O grande problema de quando o seu relacionamento não dá certo é que você começa a justificar a falta de interesse dele como consequência das suas próprias atitudes. E uma das mais sofridas fases do famoso “pé na bunda” é aquela em que se culpa por absolutamente tudo; arrepende-se das brigas por motivo algum, de ter deixado escapar o quanto detestava a mãe dele e até mesmo por puxar seu lençol à noite. O que você não é capaz de ver durante esses dias de martírio e sombra é que, na verdade, ele simplesmente não estava mais afim de você. É claro que um veredicto como esse só fica evidente depois que você se envolve com outro infeliz, faz o contrário do que fez no relacionamento anterior e ainda assim se lasca não dá certo. Tudo bem, nessa fase é até compreensível que culpe à deus e o diabo por ter nascido desse jeito que não sabe por que não se encaixa com jeito algum. E bastante plausível que tenha amigas, um punhado de chocolate e fortes doses de vodca pra que lhe façam ver que a vida é mais do que um babaca cara qualquer.
Mas a questão é: me diz se não tem horas que tudo que você deseja é um manual ou um machado afiado para saber lidar com aquela criatura? A árdua arte da conquista pode ser descrita como o paradoxo sacana e perfeito do namoro: quando a garota faz de tudo para não errar, se comporta, é sincera, se entrega, o final da história é sempre o mesmo. Quando menos se espera lá está aquela desgraçada, embriagada, chorando no colo das amigas enquanto o ordinário está ficando com uma, não, mas umas cinco na sua frente. Enquanto engasga no choro a vontade de xingá-lo até a quinta geração, ainda tem que aturar o fardo de simplesmente ter tentado ser uma boa pessoa para quem não valeu a pena. Nessas horas, até mesmo culpa os pais pela educação e se maldiz de seus princípios! O pensamento mais sincero é o que diz “Eu devia ter ficado com o amigo dele que deu em cima de mim quando tive a chance!”. Pronto, eis um monstro criado.
E se você pensa que essa é uma característica da mulher-sofredora-carente está mais do que enganado! Aquele cara que depois de tanto tempo na falsa procura de alguém, encontra quem “vale a pena” se aquietar, resolve fazer tudo direitinho e tenta ser o mais honesto possível na relação de um jeito que até sua própria mãe se admira, termina como? Bom, corno. O resultado disso é o que mais acontece hoje em dia: a boa menina perde “as estribeiras” e o rapaz bonzinho vira um traumatizado de primeira! Valeu, Deus. Está tudo errado!
Pisa e Alisa nada mais é do que fazer tudo na medida certa. Mas que diabos de medida seria essa?! Açúcar, tempero e tudo que há de bom? Muito pelo contrário! Pode se preparar para um forte transtorno de bipolaridade, seguido por um choque brutal de realidade e noites em claro de desespero. Mas isso já é bem comum pra quem está se apaixonando, não? Tenha em mente uma coisa: se você trata-lo bem demais, for carinhosa demais, ir atrás demais, ele vai fugir. É muito simples: homens quando começam a se envolver não estão sempre tão interessados quanto a mulher, ainda que ela seja a mais linda do universo, eles sempre tem uma “fase” de aprovação. Então, se ela demonstra que está anos luz na frente em relação a eles dois, ele vai se assustar, vai “dar pra trás”. Mas, veja bem, se ela pisar nele o tempo inteiro (mesmo que seja tudo fingimento), ele naturalmente vai pensar que não tem porque ficar perdendo seu tempo com alguém assim. Lembrem-se que homens são gênios do mal racionalmente criados pelo diabo, ou seja, eles sempre vão pensar antes de agir. Aqueles que não fazem isso, não só são a exceção, mas os otários em muitos casos. A solução para esse dilema de jogos em que os dois tentam se esconder e tornarem-se impassíveis a qualquer envolvimento é o dito Pisa e Alisa. Trate mal, trate bem, trate mal, trate bem. Louca, bipolar, estranha? Acostume-se. Preocupe-se quando ele lhe chamar de normal.
Para ser sincera, nada mais é do que uma inversão de papeis. É muito comum que a gente escute daquela garotinha apaixonada as histórias de 20 anos atrás em que ele fazia coisas surreais por ela e que ela nem sequer retribuía. Qual o segredo? Voltar a esse ponto de desprezo, mesmo que isso seja incrivelmente difícil para você que acorda e abre o whatsapp dele esperando que seja o primeiro “bom dia”. Aí que entra a frieza que a maioria das mulheres nasceu desprovida. Qualquer menor gesto de interesse dele, elas já se entregam. Depois não venham reclamar se, no final das contas, vocês sempre souberam o que devia ser feito e resolveram que ele “não merecia porque era diferente”. Ah, tá.
Eu não conseguiria listar todas as técnicas que existem de se enlaçar ou se desapegar de alguém, mas basicamente, partimos sempre da mesma história com personagens diferentes e hilariantes situações em que a aflição toma conta do indivíduo e ele age sem pensar ou, como gostam de culpar por aí, age por “amor”. Bem sabemos que não é verdade. Assim como também, venhamos e convenhamos, boa parte desse jogo não passa do próprio ego ferido. Ninguém quer sair por baixo; os que menos medem as consequências são os que mais perdem, naturalmente. Não que todos deveríamos ser calculistas e frios e premeditar todos os passos até se obter alguém; isso também está longe de ser saudável! E, à propósito, “obter” foi uma péssima escolha de palavra, apesar de ser a que melhor reproduz a ideia.
Uma pessoa não é um prêmio ou, pelo menos, não deveria ser. Honestamente, também não é uma conquista; é uma parte de você que encontra e que nem sabia ter perdido. É pura sintonia, afinidade, companheirismo. Egoísmo não tem vez em dois corpos que se permitem viver essa história. É sobre isso que deveria ser “se envolver”. Dar razão e fim a uma busca. Isto é, que fique claro que nem todos buscam a mesma coisa e, talvez, esse seja o maior empecilho da relação. Deixando de lado o lado ruim das consequências, se envolver sempre será um risco, um tiro no escuro mesmo para aquele que está cansada de saber exatamente o que deve fazer.
Cada pessoa é única e na teoria não deveríamos usar relacionamentos antigos para se basear na vida agora. Bom, na prática, a teoria é outra e no fundo só buscamos uma forma de amenizar a dor e de ter um amor mais tranquilo e menos complicado. Se parece que é algo que todos buscamos, porque então, ninguém segue à risca? Acontece que a resposta dessa pergunta que causou o Big Bang e como, quer queira quer não, hoje em dia temos muito mais festas, álcool e alguma maturidade, amar se tornou melhor, não? Viver para aprender, é o jeito.