Não sou fácil de agradar. Seguir o código de conduta moral dos relacionamentos comigo não vai torná-lo bom. Dispenso o cinema, o jantar e as flores. Tenho pavor ao certinho, ao que manda o figurino. Gosto de quem se põe à prova, quem não tem resposta pra tudo. Que bate de frente, eleva a discussão, que não desiste por teimosia, mas por prazer. Que não ignora suas próprias vontades, nem se faz refém de seus medos.
Sempre gostei das pessoas loucas.
Aquelas com as piores histórias, as mais remotas lembranças. As que confundem os dias, as falas e os nomes. Que não veem um copo meio cheio ou vazio, mas se veem através dele. Que não tem medo das más línguas e nem fazem questão de se aproximar de boas influencias, pois não receiam se arriscar. Se der errado, riem do próprio fracasso.
Os loucos nasceram livres porque não entendem o limite do normal ou do real. Vivem na corda bamba, sapateiam em cima do muro. Tem ideias absurdamente criativas e desejos secretos de mudar o mundo que não guardam pra si. Eles gritam, expõe, se doam. Equilibram-se entre a genialidade e a insanidade. Tão santos quanto pecadores, tão egoístas quanto altruístas.
Quem vier que questione minhas crenças, me faça truques de mágica. Que não me envergonhe em público ainda que eu mereça. Que me veja aos extremos, vermelha de raiva, eufórica, descabelada e com doces palavras me acalme. Que não perca seu tempo se comparando aos outros, nem conformado com o que tem. Seja do tipo que não enxerga barreiras, então, simplesmente faça.
Quem vier que me conheça no meu pior estado e ainda assim me queira. Alguém que eu não precise fingir postura, interesse, porque o que sabe de mim já lhe basta. Aquele que vai dar corda para as minhas mentiras, mergulhar nas minhas fantasias. Aquele que não vai me entediar na tarde de domingo, nem vai dormir na noite de sábado. Que nas pequenas e nas grandes coisas será espontâneo, autêntico e, não, como um modelo de revista.
Quem vier que viva no ponto mais alto da alma. Sempre pronto pra sua maior aventura ou seu pior pesadelo. Daqueles que encara os medos de frente, que não desvia dos problemas. Que aceita o fardo da dúvida e o peso do “não saber” quando lhe convém. Que está certo de que vai ser feliz um dia quando tudo chegar ao fim e por isso não tem pressa, faz sua bossa, vai com calma.
Não sou fácil de agradar, talvez porque, também não sou do tipo que agrado fácil. Deixo a seriedade de lado, prefiro viver o improvável. Quem vier, que venha por inteiro; não nasci para juntar os cacos de ninguém. Quem vier, que venha completo; não nasci pra ser metade de ninguém.