Sempre me espanto quando me deparo com os paradigmas que uma mulher direita – mais conhecida como “mulher para namorar”- deve seguir. Gente, sério! Esses supostos manuscritos, no mínimo, foram encontrados nas cavernas a margem do Mar Morto que, se duvidar, na época estava vivíssimo e padeceu de depressão. Até já escrevi sobre isso graças a uma exaustiva pesquisa minuciosa de interesses masculinos. Foi uma fase horrível, confesso (minha terapeuta não me deixa mentir), mas colhi os frutos e hoje sei do que preciso. Eu quis dizer vodca, caso não tenha entendido.
De qualquer forma, esses dias, conversando com uma amiga toda essa história de mulher princesinha, bonitinha, certinha, veio à tona. A questão é: quer fazer um cara se apaixonar por você? Eu te ensino como.
1) Contenha-se.
No início, para que surja – ou, pelo menos, se evidencie o interesse dele – você tem que se fazer de desinteressada. Mesmo que as borboletas em seu estômago estejam em ritmo de Zumba, mesmo que seu coração dispare mais rápido que o Ligeirinho na insistência de lhe saltar pela boca. Mesmo que aguardar um ou dois minutos para responder uma mensagem dele seja tão torturante quanto uma maratona de Pablo na rádio. Mesmo que você esteja bêbada, de tpm, cansada ou tudo junto, você não pode deixar isso transparecer. Em outras palavras, tenha PHD na arte da indiferença ou seja Buda.
2) Bata e alise.
Confunda-o ora sendo meiguinha demais, ora apática demais. Ora carinhosa, ora calculista. Que mulheres são temperamentais e bipolares todo mundo já sabe, então, ele não vai se surpreender tanto assim com suas oscilações de humor. Na verdade, isso também pode lhe servir como um medidor de relacionamentos anteriores dele. Quer dizer, dependendo da forma como ele reagir você pode analisar se é a primeira vez que ele se depara com uma manipuladora descontrolada ou se ele é perito nesse assunto.
3) Pratique a falsa modéstia.
Sempre que possível exponha suas qualidades como se você não as percebesse, como se fossem um defeito. Por exemplo, na primeira oportunidade que tiver faça algo por ele voluntariamente que ele jamais teria coragem de lhe pedir. Sei lá, se ofereça para pesquisar um imóvel para que ele possa alugar, para resolver pendências burocráticas, até mesmo pegar a sobrinha dele no colégio ou a tia-avó no hospital. A vantagem é que além de você quase como por acidente já fazer parte da vida pessoal dele, você terá um argumento irrefutável de altruísmo forjado: a melhor de todas caridades. Ou seja, quando quiser que ele faça qualquer coisa por ti fale com uma voz meiguinha e, por acaso, toque no assunto do dia que moveu mundos e fundos para ajuda-lo. Mas não use isso como chantagem ou jogue lhe na cara. Aí que está o segredo. Você pode usar uma frase do tipo “Ah, você não pode? Não, tudo bem. Sem problemas. Acho que eu consigo mesmo fazer sozinha… Se naquele dia que eu fui no banco pagar suas contas, e peguei aquela fila gigante deu tempo, hoje vai dar, sim. Dou um jeito.” Entendeu como é que funciona? Não tem erro.
4) Faça um discurso.
Primeiro analise o que ele quer ouvir. Se é religioso, fale de deus. Se é fanático por futebol, fale de esportes. Se é cinéfilo, fale do quanto aprecia a arte, e assim vai. Basta observá-lo com os amigos, em seu habitat natural, entre as conversas de facebook, entre as legendas do instagram e os programas do final de semana que você tem como listar, pelo menos, três coisas que sejam do interesse dele e que você possa se aprofundar. Não estou dizendo que você deva fingir que gosta, mas você deve simplesmente se importar. Procurar saber do que se tratam e formar uma opinião sobre. Isso vai demonstrar que você tem uma posição, concordando ou não com a dele. Desmente aquela imagem de que mulher quando namora perde a personalidade. E, venhamos e convenhamos, a maioria dos homens desse tipo adoram ser o centro das atenções e falar de si e dos seus feitos.
