Acredito que essa seja a expressão mais dita por mim desde quando eu era uma garotinha esquisita com os dentes pra fora. Se tem uma ideia que eu defendo é que a coisa mais importante num relacionamento, o verdadeiro pilar que sustenta todas dores e amores, é a sorte – ou destino ou macumba – de encontrar alguém que queira a mesma coisa que você. Neguinha, eu falo isso porque definitivamente não é fácil. Aliás, vamos por partes: pra começar a falar disso, esqueça tudo que você viveu em relações anteriores. Esqueça sua lista de erros e acertos talhados à tanto gosto por dentre as lágrimas e as alegrias que colecionou nessa vida. Pode esquecer teu namoro de colégio, pode esquecer teu namoro no início da tua fase adulta. Na verdade, esqueça também tudo que aprendeu com as princesas da Disney, a Malhação, as repetitivas novelas do Maneco e, principalmente, com seus pais.
O grande problema dessa geração de amantes afoitos é a facilidade de culpar o exemplo que teve em casa – muitas vezes mal sucedido – de casamento e as mágoas que guarda à tanto esmero de antigos amores. Mas agora, neguinha, começou a fase hardcore. Agora é pra valer! É agora que o bicho vai pegar! Não temos mais uma vida inteira pela frente, nem tantos sonhos e planos imaculados e tampouco a coragem de expor a cara à tapas. Na realidade, nos tornamos grandes covardes. Estamos compelidos pelo medo de não dar certo, não ser correto, não ser “prestável”. Estamos manipulados pela culpa. Nos martirizamos pelos declives imperfeitos de não caber nos nossos planos outro alguém pra se importar. Mas uma certeza eu te dou: isso não é egoísmo. É a pura ignorância de nós mesmos.
Eu aposto o quanto você quiser que você não gosta das mesmas coisas que gostava há 3, 5, 7 anos, que não tem o mesmo prato favorito, nem a mesma música matinal. E nem mantém as mesmas manias e se refez em novos tocs. Também aposto com você que sua opinião sobre as pessoas mais próximas mudou. E você já proferiu frases do tipo “Ele não é mais o mesmo. Estou decepcionada.” Mas, para pra pensar; e você, ainda é a mesma? Garanto que não. Então, por que deveria se apegar às ideologias criadas um dia pra soarem perfeitas de relacionamento? Por que acreditar que seu par ideal de ontem é o mesmo de hoje? O que isso te faz? Inconstante? Efêmera? E se concordar que seja, por que deveria acreditar que é ruim? Quem foi que disse que o constante é certo, perfeito? Quem foi que disse que princípios se medem através da inflexibilidade de suas opiniões? Pessoas mudam, meu bem. Cedo ou tarde. No tempo delas, cada uma no seu. Se resguardar no afago de dizer “Eu sempre fui assim” não te torna melhor, tampouco, certa. Se apegar à ideia de que “é assim e ponto final” não te torna íntegra, tampouco, honesta. Na verdade, se é assim, então você anda mentindo pra si mesma muito mais do que acredita não mentir para os outros. E você sequer se conhece de verdade.
A questão é que a única coisa que realmente permanece imutável é a certeza de que somos completamente mutáveis, adaptáveis, flexíveis, voláteis. E o que fomos, e como agimos diante dos relacionamento anteriores, simplesmente, não nos representam mais. O que nos resta disso tudo? Experiência. E outra coisinha que até então não nos era cabível, não entrava nos nossos critérios de avaliação: nossos planos. Sendo assim, à medida que você cresce se torna cada vez menos o que você achava que fosse, exige cada vez mais o que você não pode dar. Essa estabilidade que procura, você não tem pra oferecer. Essa certeza de caber nos sonhos de alguém, você não pode obter. Esse medo de ser esquecida, você não pode deter. Então, por que de veras deveria se preocupar em estar com alguém que goste das mesmas coisas que você? Que tenha seu estilo musical, seu interesse em filmes, seu corpo ideal? Sabe de uma coisa? Nada disso é real. Nenhum desses padrões sequer existe.
Relacionamentos precisam ser reais. Precisam ser sentidos, palpados, compartilhados. Enquanto você estiver procurando quem lhe supra o estereótipo, vai se frustrar com as perdas. O que você quer, nem sempre é o que você precisa. Esse “dar certo” nada mais é do que encontrar alguém que seus enganos casem. Que incentive seus sonhos, que se molde à teus planos. Que, talvez, não tenha nada a ver contigo em diversos quesitos – e por isso, te desafie a se conhecer melhor – mas que tem essa vontade de crescer ao teu lado, essa garra de fazer acontecer. Alguém que tira as metas do papel, que encara o tranco pra viver com intensidade se for ao seu lado. É compatibilidade de interesses, minha amiga. Você não precisa se moldar aos defeitos de ninguém, nem aceitar as mudanças que não lhe convém. Também não precisa condenar o que não concorda, nem exigir atitudes que vão além do que alguém pode oferecer. Você só precisa se permitir, se conhecer dentre os percalços de relacionamentos anteriores. Ter um objetivo que te faça ver além da ideologia de par perfeito e uma força de vontade que não te torne um desistente. Fora isso, basta valorizar quem escolheu percorrer esse caminho contigo. Por você. É só disso que você precisa.