– Então, você não acredita no amor?
– É claro que acredito. O problema é esse: eu acredito que nada é mais forte, mais poderoso e mais transformador que o amor.
– Se é assim, como pode amar alguém e não o querer por perto?
– Porque quando eu amo dou tudo de mim, eu tomo seus medos como meus e decido enfrenta-los. Eu refaço meus planos pra que caibam aos seus. E, não importa o quanto de mim se perca, eu não me arrependo nem por um segundo. Porque nem a realização dos meus próprios sonhos, nem o mérito de minhas conquistas, é mais gratificante do que a plenitude da felicidade de quem eu amo.
– Acho que não entendi… Você não quer se sentir mais feliz pelo outro do que por si mesma?
– Não, eu não quero amar ninguém mais do que a mim.
– Mesmo que isso te faça feliz?
– Isso não pode me fazer feliz, não vê? Eu nem sequer existo nesse contexto! Eu me torno a sombra do amor que eu crio.
– Então você desiste…
– Não, eu seleciono.
– A quem amar? Mas não se aposta contra o coração…
– Por quem lutar.
– E como sabe quem vale a pena?
– Quando enxerga em mim que eu também valho. Mas não deixa de ser amor aquilo que também nos faz ir embora. Às vezes, não é uma questão de gostar ou não de alguém, mas gostar o suficiente de si mesmo pra saber se vale a pena insistir.
– Não dói mais assim? Sofrer com a separação e a distância pra terminar algo que mal começou?
– Às vezes, a gente tem que abrir mão de pessoas que nos fazem bem agora, e no instante seguinte nos maltratam de novo, por pessoas que façam bem a si mesmas e não precisam da gente. Essas são com as quais aprendemos a agregar, a partilhar sem se submeter.
– Então foi por falta de amor que você o deixou?
-Não, foi por excesso. Eu o amei tanto, mas tanto, que a única forma de descobrir como eu poderia ser feliz era estando longe dele, era sobrevivendo sem ele. Era me amando independente dele.
– Então você se arrepende por ter tentado por ele? Afinal, ele não valia tanto a pena assim, pelo visto.
– Não, mas prefiro as relações em que o sentimento tem tempo e espaço de se formar, de amadurecer e desabrochar. Por achar que eu precisava de alguém me esforçava muito pra entrar em corações que nunca me couberam. Nada acontece de repente, nada acontece por acaso. Algumas pessoas surgem em nossas vidas e partem sem cerimônia nos deixando decepcionados e bagunçados pra nos ensinar que continuamos inteiros. O único amor que não podemos ceder é o próprio.