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Não duvido que seja verdade esse papo dela que já te esqueceu. Você precisa acreditar em si mesmo se quiser duvidar da força de uma paixão, sabe? É isso que ela faz: aguenta passar pela sua rua mesmo com as lembranças de todas as vezes em que fizeram do porteiro plateia para seu espetáculo de carinho e conflito. Ora, gritos com o dedo empunhado na cara, ora, beijos com o coração exposto na mão. Ela suporta a imensidão de uma cama de casal sem lados dispostos deitando-se na diagonal. Ela tira o telefone do gancho só pra não precisar atende-lo e descobrir que mais uma vez não era você. Ela acredita que mais vale compor um rio de lágrimas do que desembocar insegurança em cada onda de afeto.

Não imagino por quantas vezes ela tenha escondido que se importava demais. Que a solidão era tão devastadora ao ponto de se passar por saudade. Ou o quanto lhe pareceu óbvio que todas suas escolhas lhe fizessem cruzar seu caminho. Para ela, quando te conheceu, estava na cara que era você. Era você a razão de suas noites em claro aflita com a incerteza do futuro. Era você a angustia no peito que lhe invadia sempre que dizia “não” a outro rapaz. Era por você que ela guardava as coisas mais lindas que tinha e não desperdiçava seu amor com mais ninguém. Foi por você que ela aprendeu a esperar, e a enxergar a beleza de estar sozinha.

Agora você entende o que sua falta fez a ela? Ela não viveu nada parecido com isso, não teve sequer tempo. Ninguém lhe valia tanto a pena tentar de novo, nem mesmo você. Mas ela se martiriza pelo o que nunca teve, pelo o que passou a vida buscando e, às vezes, sente-se cansada de acreditar que exista. Como ela poderia saber o que encontrar depois de ter lhe perdido? Mesmo assim, ela sorri a cada despedida de sua lembrança. Apesar de tudo, ela sabe que a gente só sente saudade do que foi bom. E abusando da sorte, ela tenta te abandonar. Ela se despe das roupas impregnadas com seu cheiro, entorna o choro como cachaça a fim de virar seu mundo. Ela se desfaz em excesso e se refaz ao avesso para não deixar qualquer pista de que ainda te espera no peitoril da janela.

Não posso negar, ela é teimosa. Tanto que te quis e tanto que fez por te querer que gastou todas as fichas de credibilidade e carisma das quais tanto se orgulhava. Ela apostou tão alto em você que pagou até por si. Não vai ser mais a mesma, disso ela sabe. Mas não se importa nem um pouco. Ela está muito mais forte do que a última vez em que a viu. Ela emana a paz na consciência de quem segue dando o seu melhor. Ela tem o sorriso mais tranquilo do mundo, mas o coração marcado com pequenas farpas. Provavelmente, vai tornar sua pior briga uma piada e debochar da sua sanidade quando questionar sua saudade. Ela ri perdida no marasmo entre o medo e o apelo. Pode te querer de volta o quanto for, mas nunca mais do que a si mesma. Ela precisa se encontrar de novo em meio aos trejeitos que traz de ti.

Não duvido que seja verdade esse papo dela que já te esqueceu. Ela está convencida de que não era você. Talvez nunca tenha sido. Na próxima vez que a vir, por favor, não insista. Você teve sua chance. Aliás, várias vezes. E desperdiçou cada uma delas. Você conseguiu, você a venceu. Ela não acredita mais que precisa de alguém, sobretudo, não acredita que precisa de você. Talvez nunca tenha precisado. Mas lá no fundo, onde sua alma palpita a cada encontro, ela ainda tem esperança de que, um dia, vai dar de cara com quem a faça mudar de ideia. No fundo, ela torce para encontrar por quem valha a pena mudar de ideia.

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