Em 25 anos, eu aprendi que seguir em frente é a melhor e mais dolorosa alternativa. Que desistir não é uma escolha real, é como levantar uma bandeira branca e implorar por uma colher de chá da vida. Mas não é uma escolha. Você simplesmente não desiste, ainda que se sinta dilacerado pelo sofrimento, constipado de angústias… Você não desiste. Digo isso porque eu, sobretudo, desisti. De tudo que você puder imaginar, eu desisti. Inclusive, da própria vida; a minha e de quem mais se aproximasse de mim. Desisti até de desistir. Disse a mim mesma que era a última vez que eu ia desistir e que se, dessa vez, eu não desistisse pra valer, não haveria uma próxima tentativa. Nem eu me levo mais à sério. E, então, eu esperei que algo mudasse. Esperei que eu me sentisse mais aliviada ou salva, e percebi que tudo que pude sentir foi cansaço. Um cansaço avassalador tombando com todos os sentimentos que haviam pela frente. Arrastando saudades, amores, medos. Me deixando vazia aonde antes era um caos completo. E, daquele momento em diante, eu soube que nada mais seria igual. E não porque o universo se compadeceu por mim, não porque Deus acreditou que eu existo, não porque algo incrivelmente bom aconteceu. Nada disso. Mas porque eu tive que continuar, ainda que cada parte de mim não se aguentasse sozinha. Eu tive que pegar uma por uma e colar de qualquer jeito porque não tive tempo de cuidar dos cacos. Eu simplesmente tive que me recompor, independentemente do quanto isso me custasse ou do quanto de mim eu houvesse perdido. E me vi novamente pequena, como uma criança, tendo que aprender a viver. Começando do zero numa escala circular.
Já perdi pessoas por ser honesta e já perdi pessoas por omitir o que sentia. Ou seja, aprendi que as pessoas que permaneceram em minha vida não foram por escolha minha, e sim, delas. Às vezes, não há o que fazer quando alguém não quer ficar.
Aprendi que, cedo ou tarde, todo mundo enlouquece e cada qual a sua maneira. Eu enlouqueci cedo, poderia ser pior. Eu poderia ter levado a vida inteira pra conhecer minha loucura e sequer sei dizer o que seria capaz de fazer ao ter consciência disso muito tarde. Um possível apocalipse na Terra, suponho. No entanto, eu já fiz as pazes com ela. Em geral, ela me deixa seguir em paz, não se mete muito na minha rotina. Mas quando ela vem, eu vou. Todinha. Não sobra nada são em mim pra contar história. E ela sou eu, muitas vezes. E eu sou dela. Uma relação conturbada, assim como a vida em si. Quando eu escrevo sobre ela, ela dorme, me deixa quieta por fora, mas isso me agita por dentro. Às vezes, me deixa triste. Ou seja, quando ela ganha, eu perco e vice e versa. Mas ela está aqui, sempre esteve aqui. Está em tudo que eu faço e, às vezes, acredito que seja a melhor parte de mim.
Você não morre de saudade. Você pensa que vai, mas não vai. Eu sei disso melhor do que ninguém, vai por mim. Você vai acordar com saudade, vai almoçar com saudade, em teu dia inteiro a saudade vai gritar teu nome. Vai cansar de ter saudade. Vai sentir a saudade te rasgar por dentro e enxergar uma ferida aberta e latente no peito que ninguém mais vai poder ver, mas não vai morrer. E um dia, se você der sorte, pode acabar aprendendo a gostar. Às vezes, as cócegas que a saudade me faz me põe a rir de alegria por ter vivido aquilo que tanto me faz falta.
Aprendi sobre o amor tarde demais, eu já tinha certeza suficiente de que os relacionamentos que não falham são exceção à regra ao meu redor. Percebi que havia crescido em volta ao medo; medo de fracassar, medo de ser traída, medo de cair em tentação. Medo de me envolver. Verdade seja dita: amadurecemos à sombra da ditadura do perfeccionismo a dois e, eventualmente, esquecemos que tentar é a principal chave para o final feliz, mesmo quando este não acontece.
Quando penso sobre a vida que havia idealizado para mim aos 15 anos, me admiro que nada tenha acontecido como o planejado. Ainda não sei se deu certo, tampouco, o que devo fazer, mas cheguei à conclusão de que a maioria das pessoas (não importa a idade) também não sabe. Convicção do futuro é como uma aspiração infantil, meio tola. Não importa o quanto você se prepare, a vida vai dar um jeito de te surpreender.
Já me senti completamente desamparada, emboscada pela solidão, como se eu não merecesse ter alguém. E sofri por estar sozinha, depois sofri por estar rodeada de gente e continuar me sentindo só. E depois simplesmente sofri. Porque a solidão faz isso com a gente, eu acho. Até que possamos aceitá-la (o que não quer dizer que deveríamos viver sozinhos, mas sim, que deveríamos saber viver sozinhos, caso seja necessário) associamos que seja digna de pena, de martírio, de dor, e não, a maior prova de que nascemos inteiros e nos bastamos e que se não gostarmos da nossa própria companhia, ninguém irá gostar. Hoje, sinceramente, devo muito do que sou a quem ela me tornou. Aprendi a valorizar quem esteve ao meu lado quando nem eu mesma quis.
Eu já me arrependi tanto, mas tanto, tanto. Me arrependi por ter me precipitado ao concluir sentimentos e caráteres, por ter julgado tantas vezes que estar certa fosse melhor do que estar com quem se ama, por não ter dormido na vontade de fazer o que não devia. Por não ter amado nem um tiquinho uns e por ter me entregado de corpo e alma a outros. Por ter feito tudo que podia quando devia partir e por ter desistido quando eu só precisava ficar. Aprendi que nem sempre fiz as melhores escolhas, mas fiz tudo que meu coração mandou e isso basta pra que eu siga em paz.
