Sempre gostei de escrever, fato comprovado quando me lembrei da existência de um site para qual escrevia textos motivacionais há séculos. Benza Deus que ele não saiu do ar, assim como os sites de fotos da minha adolescência que se encarregaram de me fazer esquecê-la. Obrigada, internet.

Os textos à seguir foram escritos há cerca de 6, 7 anos e retratam a maneira exagerada, por vezes deturpada, de enxergar a vida. Vida esta que se restringia ao pequeno ciclo de relações, ambições até o amanhecer e sonhos de uma noite só. Um tempo que, sem dúvidas, deixou saudades.

Quando a alma grita.

Por toda minha vida procurei motivos pra gritar.

Gritar por socorro, em casa sozinha, gritar no meio da rua porque tropecei no calçamento, gritar “liga a sinaleira, seu imbecil!”, gritar de raiva pelo ônibus que acabou de sair assim que eu cheguei na parada, gritar por não ter chegado a tempo de fazer a inscrição, por ter perdido a sessão do cinema, pelo celular que descarregou justamente na hora daquela ligação importante.

À medida que o tempo passava, eu arranjava novos motivos pra gritar. Ninguém nunca me disse quando era hora de parar e eu continuei fazendo minha voz ser ouvida aos quatro cantos.

Mas o grito também responde. E te responde com teu próprio veneno: aos berros. E aquele alívio instantâneo que eu sentia ao extravasar qualquer emoção banal ou não, que se passasse mais na minha mente do que no meu coração, se extinguiu. E ficou apenas o eco, vago e seco. O som do grito repercutido e diminuindo, diminuindo. O vazio.

Daí, comecei a observar que essas minhas formas de grito me levavam sempre ao mesmo coeficiente. E que os dois caminhavam juntos. A cada passo que o grito vinha, o vazio o acompanhava, não me trazendo bem algum. Deixando-me perdida, vulnerável.

Observei que essa reação também refletia nas pessoas. Que todas elas precisavam gritar e gritavam com toda sua força, todos os dias, toda hora, sem se importar com quem ou o quê o grito tivesse afetando. Nem todas as pessoas puderam perceber o vazio. Talvez, quem sabe, o vazio realmente não estivesse para todas.

Passei a me calar. A odiar gritos. E o grito começou a me parecer intransigente. Quando é a hora certa de gritar? Haveria uma hora certa? E agora, a que horas eu ia exprimir minha raiva, minha dor, minha felicidade, minha surpresa?

As pessoas que não gritam têm que ter um jeito. Dediquei-me a descobrir qual.

No início foi difícil. Há pessoas gritando por toda parte, a toda hora, de todos os jeitos. Mas só o silêncio te dará a resposta. Mantive- em muda e foi quando eu pude ouvir. Ouvi o grito mais desesperado que já ouvira! O grito que instantaneamente me deixou perplexa, de boca aberta, de olhos vidrados, de coração palpitante.

O grito transcrito para livros. O grito dilacerado em palavras.

Esse é o grito mais forte. É protesto, é amor, é razão, é questionamento, é cômico. É o grito que vem da alma, é o grito que invade a alma. Pode ser composto de uma melodia, pode ser descrito em quadros. Mas nada como palavras limpas e secas, assim como o vazio.

Eu grito. E quer saber? Vou continuar gritando.

Mas meu grito não pode ser ouvido por ouvidos comuns. Tem que ter o dom porque eu grito para dentro de você, eu grito de dentro de mim. Eu grito em cores, eu grito em textos, eu grito em gestos.

Eu grito e você até quando vai se calar?

 

Desabafo.

Acho engraçado observar como as pessoas se comportam. Tanto em relação a elas mesmas; o que sentem, como se vestem, como se expressam, quanto em relação à outras pessoas; como se comportam na frente de outrem, principalmente quando é alguém que lhes estima, como falam perante alguém que lhes tem respeito. Enfim, acho interessante a natureza humana.

