Vi meu ex com outra. Olhei bem pra ela, dos pés à cabeça. Pensei em como me via. Eu estava linda, sabia disso. Mas ela também. Quis sentir raiva, te juro. Procurei um defeito pra me apegar. Tentei pensar que ela estava me xingando mentalmente e isso me daria um motivo, mas não consegui. Não fazia o menor sentido. Eu sei que dividimos a mesma boca, a mesma cama, a mesma família. Mas será que dividimos a mesma alegria em nos verem? Será que ele conta as mesmas piadas a ela ou evita contar pra não ter a chance de lembrar de mim? Será que dividimos o peito dele ou só espaço pra uma? Acho que isso cria uma certa intimidade entre duas estranhas. Temos uma vida em comum que sequer é a nossa.

De repente, me vi desejando que ela tenha feito ele rir, que ela não tenha discutido sobre a toalha de chão desarrumada, que ela não tenha lhe magoado.

Quis sentir raiva, mas tudo que senti foi uma espécie de gratidão. Eu sentia saudades dele, mas não o queria de volta. Desejava de todo coração que ele estivesse bem. Eu sentia alívio por ter saído de um relacionamento que me puxava pra baixo. Estávamos desgastados demais. Eu precisava da chance de me resgatar, de acreditar que eu merecia ser feliz por inteiro, com alguém que não me deixasse dúvidas. Alguém por quem o esforço não parecesse um fardo, alguém que fizesse valer a pena. E isso só aconteceria quando eu decidisse seguir em frente, respeitando o passado que tivemos, mas sem deixar que isso me definisse. Eu não tinha porque sentir raiva dela. Não fazia sentido. Eu estava feliz demais com a esperança pulsando nas veias, com aquela plenitude de ter feito a escolha certa. Não tinha como eu me preocupar com os dois e tampouco com ela. Eu estava em paz.

Sentir saudades não é querer de volta. É sinal de que a relação foi boa, apesar de tudo. De que você ainda preserva os bons sentimentos, o desejo de que dê tudo certo na vida do outro. De que o amor sobrevive depois do fim como uma brisa suave que preenche as lacunas entre os dois, e não como uma explosiva atração. Amor é o querer bem. Mas, definitivamente, não é querer de volta. Se você gosta, você luta. Se você está apaixonado, você persiste. Mas se você ama, só quer ter paz interior.

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