A amizade com o passar do tempo se torna um funil. De todos os amigos que você fez ainda no colégio, os poucos que restam são aqueles que estão contigo em todas as fases da vida porque, acredito eu, não é qualquer semelhança da rotina ou dos planos que os fazem estar presentes, não é conveniência. É o puro amor de quem reconhece a si em outros, a família que escolhemos ter.
Já sofri dores indescritíveis e não desisti. Já amei sem ser correspondida e não me desesperei. Não importa qual seja o problema, você precisa ser resiliente: vai passar antes que possa perceber, desde que não se ache incapaz de conseguir.
Deu certo, sim. Se você riu junto, chorou ao lado, dormiu abraçado, agradeceu em silêncio: deu certo, sim. Mas tudo tem um tempo pra durar. Ao invés de prometer eternidade deveria propor consideração, assim, ao final de tudo, ainda haveria esperança pra recomeçar.
Só quem já abriu mão de alguém, quando seu próprio coração implorava pela sua presença, reconhece a coragem necessária pra não se deixar levar pelo apego. Temos que nos afastar de quem nos fere mais do que estimula.
Quando a gente ama simplesmente não consegue ser egoísta. A gente quer o bem do outro ainda mais que o nosso. Mas tudo tem limite. No fim das contas, se a gente não se ama o bastante se conforma com menos do que merece.
Apontar a culpa e reprimir desculpas são atitudes desnecessárias que desgastam a convivência, rompem os laços e nos impedem de seguir em frente. Assuma a responsabilidade por seus atos e sempre faça o possível pra reparar os danos. Por fim, torça pra que não seja o único a fazer sua parte.
Tem pessoas que constroem muros em volta de si pra impedir que outras se aproximem. Mas isso é só uma fachada enquanto acreditam e esperam por aquelas que vão entrar, remexer as coisas lá dentro e ter a coragem de permanecer.
Você pode superar, sim, e até esquecer uma desilusão. Só depende de você, do quanto se esforça. Não basta que apenas queira se não fizer nada porque vai doer e você vai pensar em desistir. Mas tem que agir como se fosse conseguir, mesmo que pareça impossível.
Decidi esquecer e lembrei a cada segundo com mais intensidade. Insisti em superar e, dia após dia, senti como se estivesse parada no tempo. Entendi, por fim, que já havia tentado o bastante, feito mais do que minha parte. Perdi a paciência com quem me fez perder tempo, com quem me perdeu o tempo todo, com quem culpou o tempo ao me perder. Falta de atitude gera falta de interesse.
Eu bem que tentei, de verdade. Cansei e, com isso, tirei um peso das minhas costas. O contrário do apego é a liberdade. Se você é capaz de reconhecer quando alguém não lhe faz mais bem, afaste-se. Não dê mais uma chance a quem desperdiçou o amor que você deu.
Se você fez algo que não gostaria de ter feito e isso de alguma forma te martiriza, então mude, se policie, corte alguns hábitos que não te levam a lugar nenhum. Assim como toda mudança é um processo e, assim como todo processo, o início é difícil. Mas se é pra que se sinta melhor, então faça. As pessoas vão te ver como você vê a si mesmo. Não deixe a culpa definir quem você é.
Não há mal nenhum em se afastar – ou sequer se aproximar – de quem não te acrescenta nada de positivo. Já quebrei muito a cara dando votos de confiança, mas hoje entendo que, às vezes, nem mesmo o tempo salva algumas pessoas de si mesmas.
Siga sua intuição, faça o que sentir que seja certo. Reciprocidade não é obrigação de ninguém, é uma questão de sintonia. O que não lhe custa nada, não custa nada mesmo. Lembre-se disso.
Superar, muitas vezes, é conviver com um vazio latente no peito que não se preenche com migalhas. Ou seja, não podemos dar espaço a quem não faz por onde ficar.
Eu quis por muito tempo – e até me esforcei por muito tempo também – me importar com todo tipo de gente, ver o lado bom em gente ruim por inteiro só pra acreditar que somos, no fundo, todos iguais: bons e ruins, sobretudo, merecedores de um voto de confiança ou um gesto de amor. Mudei de ideia. Tem gente que pra nós é completamente descartável, que só ocupa espaço em nossas vidas e, às vezes, ainda permitimos que faça morada em nosso peito. Não vale a pena, simples assim.
Amor não é prender e ser livre não é evitar se envolver. O problema está em separarmos duas forças que se completam: liberdade sem amor não compensa e amor sem liberdade não sobrevive.
Depois de um tempo, eu finalmente entendi que não precisava tagarelar ao lado de ninguém nem me esforçar em buscar assunto, ser engraçada ou interessante. Desaprendi a fazer sala a quem não me despertava nem um friozinho na barriga ao ver. Acontece que aquele fluxo constante de palavras nervosas soavam a desespero, não amizade. Amizade se trata do silêncio confortável que existe entre duas – ou mais – pessoas e, às vezes, chega a ser tão intenso que você se sente tão bem consigo mesmo que não filtra o que diz ou pensa. Ou fala em voz alta como se estivesse sozinho. Mas você não está. Amizade é isso.
Nunca estamos tão preparados para a renuncia quanto para a escolha. A gente só tem que decidir…e decide. E depois fica esperando alguma aprovação do universo de que fizemos a escolha certa, de que estava escrito. Ainda que o caminho seja tortuoso ou simplesmente curto ou nada do que esperamos. Mas aprendi que, contanto que tenhamos escolhido o que nosso coração mandou naquele momento, vai ser certo e vai dar certo. Isso não é sorte, é fazer acontecer.
Eu amei este texto. De quem é a autoria?
É meu mesmo. Da autora do blog. 🙂