ostentado por futuras. Vazios. No nosso caso, nem sequer partiu de mim. Eu não esperava dele nem o cheiro impregnado no meu lençol, tampouco traçar planos junto. E mesmo assim, aconteceu.

Ele mudou como em um milagre divino bem estruturado para me provar que o preconceito é uma armadilha, é auto-sabotagem. Não foi devido a mim, a exercícios de fixação de comportamento, ao adestramento de trejeitos. Foi mérito dele, mas gosto de pensar que tenha sido por minha causa.

A gente rotula tudo aquilo que não pode compreender. A gente se afasta de tudo que não consegue controlar. A gente tem medo. É mais fácil viver assim, confesso. Já pensou o desgaste que teríamos em investir em qualquer criatura? A diferença é essa: a mudança não é consequência. Não é castigo de brigas colossais por traições sem sentido, nem punição para o esquecimento de datas comemorativas. A mudança é causa, força de vontade e, sobretudo, índole. Às vezes, boas pessoas escondem-se numa carapuça voraz, são ovelhas em pele de lobo e conseguem aos poucos, com o estímulo adequado, se desprender da necessidade de proteção.

Todo mundo erra, todo mundo sofre, todo mundo fere e é ferido. Se ater a isso é perda de tempo, exaltar os defeitos e colidir com os arrependimentos. Desnecessário. A verdadeira capacidade de ser feliz diante disso é vista no esforço de mudar, na consciência voluntária de melhorar. No entanto, pessoas não são iguais, nem todo mundo tem jeito. Pra discernir caráter é preciso ter um pouco mais de experiência tanto quanto menos inocência. Mas eventualmente a gente aprende, principalmente, se pararmos de medir a importância de sentimentos que nunca nos pertenceram, de pessoas que nem sequer se doaram.

Sabe, ao longo da minha vida pode ser que não seja ele. Quem sabe? Mas agora é ele, sou dele. Ainda não entendo o infinito cabível dentro de um momento para duas vidas. Mas estou sendo bem treinada. Felizmente, mesmo assim, acontece.

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