Me desculpa por tudo que eu fiz, pela minha parcela de culpa por ter estragado o que tínhamos. E nem venha me dizer que não tínhamos nada porque nós não tínhamos nada sério, mas tínhamos algo. O problema foi porque eu levei um tempão para acreditar que esse algo existia. Na maioria das vezes, acreditava que era coisa da minha cabeça, que eu talvez estivesse sucumbindo à tentação que a loucura nos causa quando estamos nos envolvendo com alguém. Aliás, eu quis tanto me convencer de que conseguiria manter meu sentimento e minha vontade em níveis diferentes que me pus à prova. Sentia que precisava de fatos incontestáveis pra equilibrar minha razão e emoção.
Mas se isso fosse verdade, se nunca fomos nada um para o outro, se conseguimos ter sucesso em um relacionamento casual, então, por que nos magoamos? Por que sentimos que não tem sentido continuar se este sentido, de fato, nunca existiu? Por que sentimos necessidade de terminar algo sem que ao menos tenhamos começado? Afinal, quando você está com alguém por qualquer outro motivo que não seja gostar, você sabe que não sai machucado e se for consensual, então você não tem nada a perder. Mas a gente se sente cansado, desgastado. E eu sei que você vai dizer que não porque você deve me dizer isso, porque você talvez tenha ensaiado pra me dizer isso, mas você sabe que sim.
E que quer estar comigo. Apesar de tudo, mesmo você negando, você quer estar comigo, e é isso que te incomoda. O fato de que eu cheguei sem pedir licença e acampei na sua vida espalhando minhas tralhas, trazendo bagagens pesadas, impregnando teu lençol com meu cheiro e tuas noites com meus planos. E agora me recuso a sair. No fundo, a gente tem tanto medo de se envolver, de se apegar, do sofrimento em si que passamos a impedir que qualquer coisa boa comece para evitarmos seu fim.
Você não veio até a mim pra me dizer que não me quer, que não vai me dar outra chance. Você veio pra me ouvir te pedir pra ficar, implorar por teu perdão, por qualquer parte da tua mente que ainda possa me pertencer. Eu posso seguir em frente a qualquer momento, já fiz isso antes. Várias vezes. A diferença é que eu só posso te pedir isso agora, porque agora eu não tenho medo de ouvir “não”, mas amanhã isso pode me aterrorizar. E conforme os dias forem passando, eu sei que vou me distanciar dessa coragem, inclusive, dessa vontade de fazer algo. Talvez daqui há algum tempo eu sequer saiba os motivos que me levaram a insistir. Esse é o problema com a memória, ela é suscetível ao tempo e por isso a gente tende a acreditar que não gostou de verdade de alguém que já esqueceu.
Eu não podia te deixar passar sem tentar. E, quem sabe, talvez essa seja a última vez dos últimos “adeus”. Então, como eu poderia perder minha última chance? É complicado mesmo abrir mão do próprio orgulho para dar as mãos a alguém. Não parece certo, eu sei. Mas as pessoas que estão sendo felizes, nesse exato momento, decidiram por isso, e não pelo o que lhes parecia correto. Talvez não seja um bom conselho, mas se você parar um pouco pra pensar vai entender que o que importa é o quanto nossas escolhas nos tiram um fardo e nos dão felicidade. Estar certo é só uma questão de ponto de vista, e sempre podemos inventar um novo para justificar os fatos. Mas eu estou, sinceramente, cansada de repetir a mesma coisa. Já disse tantas vezes que gosto de ti que já nem sei que sentido atribuir a essa frase quando a ouço. Se o assunto for gostar, eu só vou falar de você. Acho que já fiz tudo que podia. Porque você sabe – você sempre soube – que eu te pediria pra ficar. E foi isso que você veio ouvir.