A maioria das histórias que eu ouço começam com “estávamos ficando” e termina com “ele sumiu, do nada. Nenhum homem presta”. E eu sempre fico me perguntando POR QUE quem aparentemente some são os homens.
Vou exemplificar:
Você conhece um cara, ele tenta ficar contigo. Vocês não ficam, mas trocam contatos. Vocês passam a conversar e combinam de sair um dia. Vocês saem, vocês ficam. A não ser que ele tenha te composto um poema e recitado em público, te levado um buquê de rosas, te feito rir a noite inteira, te exposto seus planos de vida, te elogiado a toda hora, te contado alguns segredos e vocês tenham uma química carnal osgarmática-espiritual estratosférica, não foi nada demais.
E digo isso porque as chances de ser algo totalmente incrível e estarrecedor nos primeiros encontros são mínimas. Então, por favor, aqui sejamos racionais. Tenha em mente que tudo que você sabe sobre ele foram as coisas – que incluem a personalidade também – que ele deixou transparecer nos dias de conversa já visando te conquistar. Inconscientemente ou não mentiras ensaiadas pra soarem perfeitas. Veja bem, não digo isso pressupondo que todo homem seja mentiroso e toda mulher vítima. Muito pelo contrário, incluo as mulheres nessa. Ou seja, não adianta se dizer cem por cento íntegro nos primeiros contatos porque até a sua ideia de integridade é medida pelo o que PODE contar e DEVE omitir. Honestamente ninguém conhece alguém dizendo “Oi, sou Fulano. Tive um relacionamento de anos, mas terminou porque traí minha ex com a melhor amiga dela. Você gosta de batata?”.
Então, continuando: não foi nada demais, mas ambos gostaram da companhia um do outro e querem repetir. O que acontece agora? Há duas vertentes que se fundem facilmente tornando quase impossível o discernimento de suas diferenças: 1) a mulher não vai atrás por orgulho, 2) a mulher não vai atrás pra não se mostrar interessada demais. Claro que se falarmos da possibilidade dela ir atrás dele no dia seguinte não é preciso de entrelinhas pra dizer que ela está afim. Mas como isso corresponde a, sei lá, um por cento das mulheres não vou sequer entrar nesse quesito.
E daí, ela espera. Isso mesmo: espera. Espera que ele tenha gostado bastante dela, espera que tenha a achado bonita, magra e inteligente. Espera que tenha visto nela alguém pra namorar, espera que ligue, que mande notícias ou um sinal de fogo de que SIM, ELA FOI APROVADA, e vai ter direito a mais um encontro. Você pode pensar que espera porque é o papel do homem ir atrás, mas eu não encaro dessa forma. Acho que você espera porque não tem coragem de admitir que PODE ser rejeitada.
E quando ele vem atrás é aquela maravilha. Você mal pode esperar pra saírem de novo e de novo e de novo e de novo até que chegue ao ponto de que poderá pressiona-lo pra namorar. Ok, vamos supor que você não queira namorar, mas você quer que ele queira namorar contigo. É como as coisas funcionam, então, o resultado é o mesmo. Isso quer dizer que por receio de não estar dentre a categoria “garotas para namoro” segue à risca a regra dos X encontros antes de dar. Ou seja, esperar para dar é como se fosse um castigo por causa da conduta masculina, onde os justos pagam pelos pecadores. Mesmo aquele cara que não tem a ínfima mentalidade de que prazer tenha relação direta com caráter acaba sendo injustiçado pelas atitudes de seus conterrâneos. É a vida.
Um dia, quando decide que ele já fez pontos suficientes no seu placar mental do coito, você dá.
E espera.
Resumindo, se ele aparecer nos dias seguintes, ele ainda está interessado em você, ele presta, ele é um bom sujeito, ele é do bem, ele pode ser seu amigo, ele veio pra salvar a Terra, acabar com as guerras e resolver o problema da seca. Ele vai te levar à sério, vocês vão namorar, casar e ter dois filhos.
