Com o tempo, aprendi a selecionar e classificar melhor os amigos que fiz. Ainda me considero demasiadamente sortuda porque muito mais gente ficou do que passou ao longo dos anos, mas mesmo assim, algumas rupturas me doeram tão profundamente como o término de um namoro. Isso porque tem amizades que são realmente tóxicas, nos envolvemos de tal forma que sequer sabemos lidar com a proporção em que afeta nossas vidas.
- Competitiva
Aquela amizade que não te elogia, mas só te puxa pra baixo procurando salientar seus defeitos. Aquela em que nos sentimos inseguras de contar algo bom que nos aconteceu porque tememos que a pessoa evidencie o lado ruim. Aquela em que nos sentimos constantemente ameaçados ao conversar sobre um paquera, por exemplo. Por que valeria a pena manter ao nosso lado alguém que sempre nos fizesse sentir perdedores? Quem nunca comemorou vitórias que não eram suas perdeu uma das melhores formas de se sentir feliz. Ninguém cresce sozinho, ninguém é tão autossuficiente que, algum dia, não chegue ao ponto de duvidar de si mesmo. A gente precisa de quem nos estimule, nos inspire, e não, quem nos queira apenas como parâmetro pra se sentir melhor consigo mesmo.
- Dependente
Já tive amizades que a nossa relação era tão depende quanto um casal de namorados nos primeiros meses. Dávamos satisfação de onde íamos, com quem, o que estávamos fazendo, a que horas fomos dormir e porque demoramos a responder sua mensagem. Sinceramente, está na cara que mesmo um casal jamais suportaria esse excesso de controle por muito tempo. Chega uma hora que nos sentimos saturados, sufocados. Uma amizade deve ser tua válvula de escape, que lhe faça sentir bem mesmo nos piores momentos, e não, agir como seu filho único. Não devemos viver em prol de ninguém, nem mesmo de nossos amores. A eternidade se concretiza em relações em que há harmonia, e não, dependência.
- Possessiva
Gente boa é quem agrega! Tem coisa melhor do que suas duas melhores amigas se tornarem melhores amigas uma da outra por sua causa? Tem coisa melhor do que se sentir completamente à vontade pra falar da sua própria vida (ou soltar uma fofoquinha) em um grupo em que há confiança mútua? Não somos donos de ninguém, quem dirá, de nossos amigos! Ter ciúmes ou nutrir o sentimento de posse sob alguém só faz mal pra nós mesmos. Não devemos incumbir os outros de preencher as lacunas de insegurança dentro da gente. E uma amizade não substitui a outra, independente da intensidade. Se já conquistamos o lugar no coração de alguém, nem o tempo pode afasta-la da gente.
- Individualista
Sou do tipo em que tudo que é meu, é nosso. Divido roupas, livros, sonhos e até escova de dente. Mas respeito que cada qual tenha seu espaço, nem todo mundo pensa e age como a gente e tudo bem quanto a isso. Às vezes, alguém que tem um certo egoísmo material tem um coração enorme em que sempre está pensando nos outros. Essa é a questão: amizade é também se pôr no lugar do outro. Não pensar só em si mesmo nas pequenas coisas. Buscar incessantemente fazer bem ao próximo tanto quanto a si mesmo. Quem faz isso de coração sequer enxerga como um esforço latente. Isso não quer dizer que se você pedir um determinado favor a alguém e ela negar é porque é egoísta, individualista ou mesquita. Nada disso. Você tem que reconhecer que cada um tem seus limites, cada qual dá o tem. O que devemos nos perguntar é se o que alguém nos oferece é aquilo que merecemos, afinal, em toda relação, mesmo de amizade, tem que haver reciprocidade.
- Interesseira
Gente que só te procura quando precisa, que só fala pra pedir favor, que a falsidade fica nítida. Quem precisa de pessoas assim por perto? Um bom amigo se alegra com suas conquistas e te conforta nas derrotas. Quem só aparece quando estamos em uma boa fase acaba por nos sugar. Existe amigo de festa, amigo com segundas intenções, amigo de trabalho… Pra ser franca, todo tipo de amizade tem um fundo de interesse porque aquela pessoa lhe despertou algo que você queira, afinal, você quer ter ao lado pessoas que lhe acrescentam. Tudo bem, isso é normal. Quando o nível de interesse é maior que o carinho e cuidado envolvido é que devemos nos perguntar se vale a pena fingir que seja amizade verdadeira. Por que nos esforçaríamos pra manter em nossas vidas quem só está presente quando lhe convém?
Quando a gente encontra com as pessoas que nos ensinam a rir diante da derrota, a se sentir bonita quando nossa autoestima está ouvindo Los Hermanos no fundo do poço, a se apaixonar de novo quando tudo que queremos é nos afagar na solidão, então a gente sabe, lá no fundo, que esperou a vida inteira por elas. Que toda falsidade no trajeto, toda confiança desperdiçada, foi um mero erro de diagnóstico que nos trouxeram até elas. E a gente agradece baixinho, quando deita à noite para dormir, o simples fato delas existirem. A gratidão é a base de todos os sentimentos. Se alguém lhe faz sentir grato também lhe inspira o amor, o respeito e a consideração. A gente precisa de quem precisa da gente e nos aceita por quem somos. Isso é o que traz paz de espírito.