Antonieta não teve muita escolha. Aliás, bondade minha, porque Antonieta não teve foi escolha alguma. Nascida a mais bonita de sete filhas de um falido fazendeiro foi negociada assim como uma das cabeças de gado do seu pai. A diferença é que o gado de seu pai era premiado, sortudo, geralmente um bom negócio. Antonieta, não. Azar da pobre coitada.
Casou-se sem saber com quem, e sem entender direito o porquê, afinal, seus dezessete anos não lhe permitiam completo conhecimento do que acontecia. E, em seu leito de morte, seus 59 anos não lhe permitiram completo conhecimento do que perdia. Mas foi instruída pela mãe a fazer o que era certo; além de lavar, passar, cozer e cuidar da casa, lhe cabia ainda o dever de tirar a família do buraco. Os tempos eram difíceis e Antonieta foi vista como a salvadora, a última esperança. E quando falavam assim, a moça se enaltecia. Se sentia mesmo importante. Carregava nas costas o orgulho de ser aquela que mudaria a história, mas mal sabia ela que ser protagonista nessa cena só lhe fazia mais um fantoche.
Antonieta conheceu seu marido no altar, salvou sua família da crise e teve uma vida satisfeita. Ela nunca soube o que estava perdendo porque nunca lhe disseram, ela nunca imaginou que havia uma vida diferente da que tinham escolhido pra ela.
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Julia teve escolha. Quer dizer, lhe disseram que tinha. Ela poderia casar com quem quisesse, contanto que fosse um bom partido. É claro que esse bom partido deveria ser previamente escolhido por seus pais, instruído por seus padres, acolhido por seus recursos. Mas ela não seria obrigada a casar se não quisesse. Contanto que ela estivesse ciente que bons partidos estão cada vez mais difíceis e se lhe aparecesse um não seria muito esperto deixar escapar.
Mas Julia não era obrigada, é claro. Contanto que ela se lembrasse que outras mulheres também estavam buscando os mesmos bons partidos e se ela demorasse muito pra escolher alguma das outras poderia engravidar. Mas, assim, Julia podia tomar o tempo que quisesse, afinal, a escolha era dela, o casamento era dela, a vida era dela.
Ela não precisava se preocupar em dar estabilidade pra família com seu casamento; isso é coisa do passado! Contato que ela buscasse um bom partido que garantisse estabilidade a ela e se ela achasse que não fosse burra de perdê-lo. Mas, é claro, Julia não era obrigada, só se casaria se realmente quisesse.
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Mariana sempre deu trabalho. Acordava com um, dormia com outro. Às vezes, com outras. A família dela não tinha preconceito. Mariana podia fazer o que quisesse com quem quisesse, mas não no almoço de domingo. Não no Natal. Não na Páscoa. Não com a família reunida, aí não. É pura falta de respeito.
Um dia lhe foi concedida a graça de trazer para o jantar uma de suas amiguinhas. Mariana estava eufórica com a ideia até descobrir que naquela noite seria o primeiro beijo gay da novela brasileira e sua família, que não era preconceituosa, queria mesmo ter a cena ao vivo. Afinal, os tempos tinham mudado, e eles aceitavam.
Mariana apareceu com um belo rapaz e trocou carícias durante a noite toda pra irritar sua mãe visivelmente desapontada. Mas sua mãe, pra não sair por baixo, perguntou se Mariana gostava mais de mulher ou de homem, porque ela podia gostar de mulher, se quisesse. Inclusive, ela também podia trazer as reuniões de família, se quisesse. Mariana respondeu que sempre gostou mais de Maria do Bairro.
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Carol está solteira. Aos 32 anos, Carol ainda está solteira. Ela não se desespera, tem em mente seus valores – mas mente sobre seus amores. Ela diz que não vai casar por conveniência, nem vai passar a vida procurando um bom partido. Mas a família de Carol só tem pena dela: moça bonita, como assim não conseguiu segurar um homem? Carol lhes diz que, simplesmente, nunca tentou. Ninguém lhe entende e, por muitas vezes, sequer lhe escuta. Não entendem como Carol pode ser feliz se estiver sozinha.
Mas Carol é independente, abomina a ideia de que mulher é frágil e precisa ser protegida. Feminista assumida, não aceita que sequer lhe paguem a conta. Ela pode se casar com quem quiser, inclusive, consigo mesma. Ou com João, mesmo ele sendo um perrapado, longe de ser bom. Mas Carol não tem preconceito, não cria expectativas demais e nem julgamento. Ela vive uma época em que se contenta com o falso controle de sua vida e acredita, acima de tudo, na liberdade. Carol ainda crer que é amor o que sente por João, mas ironicamente mal sabe que ela que João ainda foge com o Carlos.