Todo mundo tem alguém que não consegue dizer não. Aquela pessoa que, não importa o tempo que passar, ainda dá uma pontada certeira no peito que te deixa desnorteado. Aquela que pessoa que ao menor sinal de reaproximação já te deixa com a boca seca e o coração disparado. Você até que tenta pontuar o mais rápido possível porque não deram certo, mas só consegue pensar no quanto quer, lá no fundo, que ainda dê. E ainda idealiza fazer tudo pra isso mesmo que lhe falte coragem.

Estive com muitas pessoas em minha vida que nunca me deram certeza. Pessoas que escolheram a mim, que quiseram estar comigo – e eu quis estar com elas também, juro, você não sabe o quanto. Mas nunca me deram certeza. E, eventualmente, essas dúvidas falaram mais alto que minha força de vontade, que minha maneira racional de prever o que compensa, que minha mania de esperar demais dos outros, e eu passei a me questionar se elas realmente me mereciam. Não que eu fosse boa demais pra elas, pelo contrário. Em alguns casos, a sensação que eu tinha era uma constante incapacidade de fazer alguém feliz a altura. Tem de haver um equilíbrio que façam as atitudes e sentimentos soarem naturais, simples, ainda que não sejam por dentro, porque é isso que faz com que andemos na mesma velocidade, sem surpresas pelo caminho, nem ruas sem saída. Mas eu continuei tentando porque foi isso que eu aprendi a fazer: insistir. Aliás, é isso que eu ensino a fazer: se moldar. Foi bom, mas mesmo assim, foi em vão. Sei disso porque quando conheci uma certa pessoa, e eu nunca imaginaria que fosse a pessoa certa, eu entendi o que faltava nas outras e o que, como num passe de mágica, transbordava em mim.

Aquela pessoa que traduz a esperança e a insensatez num só sorriso. Aquela pessoa que você não consegue tirar da sua vida, que está na ponta da sua língua, que está afiada em sua memória, que você não só compara com todos seus relacionamentos, como também, das pessoas ao seu redor. Aquela pessoa que é teu parâmetro de certo e errado porque definiu sua lista mental de culpa e méritos. Porque depois dela você sabe o que faria diferente, porque antes dela você sequer sabia quem era. Todo mundo tem alguém que sempre vai mexer consigo. E que a gente fica achando, porque tem mania de romantizar os términos, que aquela pessoa seja o grande amor da nossa vida.

Mas isso está longe de ser uma coisa boa. Uma pessoa que te deixa com as pernas bambas e traz à tona tanto sentimento do passado não pode ser alguém que irá lhe fazer bem. É quem vai te lembrar das suas falhas, quem vai salientar seus defeitos, quem vai te fazer desacreditar que o amor consiga superar qualquer dificuldade. Simplesmente porque é com ela que você aprende que gostar não basta, que nem todo esforço é recompensado, que às vezes não se faz acontecer quando não é pra ser.

Certeza não é só uma escolha, não é só força de vontade, não é só esforço, é como um sexto sentido que não te deixa dúvidas de que vale a pena. De que já valeu a pena só por tê-la conhecido. De que valerá a pena mesmo depois do fim. É uma espécie de gratidão e um bocado de sorte. Porque é também o que a maioria das pessoas buscam, e não sabem, assim como eu não sabia, que pode existir alguém que a carregue tão seguramente que você nem sequer tema cair de cabeça. Ninguém merece estar com alguém que não lhe dá certeza que, lá no fundo, sabe que mais cedo ou mais tarde vai acabar.

Todo mundo tem alguém que não consegue dizer não. Mas tem que se afastar pra aprender a se permitir e descobrir que só pode ter o amor que aceitar receber. E não se contentar com tão pouco.

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