Ei, chega aqui, deixa eu te falar. O que te faz pensar que eu estou querendo te namorar? Não entendo de onde tu tiraste isso. Sério, chega a ser cômica essa tua insistência nesse assunto. Você criou uma história paralela ao que de fato estava acontecendo. Não sei onde, nem como, nem o porquê, começou a acreditar que eu esperava de você o tal do meu príncipe encantado – que ridículo!
Ei, chega aqui e entende. Não querer uma relação séria não significa safadeza. É só para não complicar a vida, sabe?! Porque, convenhamos, coisa complicada não são as equações de física da escola, complicado é esse lance de se apaixonar.
Ei, chega aqui. Eu te advirto, não se apaixone por mim, não perde teu tempo, porque não costumo demorar. Depois que termino o que eu acho necessário ser feito, parto, sem a menor pretensão de olhar para trás, gosto de colecionar histórias e não me importo com a fugacidade, acredito que as coisas duram o tempo necessário para se tornarem eternas.
Ei, chega aqui, mas não fala muito. Não vem com esse papo furado de “o amor acontece”. Acontece, okay, mas nesse “trem” aí fica quem quer. Eu fujo de fininho, tão sutilmente que chega a ser quase imperceptível, indolor para o outro, mas não para mim, pois eu levo marcas de todos os corpos que toquei, já me acostumei a ser assim, já se tornou hábito, já está contido em mim. Fujo com uma facilidade tão exorbitante que quando percebo, já me amarrei em outro.
Ei, chega aqui, eu sinto em te informar, mas só queria o teu corpo. Aqueles beijos, aqueles encontros, tinham um único objetivo, simples, claro e conciso: tua cama. Não queria outro filme bobo ou outro papo amistoso, queria exatamente o que acontecera: o teu suspiro de prazer, eu nua em despudor, você louco, quase rouco num arfar confuso entre trovejadas de palavras, que iam desde “anjo lindo” até expressões de baixo calão, que ofenderiam muitas mulheres – mas não à mim.
Ei, chega aqui e me deixa dizer, eu sigo o meu rumo e você o seu. Eu saio porta a fora, sigo tranquila na rua desconhecida, onde de familiar não resta nem a tua casa, pois só serviu para sucumbir nosso desejo, – e que desejo – que ainda há para desperdiçar, desde que seja apenas isso, desejo e nada mais, acredite, eu sei viver assim.
Ei, chega aqui e tenta aceitar. Eu que te usei, bobo. A TUA cama que ficou marcada, não a minha. É nela que tu deitas todo dia e lembra-se daquela noite quente – como todas nessa cidade infernal – suor, pele na pele, mais suor, nenhum espaço entre nós, calor e mais suor, um encaixe perfeito, naquela noite fomos um só.
Ei, chega aqui e não me julga. Não estou tentando bancar a durona, quero apenas te fazer compreender que mulher também pode usar e abusar, querido. Não é perversão, é direito de sentir prazer, há quem prefira o lobo mal e eu sou dessas.
Ei, chega aqui. Entende de uma vez por todas: fui eu a aproveitadora dessa história, fui eu a mentirosa, fui eu a dissimulada, fui eu a fingidora, fui eu.
Ei, chega aqui e me escuta, eu não vou te pedir desculpas por ser do jeito que eu sou, foi você quem inventou de se meter comigo, de entrar na minha loucura, eu estava quieta, tentando evitar mais confusão na minha vida já tão fora de rumo.
Ei, chega aqui e aceita que foi você quem se perdeu nessa história, foi você quem criou expectativas completamente impossíveis e inexistentes, estamos falando de mim, por favor, não espere muito. Não fica pensando que eu estou frustrada, na verdade, acho que nunca tive meus quereres tão bem atendidos. Foi você quem comeu na palma da minha mão, baby.
Ei, chega aqui e fique atento. Escrevo para deixar claro que tudo o que tu achas que fizeste comigo, EU que fiz com você. Quando você liga para mim, achando que eu estou sofrendo, louca para ter mais de você, está enganado, de uma forma tão grande, que engana a ti mesmo, pois é você quem quer mais de mim; você quem quer andar de mãos dadas, uma noite de sábado tranquila com TV, pipoca e conchinha.
Ei, chega aqui e perceba, você se perdeu em mim e não consegue mais se achar. Sinto muito, se você é covarde para admitir seus sentimentos e, em vez disso, tenta impô-los a mim numa tentativa ridícula de me ver de novo nos teus braços.
Assim eu explico, sem mais, sem até logo.