Por favor, não me fale dele. Eu não quero ouvir onde esteve no final de semana, se continua correndo na orla ou se ainda mantém o cabelo comprido. Terminar um relacionamento é de dentro pra fora. Dói, e muito. No entanto, é uma guerrilha degenerativa. Com o passar dos dias, todo medo e apelo, toda surpresa e fraqueza, vão se dissipando, se fragmentando em memórias cada vez mais falhas. A cada vez que conto o ocorrido se torna mais difícil montar as peças, e o quebra-cabeça, antes tão bem cuidado, perde a graça. Falta encaixe, falta vontade.
É duro recorrer ao passado tão bem pintado para soar perfeito para justificar os declives desfeitos de uma conjugação plural. Até porque ninguém acredita que terminou. Insistem em trazer à tona as lembranças que um dia expus com tanto orgulho. Quer um bom conselho? Não cante vitória antes do tempo. Na melhor das hipóteses, todo romantismo forjado te apunhalará pelas costas, evidenciando o que foi perdido com uma pontada de admiração e despeito. Consolo em tom de voz esperançoso soa à pena.
Por favor, não me pergunte sobre ele. Eu segui em frente, e a prova disso é que seu nome não me traz nenhum conforto ou raiva. Qualquer descoberta sobre seu dia a dia é irrelevante. E, talvez, por algum tempo eu sequer consiga festejar por suas vitórias, antes, nossas. Por trás disso, é claro, alimento um passado visceral e passivo aguardando a hora certa de se apagar. Não vou fingir que nos restou amizade, quando nem mesmo um segredo foi poupado para nos proteger da dor. Ficamos de cara lavada, frente a frente, empunhando nossas roupas sujas como armas. E foi isso, sem mais, nem menos. Não sobrou de nós para nós nem o resto.
Paixão nada mais é do que uma infecção temporária. Contagiosa, perigosa, porém passageira. Fomos um para o outro um mero acaso, um surto no calendário que deveria ter durado dias, mas terminou em anos. Demorei um tempo para entender que nem todo degrau pode ser feito de topo. Por mais que eu insistisse em tornar insubstituível alguém especial não podia desafiar o destino. Algumas pessoas talvez surjam simplesmente para nos mudar, nos afetar. E o impacto se perpetue em efeito dominó nos relacionamentos seguintes. Ou seja, a mudança não foi por ela, mas devido a ela. Cedo ou tarde a gente aprende que não é a mesma coisa. Uma, nos faz ficar por perto, e outra, seguir adiante.
Por favor, aceite o nosso fim. O arrependimento cria vida própria se alimentado pelo apego. Às vezes, as razões que o coração se atém contradizem o bom senso, mas toda lição de moral é uma fábula sobre amores perfeitos: depois que passa, a gente pensa que nunca existiu. A compatibilidade de um casal depende da disposição, mas sobretudo, da coragem de dar um ponto final em quem não saiba viver na exclamação.