Já apostei comigo tantas vezes não ir atrás de você, não procurar saber da sua vida, evitar os lugares em que você possa estar. É patética a necessidade que eu sinto de você. Fico aqui, sozinha, juntando os cacos da nossa história à procura de qualquer pista que me faça acreditar em recomeço. Confesso que trapaceio uma vez ou outra, escondo a parte que não demos certo, que discordamos e, às vezes, até mesmo toda a razão da nossa separação.
Podia ter sido diferente, sei bem disso. Depois que passa, fica tão fácil pontuar nossos erros, as vezes em que eu poderia ter nos poupado de mais um espetáculo de insinuações que circulavam minha insegurança. As vezes em que você poderia ter sido honesto quanto a sua falta de importância em meus interesses. As vezes em que nós dois nos viramos para lados opostos e fingimos dormir para não encararmos nossa covardia em continuar cara a cara.
Depois que passa, a gente até rir, não é mesmo? Dos mal-entendidos tão bem bolados que pareciam perfeitos, dos maus-olhares tão bem ensaiados que pareciam piada. Depois que passa, a gente até esquece do porquê começou, do sentido que víamos em insistir nas falhas que não tinham mais conserto. Do apelo que tínhamos em pedir chances que não cabiam em si possibilidades de recomeço.
Não me leve a mal, esse jogo é meu e eu não gosto de perder. Gosto de criar outros finais pra nós dois e reconta-los até que soem reais. Às vezes, só os escrevo pra poder concretizar o que o coração idealiza. E ali, entre tantas outras histórias verídicas de amor, meu conto de fadas se torna realidade quando alguém se identifica com ele, e eu chego a acreditar que não fomos uma ilusão.
O problema é que a gente só vê tudo isso depois que passa. Mas depois a estação muda, o calendário perde a data. Depois o que era lindo, envelhece. Depois a paixão esfria e a saudade nos enlouquece. Depois o sentimento muda, e o tempo nos emudece. Depois o sol nasce outra vez, mas no peito chora um coração que adormece. Depois, infelizmente, do amor que nos unia, a gente se esquece.