A manchete do jornal de ontem, hoje, é repassada com convicção por pseudo-adoradores da informação que esperam com os compartilhamentos o mesmo que andar na rua com uma melancia na cabeça. Surge uma nova subcelebridade repentina, desesperada por se consolidar em mais do que 15 minutos de fama. As gafes cometidas em programas ao vivo são imediatamente crucificadas pelas redes sociais, ora sendo intencionais e nos fazendo de fantoches e ora massageando nossa arrogância do saber. A comunicação nunca esteve tão afiada, acirrada e cercada. São novas formas de alienação, uma minoria movimenta o que será notícia e o que será esquecido. Ninguém está a salvo. Fato. Mas à medida que nos expandimos, nos conectamos, também nos perdemos. Você é algo além do que demonstra ser? Onde sua vida está acontecendo agora?
Esses dias recebi a foto de uma garota nua em um dos meus grupos. Normal. Francamente, eu já sei “tudo” sobre a vida dela sem nunca termos trocado um “Oi”. É do tipo exibicionista, que se envolve em escândalos, provavelmente por achar pouco o quanto involuntariamente estamos envolvidos – ou intrometidos – na vida uns dos outros. Tem gente que simplesmente gosta. Fazer o quê? E dava pra perceber que fizera as fotos com prazer – e para dar prazer. Foram planejadas, escolhidas a dedo. Ela, definitivamente, gostou de fazê-las. A questão é que ela foi notícia no decorrer do dia, assim sendo, surgiram várias teorias dos motivos pelos quais teria se exposto e se havia sido intencional. Até aí, tudo bem. Afinal, alimentamos nossas verdades absolutas de especulações e fatos distorcidos pra justificar nossa lógica. E durante esse processo surgem aqueles que se confortam com a informação mastigada, a ideia que vier de mão beijada, o comodismo de uma discussão que termine com “é, tens razão”. E surgem os formadores de opinião e, graças a eles, todo debate vale a pena.
Acontece que em meio a inveja de suas curvas e a premissa de seus atos, alguns questionamentos eu não pude deixar passar despercebido e já que tenho essa poderosa arma de destruição em massa comunicação em mãos, vou fazer bom uso dela.
“Por que ela mandaria fotos assim pra alguém?!”
Por que ela NÃO mandaria fotos assim para alguém? Sejamos francos, todo mundo transa. Todo mundo gosta de sacanagem. Toda mulher é, ou a sete chaves esconde o desejo de ser, puta entre quatro paredes. Mas justamente por causa desse pensamento opressor de que mulher “direita” não deve se expor, ainda que seja para o parceiro, ainda que seja por tesão, ainda que seja porque simplesmente gosta de se exibir, que surge esse depreciativo conceito incumbido do suposto merecimento de tornar público. Para as mais conservadoras, essa ideia já está tão consistente que suponho que não consigam sequer terminar meu texto. Principalmente porque, honestamente, vai ficar ainda pior. Se você nunca parou pra pensar sobre isso, agora vai pensar.
Quem foi que disse que toda manifestação sexual deve ser promíscua? Qual o cara que não gostaria de receber fotos, vídeos, textos etc, da parceira? Qual a mulher que não gostaria de ser aquela por quem ele se excita – e excitar-se também – de todas as formas? Isso é independente de qualquer relacionamento estável, é alheio à intimidade e ao sentimento. Isso é tesão. E é natural, sim. E, sinceramente, bastante necessário em casos de relacionamento à distância. Não é à toa que a cada dia surge uma nova plataforma pra explorar esse lado safado nas pessoas. 61% das mulheres apreciam vídeos eróticos, assim como 89% dos homens. E apenas 6% dos casados com filhos fazem sexo todos os dias, a mesma estatística de casais que nunca fazem sexo. O índice de traição é maior em 52% das pessoas que admitem estar infelizes sexualmente.
Então, o que realmente falta é maturidade ideológica. Estamos acostumados com a ideia de sociedade que nos foi imposto, ensinado. Nos “adestraram” a aceitar sem questionar, punir sem ouvir, julgar sem se enxergar. A hipocrisia nos cega os olhos, tapa a boca e fecha as pernas. Você sabe das coisas que faz e, principalmente, das que gostaria de fazer se não tivesse tanto receio de ser descoberta. E por que esse receio? Bom, você não quer se tornar pública porque isso não é coisa de menina de família, não é?
“Ela mereceu que fossem publicadas!”
Como uma coisa liga à outra, justamente por conta do pensamento de que “mulher direita não se expõe, se omite” que atitudes de tremendo mau gosto e imaturas, diga-se de passagem, são levadas como uma punição justa. Gente, pelo amor de Deus, ninguém deve ser punido por sentir ou dar prazer. Ninguém deve ser punido porque enalteceram o normal e superestimaram a moral. Aliás, moral esta, que mais lhe serve como escudo do que como caminho ou escolha.
Eu não sei se a exposição foi consciente, mas geralmente as garotas fotografadas, filmadas ou simplesmente difamadas em rodas de amigos, nem sonham. Pior ainda é que lhes chegue aos ouvidos que foi justo, que ela mereceu. Quem mandou deixar? Quem mandou dar?
A verdade é que esse provinciano pensamento é, infelizmente, cíclico. Ou seja, o mesmo cara que se gaba por enviar fotos de mulheres que pegou, vai sentir na pele – e na cama – as consequências dessas ações. Um cara desse não merece meu respeito, honestamente. E a tendência é que as mulheres se tornem encubadas, retraídas, refém do medo da exposição. E o homens tornem-se mais superficiais, mesquinhos, reféns da soberba da comunicação.
Pra que fique claro, eu não envio fotos a desconhecidos porque naturalmente também tenho medo de ser exposta dessa forma, afinal, duvido e muito da capacidade de sigilo da maioria das pessoas. Mas quer eu queira, quer não, eu já me exponho quando escrevo meus contos eróticos, e sei o peso que tem. Contudo, eu vou defender até o fim que cada um se expresse sexualmente da forma que quiser. E pra quem quiser. Francamente, se não houvesse tanta condenação e hipócrita mordaça acerca do assunto, as pessoas simplesmente fariam tudo que lhes desse na telha entre quatro paredes. Os fetiches seriam vividos e não só fantasiados. Isso não é utopia, é o famoso “tomar conta da sua própria vida”.