Outro dia, uma amiga minha me disse que terminou – o que ainda nem havia de fato começado – com o cara que ela estava. Disse que ele não prestava, não levava ninguém a sério, que saía todos os finais de semana e, ainda, que tinha fama de estar sempre acompanhado. Mas dentre todas suas desculpas nem uma justificava o dito fim. Esperei que ela me convencesse, enumerasse os motivos, e tudo que eu vi foi uma menina dizendo que não gostava de jiló sem nunca ter comido. O nome disso era birra.
Isso acontece muito, sabe? Por medo de se machucar, a gente prefere acreditar que está cortando o mal pela raiz, e que se relacionar é um jogo em que você tem que se afastar enquanto está ganhando. Traçamos perfis, julgamos particularidades, e alimentamos uma massiva convicção de que existem dois tipos de pessoas: aquelas que amam e aquelas que usam. Até certo ponto, ter o pé atrás é simplesmente autodefesa, afinal, confiança é algo que precisa ser construída, não se entrega o coração de bandeja a um estranho. Por outro lado, acreditar que só homens que sempre estiveram comprometidos são “prestáveis” é o motivo pelo qual ainda há muita amante querendo ser titular.
Quebrei a cara algumas vezes até entender que se apaixonar não tem receita. Agir conforme manda o figurino de mulher direita não te garante um pedestal, tampouco se vingar limpa a consciência. Relacionamentos acontecem. Pessoas ficam umas com as outras por estética, poder, status, amor platônico. Mas, sobretudo, porque querem. No entanto, querer alguém não garante felicidade, mas ceder por alguém, sim. E, muitas vezes, a gente não quer se doar tanto quanto quer alguém por inteiro. Paixão é egoísta, amor é complacente.
Quanto a minha amiga, eu disse a ela que não via sentido em terminar com algo que lhe fazia bem, que suas aflições eram inventadas por sua mente ociosa demais por brincar de casinha. Que uma relação só se torna autodestrutiva se você permitir alojar o desrespeito, do contrário, acreditar que ela não tem futuro por não caminhar na velocidade dos seus passos é um sintoma de criança mimada. Que o tempo do amor é questionável, não podemos impô-lo a ninguém. Para alguns, um mês pode ser o início, para outros, uma mera introdução. Disse que até o pior dos tipos, eventualmente, irá se apaixonar, mas nunca vai ser por quem não arriscar junto a ele. E que era injusto qualifica-lo como namorado por suas atitudes como solteiro. Se não tem exclusividade, não pode ter rótulos.
Se envolver é se sujeitar ao erro, abraçar a possibilidade de ter seu coração despedaçado. Isso é normal. Você nunca vai conhecer alguém que amou sem sentir medo. Medo de não ser recíproco, medo de não ser aceito pela família, medo de não ser eterno e medo de ser esquecido. Todo mundo quer se sentir especial, diferente. Mas amor não é uma coisa que você pode pedir a alguém. Você nunca vai ter controle sob o sentimento alheio. Às vezes, o que nos parece babaquice não passa de uma muralha erguida sob os traumas. Estamos todos juntos nesse barco. Maturidade é dizer o que sente e agir como tal. Orgulhe-se disso, sabe? Seja mais corajoso do que a maioria. Se amar está difícil, viver sem amor é impossível.