Ela tinha alma no lugar dos olhos, constelações inteiras no rosto e borboletas orbitando seu sorriso. Vivia rodeada por incertezas, mas era cheia de sonhos feito criança.
Era poesia, mas não eram todos que sabiam lê-la, mas os poucos que conseguiam, se tornavam leitores assíduos das rimas que seu corpo fazia.
Algumas pessoas têm medo do escuro, outras de altura… Ela tinha medo de ficar sozinha. E por temer tanto a solidão, deixou de ser poesia e se conformou com as rimas pobres que os outros faziam.
Concordava com tudo e sorria para o nada. E a cada vez que suas borboletas eram ignoradas por ela mesma, ela ia deixando um pedacinho dela pelo caminho.
Até que, inevitavelmente, ela se viu sozinha. Não tinha ninguém e muito menos ela mesma. Sozinha, teve de se redescobrir e sair por ai juntando os pedaços dela que haviam se perdido.
Passou muito tempo desabitada e por passar tanto tempo assim, aprendeu a ser feliz daquele jeito mesmo, incompleta e sem ninguém por perto.
Aprendeu que algumas coisas poderiam sim, ser do jeito que ela queria, e que ninguém deveria tratá-la como se ela fosse menos que é. Porque se antes era poesia, agora é um romance inteiro.
Se antes ela era constelação, agora é sol.
E ilumina todos os caminhos por onde passa. Sua luz própria se tornou tão grande quanto seus sonhos.
E adivinhem só? Ela continua sozinha, mas continua sozinha porque ela quis assim.
Encontrou rimas tão bonitas quanto à dela pelo caminho, mas não conseguiu abrir mão da sua poesia de uma estrofe só.
Aprendeu a se bastar e o melhor de tudo é que ainda sorri para o nada e seu sorriso tem cada vez mais borboletas.
Poesia não enche barriga, eles continuam insistindo para ela. Mas mal sabem eles que a dela já está cheia. Cheia de sonhos e versos inacabados.