Um universo de possibilidades, uma infinidade de desencontros.
É assim que posso definir em uma simples frase o mundo dos relacionamentos. Cada vez mais, as pessoas têm se conhecido menos. Ninguém mais conversa no elevador. Nos bares, os grupos de amigos são “fechados”. Interagir com a mesa ao lado é crime dos grandes. Nas baladas e nas cervejadas da vida, até rola uma paquera. Afinal, a bebida ativa a carência e aí todo mundo revela o seu real desejo. No entanto, raramente passa disso. Pedir o WhatsApp após um beijo é quase que o equivalente a pedir em casamento. Ligar então, nem se fala.
Há uma resistência, mesmo que inconsciente, em conhecer gente nova. E isso é uma contradição enorme, já que, a grande maioria revela o desejo de conhecer alguém. As pessoas estão carentes, reclamando por aí que querem um grande amor, que não encontram a pessoa certa e que tudo está muito difícil. Porém, ao mesmo tempo, estabelecem uma barreira e parecem carregar consigo uma placa: não se aproxime. Têm tanto medo do envolvimento, que evitam o contato.
E aí surgem os aplicativos de relacionamentos para facilitar que as pessoas se conheçam diante de tantos desencontros. Eu mesma já fui adepta deles. Tinder, Happn, Once e por aí vai. São facilitadores, diante de tantas resistências. Ou melhor, deveriam ser. A intenção é se conhecer. Todos estão lá com esse objetivo, apesar das particularidades. No entanto, se conhecer parece estar restrito ao match. Você deu like na pessoa; ela também: match! Pronto. Está feito. Está conhecido.
A partir disso, já é envolvimento demais. Principalmente para alguém que você conheceu no Tinder. Ou no Happn. Ou em qualquer outro aplicativo. Ou até mesmo no elevador. Na esquina de casa. No trabalho. No bar ou na balada, tanto faz. Sempre parece ser envolvimento demais. Há um limite para o se conhecer que não deve ser ultrapassado.
A resistência continua. Menos conversa, menos retorno após o primeiro encontro, menos olhar correspondido. Em contrapartida, quanto mais matches, melhor.
Quanto ao sentimento, quanto menos, melhor. Infelizmente.
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