Quando já não cabe mais. Quando o espaço está apertado para o tamanho que a pessoa ocupa. Quando as lágrimas são mais constantes do que os sorrisos. Quando tudo começa a pesar. É aí que é preciso entender que não há mais nada a ser feito. Que as tentativas se esgotaram, afinal, é impossível continuar tentando quando não há mais disposição e respeito.
Não digo aqui que você precisa desistir no primeiro obstáculo. Descartar a outra pessoa como quem descarta um lixo reciclável: quando não lhe serve mais, descarta na lixeira mais próxima. Não é pra deixar ir só porque ele gosta de salada e você, de bacon. Porque ele é de um signo que não é o par perfeito do seu. Não é por qualquer motivo que a gente vai sair descartando por aí.
No entanto, há de se considerar que o fim chegou quando há tanto peso em algo que deveria ser leve. Uma relação, seja ela qual for, deve vir para acrescentar, jamais para tirar o que há de belo. Quando, ao se olhar no espelho, não encontrar mais o brilho que lhe pertencia, é a hora de parar. De colocar um ponto final, quando, por vezes, você insiste em colocar vírgula.
É preciso se reconhecer em uma relação. Entender que você é um, antes de ser dois. No momento em que tudo começa a desandar, você tende a não se reconhecer mais. Os seus amigos agora são os amigos dele. Os programas são sempre os que ele escolhe. Você não sabe mais qual é a sua vontade, sem ser a vontade dele. Você tem se tornado uma massa amorfa, sem gosto, sem opinião e, principalmente, sem força.
Apesar da dor da separação, nesses casos, ela é a única saída para que você não acabe se separando de você mesma. Para resgatar a própria identidade, é preciso deixar ir. Com a partida do outro, a casa fica vazia, com toda aquele desordem e sujeira. Aí é o momento de tirar o tapete e revelar tudo que havia por baixo dele. De fazer uma faxina, eliminando o que te impede de se reencontrar.
Nessa limpeza, você acabará encontrando resquícios de identidade. O livro que você tanto gostava, os convites de um show antigo da sua banda preferida, as cartinhas dos amigos, o brinquedo preferido na infância. Você redescobre que havia um “eu”, antes de haver um “nós”. O brilho reaparece, depois de se manter ofuscado diante de tanta poeira.
É hora de tirar a poeira, lustrar o brilho e deixar a casa pronta para as futuras visitas. Elas virão para reforçar ainda mais a beleza do seu interior, jamais para escondê-la.
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