5) Seja difícil.
Não aceite o convite de primeira, pense antes de responder, ponha obstáculos onde não tem. Exija uma boa e longa conversa antes, que se realmente estiver interessado tenha que provar em público. Não aceite convites tarde da noite ou que sejam do tipo “Vamos assistir um filme na minha casa?”. Se ele não quiser te expor, sabe-se lá porquê, mate-o na unha: NÃO SAIA. Por último, mas não menos importante, aquelas coisas que você já deve ter ouvido por aí: não beba demais (tampouco mais que ele), não use roupas muito vulgares ou se comporte de forma “dada”, não fale palavrão, não o envergonhe na frente dos amigos, não seja barraqueira, não seja curiosa demais, não o sufoque, não recuse sexo com desculpas esfarrapadas etc e tal.
Gente, posso confessar? Vomitei três vezes ao escrever esse texto, minhas entranhas pegaram fogo. Foi nível hardcore! Mas eu quero que você o leia em voz alta, leia para sua consciência, suas amigas de infância e seu diário.
Vale a pena fazer tudo isso por alguém? Até que ponto você está disposta a ser o que ele quer e abrir mão de ser você?
Voltando a conversa com minha amiga, o ponto alto não foi a premissa satisfatória que ela exibia de ser uma pessoa “como manda o figurino”, uma mulher direita, do que tipo que a maioria dos homens quer namorar. Mas o fato de que, pouco a pouco, nos acostumamos com a autoridade masculina sobre as nossas escolhas, sobre nossas vontades e, pior, achamos lindo. Quer dizer, um homem que não me aceitar com meu jeito desbocado, com minhas piadas ridículas, com meu cabelo assanhado, minha falta de maquiagem, minha constante aceitação por uma dose de tequila – e olhe que eu só estou falando de mim esteticamente – por que mereceria o aval para ser o MEU homem certo? Por que eu perderia meu tempo com alguém munido a conceitos tão provincianos?
Eu tenho amigas que estão dispostas a tudo para ficar com alguém, ter alguém. Porque para elas relacionamento é sinônimo de posse, de poder. E seguem à risca toda escritura milenar de falsa boa conduta a fim de serem compensadas no final com um amor que possam estampar nas redes sociais. Mas também tenho outras amigas que simplesmente SÃO assim sem que isso implique em serem dissimuladas ou manipuladoras. Quer dizer, é o jeito delas: não beber, não fumar e não foder.
A verdade é que cada um tem a quem merece. Então, não se desespere, nem se autoboicote porque o melhor que pode acontecer é você ter alguém apaixonado pela imagem que criou de você, e eventualmente decepcionado com as expectativas sobre você.
Cada novo relacionamento é um emaranhado de traumas, erros, tropeços e ilusões moldadas a fino trato dos relacionamentos anteriores. Todo mundo quer ser o acerto do qual foi erro no passado. E a iniciativa de ser alguém melhor ou pelo menos reconhecer suas próprias falhas é de longe a maior vantagem de se apaixonar outra vez. Mas, veja bem, se você insistir em estar com alguém que claramente não está na mesma página, não tem os mesmos planos, não tem as mesmas ideologias e, principalmente, não é capaz de respeitar – sem se achar apto a mudar – algo que discorde em você, em que universo essa pessoa pode ser o ideal para ti?
Enquanto a maioria das mulheres procura um espelho ao seu lado para refletir as qualidades que pensa ter, procure por uma escada. Por quem que vai te aceitar e aprender contigo a ser alguém melhor. Sem competitividade, mas principalmente sem rótulos.
Que texto bem escrito! Boa, garota! Mas o que acontece é que vivemos em uma sociedade patriarcal e ficamos períodos enormes sozinhas. É bom, confesso, mas sinto falta de poder crescer como pessoa ao lado de outra pessoa compatível. Também sinto falta de companhia boa, troca. Mas, fazer o que, né? Medíocres não dá.