Se ele não aparecer, vulgarmente falando: ele só queria te comer.
Acontece que quem foi que pôs a peteca na mão dos homens? Por que o “futuro” da relação, digamos assim, depende das atitudes dele? Por que seu julgamento sobre si mesma, sua conduta e sua moral, dependem da forma como ele tratou?
Sabe, particularmente eu acho que existem homens que servem pra namorar e homens que não. Eu não espero de ambos a mesma consideração porque eu não acho que eles MEREÇAM a mesma vinda da minha parte.
A ligação que você espera no dia seguinte, VOCÊ DARIA?
Se você fosse aquela com o suposto dever social de “aparecer”, você apareceria pra TODO cara que já ficou na vida?
Gente, sinceramente, eu não. Uma das coisas que mais me assusta é pensar em tomar café da manhã com aquele cara. Quer dizer, pensa bem, em uma festa tomando alguns drinks, ou sei lá, em um ambiente mais descontraído é muito fácil se interessar por alguém ou até dar cabimento sem interesse (eu sei o que você faz, hein). Mas e no dia seguinte? Como se imaginar com aquela pessoa ao lado sem o pânico de pensar “onde é que eu estava com a cabeça?”
Pois é, existe o outro lado, sabia? Às vezes, você está tão preocupada em ser merecedora desse feedback positivo vindo dele – que eu acho que mais sirva pra se auto afirmar como pessoa – que não para pra pensar se ele também é alguém que ela gostaria de ter ao lado. Eu vejo muitas mulheres namorando por namorar, porque o cara quis. E também vejo muitos homens namorando porque querem estar namorando e acharam que Fulana era dessas que merecem o título. Sem qualquer sentimento envolvido em ambas as partes, os dois se dizem felizes com sua escolha. Vai entender…
Em outras palavras, esse conhecido chá de sumiço aplicado pelos homens só é nocivo a quem se vê como vítima. Honestamente, também não acho que seja o suficiente pra concentrar o peso do caráter dele associado aos méritos dela. Não entendo bem porque se admitir como alguém que “não quer nada sério agora e só quer curtir o momento” também te tacha como quem não presta, francamente. Logo, não entendo porque não há honestidade no início dos relacionamentos. Todo mundo quer estar entre os “prestáveis”, ainda que precise mentir, manipular, esconder, distorcer e qualquer outra artimanha utilizada pra esculpir a imagem de santo. O que eu vejo é uma porção de casais ocos, que seguem o fluxo, se acusando de seus deslizes e se esquecendo de que ninguém tem mais idade pra brincar de casinha, nem qualquer necessidade de viver em uma mentira.
Realidade utópica é aquela em que ela dá de primeira se quiser e isso não muda o interesse dele. É aquela em que ela liga no dia seguinte e o convida pra sair e não é vista como atirada. É aquela em que ela fala abertamente “olha, EU não quero nada sério, por favor pare de me ligar”. É aquela em que ela recusa o pedido de namoro porque não tem qualquer sentimento por ele e nem sente a necessidade de nutri-lo. É aquela em que ela não espera o interesse dele no dia seguinte porque isso não altera seu julgamento de si mesma. É aquela em que ele não vê precisão de dizer coisas que ela gostaria de ouvir com o intuito de leva-la pra cama. É aquela em que não existe, simplesmente, esse duelo de egos.
Sabe, talvez, eu ande dando uns conselhos errados por aí ao ouvir histórias como essa. Não me levem a mal, nem sempre consigo entender porque há tanto trabalho em se conquistar alguém e nenhum esforço em ser você mesmo.
Você não sabe a sorte que tem quando naturalmente se apaixona por alguém.
A questão principal é: falar a verdade se só quiser curtição, e não enganar a pessoa como se quisesse algo sério, sendo que só quer curtição.