Eu nunca aprendi a pular de ponta na piscina. As tardes de verão no clube eram tomadas por tentativas fracassadas de fazer o salto perfeito. Fazia questão de seguir todos os passos: ficava bem na ponta da borda, posicionava os pés no meio, mirava um ponto na água, curvava o corpo e aí saltava. O resultado era sempre um desastre. Ou saía com a barriga vermelha do impacto, com o nariz cheio de água ou meio tonta. Era fato. O salto nunca era certeiro.
E continua não sendo. Dessa vez, não só em direção à piscina, mas também às incertezas dos relacionamentos. Mesmo sabendo que o resultado pode ser novamente um desastre, eu continuo pulando em cada relação de ponta, de cabeça, com tudo. Dando o máximo de mim, me entregando a cada salto, mesmo que a temperatura esteja fria. E é o que acontece na maioria das vezes: frieza demais para saltos profundos.
Além disso, há a falta de noção entre a profundidade da piscina e o tamanho do salto. Ou seja, piscinas rasas não suportam grandes pulos. Caso isso aconteça, além da barriga vermelha, você pode sair seriamente machucado. No entanto, a gente continua a insistir em piscinas ou pessoas rasas para uma entrega deliberada. Cria-se a ilusão de que vendo de cima, elas não são tão rasas assim não é mesmo?
Aí você só descobre a dura realidade quando já saltou. Quando já se entregou, esperando realizar o melhor salto possível. Quando criou expectativas, desejando, com afinco, que a piscina não fosse tão rasa assim. Doce ilusão. Você não quis acreditar no que via e decidiu arriscar. E, como todo risco, a consequência. Nesses casos, ela pode ser dura e dolorosa.
O jeito é sair da água e esperar o próximo salto. Naturalmente, ele será mais cauteloso. Você vai preferir dar um pulo silencioso ou até mesmo optar pela escadinha. Sentirá a temperatura da água, analisará a profundidade para, só então, entregar-se de cabeça. Depois da dor, o cuidado é imprescindível. Permanece-se um estado de alerta até que o próximo salto seja certeiro.
E talvez ele demore, infelizmente. Você vai precisar de paciência e esforço para que ele dê certo. O importante é que, apesar das barrigadas, você continue tentando. Assim como eu que, até hoje, ainda não aprendi como pular de ponta, mas que não deixo de dar inúmeras “barrigadas” pela vida.
E de “barrigada” em “barrigada”, um dia, acertamos o pulo.
—
Leia mais textos da colaboradora no Sem Travas na Língua