Mal cheguei à crise dos 25 e percebi que algo muito pior me aguardava, sondava minha rotina e julgava meus gostos: os 30. De repente, toda minha vida se resume aos 5 anos que eu tenho pela frente pra obter sucesso em todos os aspectos, e não aos vinte e cinco ou, pra ser mais justa, aos dez em que eu considero que “acordei para a vida”, cujo os quais eu me reinventei diversas vezes sem me render à fúria da maré num bote de salva-vidas furado. Juro. Descobri que o purgatório é aqui e deixa um monte de gente do bem à beira de um ataque de nervos. Se já era difícil lidar com o desacordo dos ponteiros do meu relógio interno, imagina o que se tornou vê-lo zerar? Sim, zerar. Havia sido dada a largada e o dia após o meu aniversário se tornou o Dia Primeiro. A corrida era pra salvar minha própria vida do rótulo de fracasso.

E com isso veio a ansiedade, a síndrome do pensamento acelerado, os livros de autoajuda, os textos de autoajuda (inclusive, os que eu mesma escrevo pra ler no futuro), o peso da solidão, o fardo da academia, hormônios. Crises e mais crises. Sério, essa lista é infindável. Passei a me torturar com pensamentos de que tudo que eu fiz havia sido uma tremenda perda de tempo. E sabe por que eu achava isso? Porque eu ouvi ameaças desse tipo a vida inteira. E sabe do que mais? Você também ouviu. Independentemente de qual tenha sido sua criação e crença. Somos condicionados a acreditar que quanto mais cedo obtivermos êxito ou conquistas, em sua maioria, materiais, maior é a representação do nosso sucesso.

Afinal, o que todo mundo procura é estabilidade. Aliás, o que todo mundo precisa é estabilidade. É ter renda fixa, é se sustentar sozinho, é comprar carro, apartamento e encher uma adega de vinho. O que todo mundo precisa é fazer uma poupança, viajar para o exterior, abrir um seguro de vida no nascimento do primeiro filho. Porque, claro, tudo isso tem que acontecer paralelo ao seu amadurecimento emocional. Porque ter filho é uma questão de idade. Uma das minhas brincadeiras de infância era determinar a idade com que eu iria noivar, casar, ter filhos e até quanto tempo era necessário pra eu confiar e conhecer alguém o suficiente pra tal. Levei 14 anos pra descobrir que nem todo tempo do mundo é capaz de determinar isso. É uma questão de sintonia.

Todo mundo precisa casar. Ou querer casar. A pressão é ainda maior se você é uma mulher de classe média baixa: não tem outro jeito de vencer na vida, eles vão dizer. Já os homens, e vamos amenizar a situação culpando a diferença de maturidade que dizem existir entre um homem e uma mulher da mesma idade (mas é machismo, sim), tem alguns anos a mais de vantagem. No entanto, ao que me parece, o circulo vai se fechando pra eles com a chegada dos 40 (vou deixar essa crise pra outro texto). A questão é: isso é sucesso. Mas sucesso pra quem?

Eu e uma geração inteira que teve muitas oportunidades, não sofreu com tragédias militares, não sobreviveu a ditadura, enlouquecemos, literalmente. Antigamente, psicólogo e psiquiatra não só eram vistos como “médico pra gente doida” como artigos de luxo. Ia quem podia, e não quem queria, apesar da vergonha que isso representava. Hoje, são ícones de saúde e bem estar. A nova febre. Um conceito que, mais dia menos dia, vai eleger um representante, assim como, a Gabriela Pugliese se tornou a musa fitness. Mais dia menos dia, ser monge budista vai entrar na moda, garanto.

Isso é consequência e, embora eu concorde completamente com a necessidade de um acompanhamento psicológico a todo ser vivo (cachorros também sentem ansiedade, sabia?), não posso ignorar sua causa: estão cronometrando nossos passos.

Mas, calma, foi também aos 25 que decidi tomar as rédeas da minha vida. Pra encurtar a história, cheguei o mais próximo que já estive do fundo do poço e, pior, não senti vontade de sair. Eu me senti sem forças pra continuar essa corrida, nem mesmo a ideia de ser, milagrosamente, bem sucedida da noite pro dia me deixava entusiasmada. Eu, que já quis dar a volta mundo, só queria ficar quieta, poder assistir meus seriados sem me preocupar com as contas pra pagar, não me sentir culpada por gostar de sair aos fins de semana. E, então, percebi que não queria ser adulta, aliás, que não podia ser adulta. Eu não tinha condições de ser esse adulto que esperavam de mim.

Eu queria ser livre.

E foi o que eu fiz.

Quando se chega ao extremo de acreditar que a sua vida não vale tanto a pena assim porque alguém ao seu redor ou nas redes sociais conquistou o “sucesso”, você também passa a se perguntar se isso te faria feliz.

Por que se formar aos 23 é melhor do que aos 30, visto que você teve tempo o suficiente pra fazer uma escolha consciente de uma profissão que provavelmente irá seguir? Por que o modelo de completude é composto por duas metades e não uma pessoa só inteira? Por que você vai deixar que decidam por ti como deve ser a sua vida? O que diabos quer dizer estabilidade, afinal? Mente sã, corpo são ou uma gorda conta bancária?

Isso é o que eu chamo de inversão de valores; culpamos o tempo pela falha de um caminho em que sequer sabíamos a direção. Como eu disse, enlouquecemos.

Mas está tudo bem, te juro. Não que esteja tudo como eu gostaria que estivesse, como eu ainda acho que deve me fazer plena, mas agora eu vou sobreviver, sei disso. Não é o fim do mundo chegar aos 30 sem marido, sem filhos, sem estabilidade financeira, sem frequência na academia, contanto que se esteja feliz. E pode ficar feliz com o final da novela, sim. Pode ficar feliz porque seu time ganhou. Pode ficar feliz porque se está com o bronze em dia ou porque recebeu uma mensagem fofa de madrugada ou porque acertou a receita de arroz soltinho. O que não pode é achar que a sua vida tem prazo de validade. Só acaba aos 30 anos pra quem não sabe como encontrar sua paz a cada 24 horas. Mas uma coisa que ninguém pode fazer por ti é a sua parte.

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