Eu escrevo e, nesse instante, escrevi sobre a angústia da solidão, esse desencontro de tantas vidas, e fiz isso pra me livrar da completa loucura que é acreditar que todo mundo mereça um grande amor. Para chamar de próprio, é claro. Mas eu não consegui pôr em palavras doces como é se apaixonar. Eu sei o porquê: tenho medo. Tenho pavor de tornar real algo que, até então, posso encarar como “coisa da minha cabeça”. Já mudei tanto de cidade, de ares, de pessoas, que tenho um receio danado de me perder em outros passos.
É culpa dos nossos vinte e poucos anos, eu acho. Nos achamos jovens demais pra esse cansaço da mente sobre o corpo, do contentamento sobre a ambição; nos cobramos o mundo. Ser perfeitos. Ou como é para a maioria, apenas aparentar que são. Mas nos achamos velhos demais pra apostar alto de novo, principalmente no que já foi gasto, feito, dito. Acho que o tempo nos faz covardes. Chega uma fase da nossa vida que simplesmente não fazemos mais amigos ou vivemos amores por conveniência, por semelhança, por comodidade. O relacionamento torna-se atemporal, não pertencendo a qualquer significado palpável. Você não mede em palavras, telefonemas, simpatias. E, infelizmente, é nesse meio termo que as pessoas se perdem. Se deixam perder. Porque, sinceramente, é bem mais fácil criar algo novo do que manter um antigo que já conhece suas desculpas, bate de frente com suas opiniões, reclama das suas manias e te avisa de teus deslizes. É mais fácil se adaptar a ideia de quem somos hoje do que aceitar quem fomos.
Coragem é persistência, manter-se firme, aguentar o tranco, seguir em frente. Honestamente, esse medo de não ser quem eu quero, de desistir, de ficar pra sempre à margem de mim mesma é também o que me motiva. Todo dia eu perco o ar, meu coração acelera e meu corpo fica dormente; eu vivo o medo, me ponho à prova. Insisto, persisto, resisto. Tem gente que passa a vida fingindo ser quem não é, e perde um valioso tempo que poderia gastar tentando chegar lá. Tem gente que é carcaça, conformada, medíocre. Conteúdo é um artigo de luxo em falta no mercado hoje em dia. Vai se destacar quem souber que a busca pelo verdadeiro amor vem de dentro.
Muitas vezes, o problema parte de dentro da gente. Independentemente do que você sinta, seja raiva, aflição, ciúmes, saudade e seja até amor, o segredo é se perguntar o que está havendo contigo para que isso aconteça. Nós temos a mania de culpar os outros e colocar em suas mãos as bagagens que viemos arrastando há tanto tempo. Ora acreditamos que qualquer novo personagem em nossa história veio pra ser protagonista, roubar a cena, arrancar suspiros e de tanto querermos que seja o que idealizamos nem pensamos duas vezes sobre o peso de nossas expectativas em suas costas. Outrora, responsabilizamos ELES pelo o que NÓS sentimos. Como se alguém pudesse controlar como o outro se sente ou como se a nossa forma de interpretar os fatos fosse não só a única verdade, mas aquela incumbida de nos fazer bem ou mal, entende?
Se você não estiver consciente de suas próprias emoções é bem provável que cobre excessivamente por recompensas ou esforços. E uma coisa eu lhe garanto: se você precisa se desdobrar pra entrar na vida de alguém, certamente, ali já não te cabe. Então ao invés de se martirizar na ânsia de provar seu valor, repense sobre si mesmo. Faz sentido culpar alguém por não suprir nossa insegurança? O ciúme, por exemplo, é o sentimento mais egoísta que existe; você o cria, o enaltece e ainda fica com raiva se alguém não puder compreendê-lo. Já o amor é o único capaz de voltar pra nós se pudermos doá-lo. No fim das contas, sentir pena de si mesma é uma questão de escolha.
Proteja sua essência, não se influencie pelo sentimento dos outros (principalmente os negativos). Apaixone-se todos os dias por si. Procure um trabalho que lhe preencha a mente e os planos. O que lhe custa apenas dinheiro não lhe vale de nada. Invista no seu tempo, e não em seu status. Não queira ser certa para ninguém, nem discuta com quem tem certeza, apenas respeite. Tire o melhor proveito até das piores situações. Interesse-se pelas aflições dos outros e canalize sua própria dor; ninguém tem a vida perfeita. Fale olhando nos olhos e prefira voz à mensagem. Por fim, seja grata. Vida que segue em frente. Enfrente.