Um dia desses pensei que a saudade fosse me matar. Ela me perseguiu a noite inteira como um predador insaciável. Acordei exausta, saturada de reviver essa história até em sonho. Mas resisti, e não te dei nenhuma pista de como me sentia. Por um lado, tive certeza de que não conseguiria fugir dela por muito tempo, já por outro lado, tive convicção que já havia escapado do pior. Seria uma questão de tempo me fazer esquecer, pois já não colecionava nenhum fardo seu. Eu me achava livre de ti, como um rato numa roda engaiolado se acha dono de si. Mas aí não sei o que te deu na cabeça e você veio atrás.

Se pudéssemos ser estranhos outra vez, eu não teria pressa, não te pressionaria a ser quem eu queria, mas quem você quisesse ser pra mim. Se pudéssemos ser estranhos outra vez, eu teria te alertado para não me testar, sou muito competitiva e o tiro sairia pela culatra. Eu teria te dito como você me faz sentir, e não fingido desinteresse. Se pudéssemos ser estranhos outra vez, eu acreditaria em recomeço, em segundas chances, em perdão. Mas não podemos, porque eu ainda lembro como terminou. Aliás, eu ainda lembro como começou.

Porque toda vez que eu olho pra você eu sei porque te amo, assim como, sei porque te odeio. Eu não consigo esquecer nem seu sorvete favorito. Eu mudei muito, você também, mas o sentimento, não. Ele ainda coleciona nossos beijos, ele ainda planta esperança por onde passa na fé que você colha em seguida. Se pudéssemos ser estranhos outra vez eu teria feito diferente. Mas não podemos.

Quando uma história termina mal acabada deixa lacunas em branco que preenchemos com nossas expectativas porque temos a sensação de que poderíamos ter feito mais. E cada vez que nos decepcionamos ou iludimos com as relações seguintes lembramos daquela, a que poderia não ter acabado, pra nos apegar e até nos culpar por não termos dado certo com os outros.

Imagina que quando você é criança tem seu desenho favorito. Naquela fase, tudo tem um tom diferente, encantador. Você cresce e continua achando que ama aquele desenho porque ele esteve presente em boa parte da sua vida, porque ele a fazia sentir bem, e sobretudo, porque ele acabou de uma hora pra outra. Mas se você chegar a assisti-lo de novo vai perceber que ele não tinha nada de especial, melhor ou diferentes do desenhos que passam hoje em dia. Ou de qualquer outro desenho. E você se desencantaria, se decepcionaria ou simplesmente cairia em si que ele só foi especial porque você se lembrava dele assim. E não porque, de fato, era especial de alguma forma, entende?

O que eu quero dizer é que quando a relação se estende por muito tempo tendemos a folclorizar as lembranças. O lado bom é ressaltado, a saudade aperta, a gente chega a esquecer porque nunca demos certo. E o fato de ter sido mal acabado, de ter deixado tanto espaço pra palpites sobre o porquê e o fim, é o que torna essa relação, no máximo, ímpar. Portanto, mesmo refém dessa saudade, eu sigo em frente. Vai que alguém planta amor no peito em que você pisou.
Se você quiser voltar a arriscar, arrisque. Você merece esse desfecho. Mas saiba que isso não é seu destino, é sua escolha. A partir do momento que você superar de vez essa história é que vai perceber que você que dava mais importância ao passado do que ele realmente teve.

 

5 respostas

  1. Gosto da Frase “SE PUDÉSSEMOS SER ESTRANHOS OUTRA VEZ”
    Ouvi no filme “Beleza Oculta”
    Para mim significa: encontrar a pessoa que ama e começar do zero, esquecer as mágoas bobas.
    E para começar do zero basta limpar e mandar embora padrões passados.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *