“E então, já está ficando com alguém?”, perguntei a um amigo meu, recém solteiro, sem mais delongas. Geralmente, para assuntos delicados – como um coração partido ou consulta ao SPC – assumo um tom formal como uma psicóloga lutando contra a ansiedade de avaliar se seus conselhos estão dando resultado (ou como eu imagino que uma psicóloga deva se sentir, na verdade).
“Sá, até estou. Mas não é como se eu estivesse, sabe?”
“Por que não se importa?”
“Porque sinto que não é a pessoa certa…”
Parei a conversa por aí. Esse discurso eu já conhecia. E como! Mas naquele momento, eu talvez tenha deixado escapar a minha chance de descontar – em um completo inocente, diga-se de passagem – a fúria que sentia dessa expressão. Como ele sabia que não era a pessoa certa? A pessoa certa por acaso vem embalada em uma fita com um manual de instruções de bom uso? É aquela que completa seus pensamentos em uníssono?
O que eu sentia era auto-piedade. Eu queria, sem nenhuma justificativa plausível, que alguém que eu amava se envolvesse com alguém que, talvez, o amasse, mesmo que não fosse recíproco. Eu queria isso por mim, e por todas as garotas que já foram desprezadas da mesma forma. Eu queria como uma vingança de relance mudar a história do amor não correspondido porque nós alimentamos uma tendência suicida de santificar um lado, em um duelo que claramente não existem vítimas.
A verdade é que quando nos relacionamos com alguém, seja na perversa e omissa intenção de torna-lo sério ou na inocência de “apenas curtir o momento”, estamos sujeitos a impassibilidade. A razão disso é óbvia: não temos controle sobre o sentimento alheio. Simples. Além do mais, as coisas têm a importância que você dá a elas, portanto, uma atitude – por menor que seja – pode ter um significado incrível para algumas pessoas e para outras passar despercebido. Não há sentido em vitimizar quem nutriu grandes expectativas, ou culpar quem não pôde superá-las. Eventualmente, você vai cativar algumas pessoas de graça, e outras vão te cativar. Da mesma forma que, às vezes, por mais que você se esforce, não vai se interessar por alguém com a mesma intensidade e vice e versa.
Paixão não é via de mão dupla. Deveria ser, mas a princípio não é. Sempre tem um mais esforçado, mais destemido. Alguém conquista e alguém é conquistado. Fato. Acontece que a pessoa certa não vai chegar pra você e avisar que vai mudar sua vida. Aliás, você pode levar até mais tempo do que gostaria para reconhece-la. Mas você nunca vai saber quem ela é se não der uma chance. Clichê? Claro que é, até porque, todo mundo gosta de um bom clichê no domingo. Encare isso como múltiplas possibilidades: ela pode ser quem você quiser que seja. Relacionamentos são construídos, e não contestados. Quem se apega a um ideal de perfeccionismo ou certeza, simplesmente, ainda não aprendeu que a melhor parte é fazer quem a gente ama feliz com um progresso.