Mas o que eu mais me admiro, não é, de fato, me surpreender por não conhecer, mesmo depois de anos, alguém que convive comigo ou que eu podia jurar de pés juntos há 5 minutos atrás que era o que não é. Me admira não me conhecer nem por partes, tampouco por inteira. Me confrontar com meus próprios sentimentos. Vir à tona um misto de agonia, de dor, fantasia e prazer. Por muito tempo procurei uma palavra que pudesse designar tudo aquilo que não consigo explicar. Hoje em dia, ainda não há tenho, mas chamo esse estranho tremor nas minhas mãos, esse suar frio e acima de tudo, essa confusão mental que me afronta, de engraçado.

Engraçado porque não conheço a quem amo e não amo realmente quem eu talvez conheça. Em um minuto, tudo à minha volta vira cinzas. Todos os meu desejos se confundem, minhas ânsias se distorcem, meu coração se aperta. E eu que podia jurar perante a luz da primeira estrela no céu o meu amor infinito por tais criaturas ou por uma criatura, a tal, já não consigo lembrar quais motivos me levaram a isso. Já não acho explicação pra esse ardor no peito e penso que talvez nunca tenha existido tamanho amor, tamanha exatidão.

Terá você pecado em tuas palavras ou somente eu que pequei ao iludir meu coração sobre alguém, que talvez eu ainda não saiba quem, exista?

E todo carinho e todas palavras que antes pronunciei com delicadeza e todas as vezes que fiz teu nome soar como uma poesia dão lugar de repente ao maior e mais completo vazio. Completo por toda frieza dos meus pensamentos, por toda amargura dos meus devaneios.

E nesse momento, após um desabafo, não sei por quanto tempo, nem ao menos sei o quanto há de verdade no que digo, mas, nesse momento, com absoluta certeza, eu já não me importo mais. Contigo.

 

Solidão invertida.

Conversando com um amigo, cheguei a um impasse que me fez pensar o resto do dia. Se nós, humanos, conseguíssemos ser felizes por inteiro, sem a necessidade, dependência, carência de alguém. Quantos de nós optaria por estar com outro por amor. Puramente amor.

Eu não. O amor verdadeiro não seria mais o dito amor próprio. Seria o amor ao próximo, porque ele não derivaria da precisão, da obrigação, convivência. Seria o simples e puro amar por cuidado, proteção, carinho. Sabendo que sem o outro você é completamente e absolutamente feliz, mas com o outro você tem um gostinho a mais, um motivo a mais pra se dizer feliz. Seria um amor sem medidas.

Infelizmente, tal igual a mim, fico imaginando quantos não sentiriam esse amor. Eu digo isso porque nós, os solitários, passamos boa parte da vida nos convencendo que poderíamos viver sozinhos, sem a ajuda de ninguém. Mas sabemos que não podemos. Mas e se pudéssemos?

Será que ainda sentiríamos a mesma liberdade de um dia daqueles em que dedicamos ao nosso alter ego? Um dia que você acorda e diz: hoje o dia é meu! Vou fazer coisas pra mim! Particularmente, nesse dia, me compro um presente, me levo pra jantar fora, vou ao cinema e talvez, quem sabe, à alguma festa. Lembrando que faço tudo isso com minha melhor companhia, eu mesma. Ou então decido ir à praia. Curtir o sol, o mar, enfiar os dedos na areia, catar conchas no chão, comer muito e voltar pra casa com a paz invadindo minha alma.

Não sei se desfrutaria tão bem esses dias se eles fossem todos meu, todos iguais, todos os dias.

Apesar da minha solidão reconfortante, gosto do colo dos meus amigos, de deixar uma parte de mim e levar uma parte deles a cada encontro.

Gosto dessa dor no peito chamada saudade e saber que em algum lugar, algum dia eu vou encontrar alguém que vai necessitar tanto de mim quanto eu dele.

 

Caramba, diz aí se eu não era a Queen of The Drama Power. Meu deus, eu vivia regada à séries adolescentes, músicas depressivas, brigadeiros de panela e, provavelmente, meu problema ainda eram o mesmo de hoje em dia: ter tudo pra ser rica, menos o dinheiro. Como já dizia Chicó, ô vida maldita, vida sem jeito!

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